Capítulo 24

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Não foi difícil Maria se sentir em casa, ela era tão bagunceira quanto todos ali, provocava os caras no mesmo nível, fofocava com as mulheres, brincava com as crianças até rolando no chão se necessário e nem precisava dizer que ser chamada a cozinha era como estar no seu próprio reino.

A tarde passou de forma rápida e pelo jeito Maria havia desistido da ideia de se esgueirar pela porta da frente, fugindo de ter que participar de um almoço em família.

- Vocês vão jogar futebol? - sua voz soou surpresa. - Motoqueiros jogando futebol?

- Ai! Essa magoou!

- Preconceito! - Kai gritou de onde estava perto do gol, apontando um dedo na direção dela, que ergueu as mãos em sinal de inocência ainda rindo.

- Hora de mostrar pra ela o que sabemos. - Brutos falou entrando com cara de quem ia jogar pra valer.

E foi o que fizemos jogamos com garra até que ficamos empatados, estávamos cansados já quando Denis deu uma entrada bruta e Kai foi pro chão se machucando.

- Eu não vou jogar. Seu puto, você quebrou meu pé! - gritou exagerando até de mais e já saindo do jogo.

- Mulherzinha. Tá exagerando seu fresco.

- Anda, vamos quem vai querer entrar no lugar?

- Que tal as mulherzinhas aqui? - Ana perguntou com convicção já tirando a jaqueta que usava e se preparando.

- Eu quero. - Maria afirmou, mas aquilo nem pareceu estranho, ela já era uma caixinha ambulante de surpresas.

- Que tal mostrarmos pra eles quem é mulherzinha aqui? - Laura entrou na brincadeira.

Não demorou para que o time estivesse formado, cinco de cada lado. Homens versos Mulheres.

- Ok, só pra deixar claro é vale tudo, mas isso não inclui as bolas. - Brutos foi o primeiro a falar - Isso é um entendimento entre homens, mas vocês me fazem desconfiar de tudo.

- Quer que a gente jure também, Brutos? - Ana questionou sorrindo e já tirando a bola dos pés do marido.

- Porque machucaríamos nosso playground? Onde vamos brincar se estiver quebrado? - Maria chegou junto dela e as duas bateram as mãos no ar sorrindo maliciosamente.

- Mas sempre podemos usar um bom vibrador, afinal quebrou comprou outro! - Laura afirmou arrancando gargalhadas e resposta afirmativa das outras.

Era uma união perigosa aquelas mulheres, em especial as três. Percebemos isso quando começaram a nos derrubar no jogo, não tinha a menor chance de machucá-las só que não era reciproco, elas tinham vindo preparadas para acabar com todos nós provando o ponto de não serem nada no diminutivo.

Já tinha visto algumas vezes Ana e Laura jogando, mas junto com Maria e as outras foram uma formação mortal, as mulheres jogaram em sincronia, cada passe, cada cortada. Quando uma derrubava um de nós a outra já estava com a bola no pé correndo em direção ao gol. Era jogo vencido.

Mas não me importei, especialmente quando Maria pulou em meu colo em comemoração quando tudo terminou.

- Homens lavam a louça! - declarou confiante antes de me beijar sem pressa.

Era um beijo inocente, mas com muito significado já que estávamos no meio da minha família, ela conhecendo parte tão intima da minha vida, sem falar que estava provando que seu ponto estava errado.

Ela tinha jurado que não ia deixar isso mudar para esse nível, queria manter as coisas o mais longe de sérias, mas em nenhum momento forçamos os encontros, tanto entre ela com minha mãe ou Will, muito menos esse com a família, tudo tinha acontecido naturalmente. Do mesmo jeito que foi e o dia que entrei naquele restaurante com o coração a mil, preocupado com a mulher que eu nem conhecia.

Nos sentamos em volta da mesa onde o chorão do Kai ainda reclamava do pé e aproveitamos para comer a sobremesa. Maria estava experimentando pela primeira vez a comida da dona Magda, nos outros dias não tinha deixado minha mãe nem chegar perto do fogão, mas hoje não teve jeito, a teimosia dela venceu e ela cozinhou.

Não era segredo que minha mãe vinha criando uma estima muito grande por ela, dona Magda tinha certeza que Maria era a mulher que mudaria tudo em minha vida e eu estava começando a achar que ela estava certa.

Só esperava que o universo não a tirasse de mim antes que eu pudesse me acostumar com aquela vida.

- Eu quero dormir. - estávamos relembrando nossos tempos de adolescentes os vexames em passar mal e ter ressaca braba no outro dia, quando a voz dengosa de Will invadiu a discussão calorosa.

Ele coçava os olhinhos com um bico do tamanho do mundo, mostrando que a tarde de bagunça o tinha esgotado suas energias.

- Vem querido. - Maria o chamou antes que qualquer um tivesse a chance de falar qualquer coisa e o pegou no colo. - Brincou muito? Que tal um leite quentinho?

Todos nós encaramos em silêncio enquanto ela levava meu filho para dentro de casa conversando sobre o dia e as brincadeiras.

Havia se tornado um ritual, sempre que ela estava por perto era para seus braços que ele corria quando queria dormir, eu já tinha deixado de me preocupar, pois sabia que ela se importava de mais com ele para quebrar seu coração.

- Ela vai colocar ele pra dormir? - Laura questionou surpresa que Will quisesse dormir com outra pessoa que não eu ou a avó.

- Ele prefere assim agora. Maria canta, faz um leite mágico e ele apaga. - confidenciei o ritual dos dois. - Eu tentei tirar ele do colo dela uma vez, falando que ele era pesado de mais e foi ela que me deu um esporro. Então deixei pra lá, é uma coisa só deles e Will adora.

- Leite mágico? Acho que vou pedir um pouco disso pra minha criança. - Ana disse rindo olhando para o filho com a corda toda ainda brincando.

- É alguma coisa com leite e mel, Will não gostava de mel, mas agora parece adorar.

- Ou ele só esteja gostando do conforto do colo dela. - Ana falou chamando minha atenção. - Sabe, colo de mãe.

- Não que tia Magda não faça um ótimo trabalho de mãe. - Denis correu para corrigir as palavras da mulher, mas eu entendia o que ela queria dizer.

Encarei o lugar por onde Maria tinha andado e avistei ela pela janela. Will estava no seu colo com a cabeça em seu ombro enquanto ela mexia o leite no fogão, podia quase ouvir ela cantarolando a música, que agora eu sabia ser Ainda Bem, a mesma que tinha ela cantou para ele na sua casa a primeira vez.

Era uma imagem tão doméstica e o mesmo tempo nova pra mim. Nesses quatro anos eu e minha mãe éramos as únicas pessoas que Will se deixava levar e pegar no sono, sempre entendi que não era frescura de criança, mas sim a falta de algo e a necessidade de se manter perto das mesmas pessoas.

Ele sentia falta de parte importante da vida dele a mãe, mesmo que nunca a tivesse conhecido. E isso tornou ainda mais difícil para ele se apegar, Will brincava, ria com todos, adorava conhecer pessoas, amava sua família cheia de tios malucos e seus primos barulhentos, mas se apegar a uma pessoa aquele ponto era de mais pra ele, o ato de confiar para adormecer nos braços não era algo que ele tivesse conseguido.

Até ela chegar e mudar tudo. Aquilo era o que eu tinha imaginado que aconteceria com Luna e já tinha sofrido de mais com tudo o que perdi, havia me conformado que nunca teríamos isso, até que Maria entrou nas nossas vidas.

Eu estava tão feliz com ela em nossas vidas que não queria pensar em uma realidade onde as coisas fossem diferentes.

Amor de Motoqueiro - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora