CAPÍTULO 28

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            Já era tarde, e a cafeteira estava ficando cada vez mais vazia. Na verdade, os poucos funcionários que restavam já limpavam e organizavam o local. Alguns deles me olhavam com impaciência, talvez esperando que eu me levantasse e fosse embora sem ser convidada. Então, para evitar qualquer constrangimento, peguei meu café e saí. De qualquer forma, já era hora de ir ao Sr. Thomson.
           Ao chegar na entrada do cassino, observei o ambiente. Algumas cadeiras já estavam sobre as mesas, o lugar sem clientes, e, aparentemente, nem o Sr. Thomson estava ali.
— O que pensa que está fazendo aí?
          Levei um pequeno susto ao ver Archie Stewart parado ao meu lado. Como ele tinha surgido tão silenciosamente?
— Você me assustou! — Revirei os olhos, deixando meu descontentamento evidente.
— Não me diga que vir aqui faz parte do seu “plano”. Você é tão óbvia, Hanna Clifford. Acha mesmo que vai conseguir informações neste cassino? Sabe o tipo de gente que frequenta esse lugar?
— Por que está me questionando desse jeito? É algum hobby seu me abordar só para me afrontar?
          Antes que pudéssemos continuar com essa nova rotina de brigas, vozes surgiram nos fundos do bar, e elas se aproximavam. Devia ser o dono do cassino. Pelo visto, o Sr. Thomson não estava tão sozinho assim.
          Rapidamente, puxei Archie pela mão e entrei com ele pela primeira porta que vi. Acabamos num pequeno depósito de limpeza, repleto de vassouras e produtos. O ambiente era apertado e escuro, e só consegui ver a expressão de indignação de Archie graças aos fracos feixes de luz que entravam ali. Eu realmente não tinha planejado arrastá-lo comigo, mas ele estava no lugar errado na hora errada.
— Hanna, você é maluca? Que ideia...
           Coloquei minha mão sobre a boca dele, impedindo-o de continuar. No impulso de querer escutar a conversa lá fora, aproximei meu ouvido da porta. E então ouvi:
— Vou garantir que ele não interfira em seus negócios.
— Espero mesmo que tenha algo em mente, ou... — A voz rouca e grave parecia a do Sr. Thomson. — Não quero ter que me humilhar para aquele homem novamente.
— Sim, Sr. Thomson. — O outro homem respondeu. — Mas, senhor, tenho mais uma coisa a dizer. Se alguém suspeito aparecer, saiba que tem uma garo...
           Inclinei-me mais um pouco para tentar escutar melhor e, sem querer, encostei em algo atrás de mim. Fechei os olhos, esperando pelo som inevitável do objeto caindo no chão, mas nada aconteceu. Alguém o segurou a tempo.
          Quando abri os olhos, dei de cara com o olhar profundo de Archie. Ele havia se inclinado e segurado o objeto. Estávamos tão próximos agora que percebi a intensidade de sua presença. Meu coração deu um salto, e de repente a frase “Eu vou me casar” ressoou na minha cabeça. Era impossível que isso não doesse.
          Percebi, então, que minha mão ainda estava na boca dele, e a retirei rapidamente, constrangida.
— Precisa ser mais cuidadosa. — Ele sussurrou.
— Por que você me seguiu? — Cochichei de volta. — E, aliás, como sabia que eu estava aqui?
— Na cafeteria, aquele dia... Uma amiga que trabalha lá me contou sobre uma cliente ruiva "viciada" em café que derramou café em mim. — Ele deu um sorriso de canto.
— Então você mandou alguém me seguir? — Rebati, com uma mistura de irritação e surpresa.
— Achei que você não estava só pelo café, então pedi para me avisarem quando te vissem de novo.
— E por que se importa com o que faço? Ou onde vou? Não foi você quem deixou bem claro que estava noivo?
— Sim, estou noivo. Mas isso não significa que eu consiga parar de me preocupar com você.
— Pela consideração dos velhos tempos? Eu não me lembro de você demonstrar essa consideração quando decidiu me culpar por algo que não foi minha culpa!
— Hanna, não vamos discutir agora...
— Ah, mas eu quero!
— Certo. Então me diga, por que tentou esconder quem era? VOCÊ começou essa confusão.
— Quem está aí? — Uma voz rouca ecoou do lado de fora, nos calando no mesmo instante. O dono da voz continuou: — Saia agora, ou eu mesmo vou tirá-los daí!
           Dessa vez, foi Archie quem colocou a mão sobre a minha boca. Senti meu coração disparar ainda mais, o calor da situação era quase palpável. Eu tinha certeza de que estava corada, mas pelo menos ele não poderia comentar nada.
— Droga... — Ele sussurrou. — Vamos sair, mas siga minha deixa, ok?
           Assenti, sem muitas alternativas.
           Ele rapidamente bagunçou o cabelo, desabotoou uns dois botões da camisa e, para minha completa surpresa, passou o polegar em minha boca, borrando meu batom. Depois, fez o mesmo em seguida, borrando o próprio rosto como o meu batom.
— Fique atrás de mim, vai dar certo. — Sussurrou, antes de abrir a porta.
          Do lado de fora, o homem nos aguardava segurando... Uma pá? Me esforcei para não parecer assustada.
— Me perdoe, senhor. — Archie disse, com a voz mais despojada. — Eu e minha namorada... Nos animamos um pouco, sabe?
          Não consegui disfarçar o choque, e soltei um sorriso amarelo quando ele passou o braço ao meu redor.
— Ah... é, hoje você tá feroz, hein, amor? — Falei, forçando o tom de uma adolescente despreocupada e... exagerada.
           Archie mal conteve uma risada ao ver meu “desempenho”. Aproveitei o embalo e puxei-o pelo colarinho:
— Vamos antes que a gente perca o "fogo", GRRR! ROAR! — Exagerei, e ele riu baixinho.
— É... Então, senhor, ouviu minha “tigresa”. Vamos, minha felina? — Ele falou, tentando manter a seriedade.
           Quando pensávamos estar livres, a voz do homem nos interrompeu novamente.
— Acham mesmo que eu vou cair nessa historinha fajuta? Foi ele quem mandou vocês?
— Ele? — Franzi a testa.
— Não se façam desentendimentos! Vocês estavam escutando tudo. Um dos meus capangas já notou a ruiva de olho no cassino. Aquele Dylan Clifford achou mesmo que eu não perceberia? Entra em contato recentemente e em seguida me manda capangas.
          Antes que eu percebesse, deixei escapar:
— Como conhece Dylan Clifford?
          Os olhos dele se arregalaram e, com um sorriso assustador, ele puxou do casaco uma caixinha que se revelou um canivete.
— Vocês invadiram minha propriedade. Se algo acontecer, eu agi em legítima defesa. Entenderam?
— Senhor, por favor, não queremos problemas. Podemos explicar. Só nos escu...
           Mas antes que Archie terminasse, o homem avançou. Archie se esquivou, mas o homem ainda parecia fora de controle.
          Sem pensar muito, peguei uma cadeira e acertei-o nas costas. Ele desabou no chão, desacordado.
          Nos entreolhamos, ambos surpresos e apavorados.

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