I don't want to leave you lonely

1.8K 154 272
                                    

sugestão de música :
lost on you - lewis capaldi




— O que? — Ele falou confuso levantando um pouco o corpo para olhar diretamente nos olhos dela.

— Você ouviu. — Ela se apoiou na mesa e o empurrou. Ele ainda estava deitado sobre ela. — Vai embora.

— Não tô entendendo. — Ele se afastou, ainda ofegante.

— Não tá entendendo o que? — Ela se levantou, ainda com a respiração pesada. — Que é pra ir embora? Quer que eu desenhe ou mostre a saída ? — Giovanna falou irritada, gesticulando.

— A gente acaba de fazer isso aqui. — Ele apontou para eles mesmo. — E você me manda embora? — Ele falou indignado.

— E o que você queria? Que eu te convidasse para um banho de banheira e depois dormíssemos de conchinha? — Ela alterou a voz ainda mais.

— Não agora, mas pelo menos a chance de me explic...

— Você teve a chance de ficar, e escolheu ir embora. — Ela o cortou.

— Giovanna...

— Nada mudou Alexandre. Não ache que porque você sabe como eu gosto, que tem livre acesso a mim quando bem entender. Arque com as consequências dos seus atos.

— Me deixa explicar...

— EXPLICAR O QUE? VAI FALA! EXPLICAR O QUE? — Ele se assustou um pouco, pois ela começou a gritar. — QUE VOCÊ NÃO QUER SE ENVOLVER COM UMA PUTA, QUE VOCÊ NÃO VAI DEIXAR SUA VIDA DE LADO? NÃO PRECISA! EU JÁ SEI DISSO TUDO, PORQUE EU JÁ ESCUTEI ISSO UMA VEZ! — Ela sentiu suas palavras falharem e os olhos marejarem.

Ela esbravejava e ele recuou ainda mais. Sua expressão era puro choque. Se sentia um merda por ouvir tudo aquilo, pois era exatamente o que sentia em relação a tudo, mas ninguém tinha dito tudo em alto e bom som, era como se naquele momento tudo havia se tornado real. E saber que ela já tinha passado por aquilo, o deixou pior ainda.

— Olha... — Ela respirou fundo, tentando não deixar se abalar e também tentando controlar as lágrimas. — Por favor, vai embora.

— Eu... — Ele tentou falar algo, mas tudo tinha acontecido tão rápido que não conseguia elaborar nada. — Eu preciso me explicar. — Ele insistiu novamente, com a única frase que conseguia dizer naquele momento.

— Você não precisa. — Ela falou olhando-o nos olhos. — Eu já sei quais são todas essas explicações e desculpas. Como eu disse, já escutei antes. — Respirou fundo novamente. — E não quero ouvi-las novamente. Só vai embora e me esquece.

Ele notou a expressão cansada e triste dela. Não conseguia falar nada. Queria abraçá-la, envolvê-la em seus braços e dizer que iria ficar tudo bem. Mas simplesmente ele não conseguia. Não conseguia se mover, não conseguia falar.

A viu se recompondo e buscando por um roupão que deixava em sua sala. Ele também buscou por suas roupas e começou a vesti-las. Nenhum dos dois dizia nada. A sala era um completo silêncio. Constrangedor e doloroso. Queriam muito dizer muitas coisas, mas não conseguiam. Simplesmente era muito para eles assimilarem.

Alexandre terminou de se vestir e ficou a encarando. Ela estava apoiada na mesa, de cabeça baixa e com a mão nos olhos. Ele teve vontade de ir até ela e a abraçar. Deu o primeiro passo, mas recuou. E num impulso ele tomou coragem de falar.

— Eu gosto de você. — Ele olhava para ela, mas ela mantinha a cabeça baixa.

Ela levantou a cabeça devagar, assimilando o que ele acabara de falar. O olhou com uma expressão triste, e um sorriso, que quase esboçava dor.

— E do que adianta? — Ela perguntou sinceramente, e ele arregalou os olhos.

Não estava esperando por essa resposta. Aliás, ele não estava esperando nem falar nada. Foi literalmente um impulso, nem ele mesmo entendeu como que aquelas palavras saíram de sua boca.

— Do que adianta, você gostar de mim e não poder, e não querer ficar? — Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

Ele deu um passo na direção dela, mas ela balançou a cabeça negativamente, implorando silenciosamente para ele não se aproximar. Seria ainda mais doloroso.

— Eu já sabia onde isso iria dar quando eu te permiti me tocar pela primeira vez. — Outra lágrima escapou de seus olhos. — Só por favor, eu tô implorando. Vai embora. — Ela cruzou os braços em volta de si mesma, se abraçando.

Alexandre balançou a cabeça positivamente e saiu. Foi a coisa mais dolorosa que teve que fazer. Ele queria ficar, mas sua luta interna falou mais alto, e a incerteza de suas próprias certeza ainda mais. Quando sentiu a porta se fechando atrás de si, ele fechou os olhos e sentiu as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, que logo se ruborizou.

Desceu rapidamente as escadas e passou voando pelo salão, sem ao menos dar chance de Rodrigo ou Rômulo falarem algo. Todos estavam esperançosos que os dois finalmente se acertassem, mas depois que viram o estado que ele saiu da sala dela, a preocupação tomou conta.

Ingrid rapidamente subiu as escadas em busca de Giovanna. Ela era a única a quem Giovanna tinha dado acesso à sala. Entrou rapidamente, depois de ouvir o barulho da tranca se abrindo. Sorriu ao ver o estado da mesa de Giovanna toda bagunçada, com papéis pelo chão. Procurou pela amiga, mas percebeu que ela havia usado a saída secreta. Provavelmente ela não queria falar com ninguém naquele momento, e com toda a certeza o plano que ela havia posto em prática, saiu pela culatra. Algo havia dado errado, e conhecendo Giovanna, ela precisaria de um tempo sozinha para se recompor.


*

Quando saiu da Secrets ainda o viu na calçada esperando o uber. Seu corpo inteiro ficou tenso, e a dor e a angústia que estava sentido deram lugar a uma onda de choro. Ela soluçava e tremia um pouco com as mãos no volante. Não acreditava que aquilo estava acontecendo novamente. Apaixonada por um cara que não iria ficar com ela. Permitiu-se entregar para ele, e muito antes de o beijar já sabia que estava apaixonada, o beijo só confirmou aquilo que ela mais temia.

Ficou ali o observando e também tentando se acalmar para poder dirigir. Notou o quão abatido ele também estava. Talvez ele também estivesse sentindo tudo aquilo que ela estava e não soubesse lidar. Talvez ele também tivesse se apaixonado por ela, de verdade. Era muito muito para assimilar em tão pouco tempo. E mesmo assim, mesmo que ele estivesse apaixonado, não iria ficar. Ninguém nunca ficou, e ele não seria o primeiro.

O viu entrando no uber e seguindo seu caminho. Giovanna estava mais calma e conseguiu dar partido no carro e ir para casa. Quando chegou em sua casa, mandou uma mensagem de texto para Ingrid avisando onde estava e que não gostaria de ser incomodada.

Tomou um banho quente rápido, afim de relaxar o corpo e tirar todos os resquícios daquela noite de si. Vestiu um pijama confortável e deitou-se. Puxou as cobertas sobre si, se encolhendo. Toda a angústia e dor voltaram como um soco em seu estômago. Em segundos todo seu travesseiro estava molhado, do tanto que ela chorava. Seria uma noite bem longa.

Secrets Where stories live. Discover now