Capítulo 12

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Não perdi um minuto, peguei as chaves já pulando da cadeira.
- Onde você vai? - ouvi alguém gritar atrás de mim e o pensamento que se formou em minha mente foi:
- Maria precisa de mim!
Não ousei pronunciar aquilo em voz alta, mas deixei que as palavras assentassem em meu cérebro e talvez até se aconchegassem, enquanto eu visualizava seu rosto machucado como no outro dia e mesmo assim a boca esperta pronta pra me fazer rir e os olhos brilhantes em minha direção.
Voei nas ruas e quando cheguei na rua avistei de longe a viatura e o tumultuo na porta do Cantina da Nena. Estacionei de mau jeito em frente ao bar e corri abrindo caminho entre as pessoas.
Meus olhos já estavam sobre ela antes mesmo que eu a alcançasse, esquadrinhando procurando por machucados, quando a alcancei a envolvi em meu braço direito e beijei seus cabelos.
Foi como se aquele movimento fosse a coisa mais comum para nós, e não como se fossemos duas pessoas que compartilharam alguns momentos, bem intensos, mas poucos. Meu corpo tinha ido no automático, pareceu fazer sentido quando senti o cheiro de seus cabelos e seu corpo contra o meu, isso fez meu coração se acalmar no peito.
Ela subiu na moto depois que apertei seu capacete, os braços circulando minha cintura antes mesmo que saíssemos do lugar. Paramos na delegacia e eu me dei conta que não fazia ideia do motivo que a tinha levado ali.
Ela se aproximou do balcão principal e eu estava ao seu lado atento ao que ia falar.
- Eu quero fazer uma denúncia de injúria racial. Sofrida por mim vinda de clientes no meu próprio restaurante. - sua voz saiu firme e ela ergueu levemente o queixo mostrando o quanto estava determinada em continuar.
Eu pisquei duas vezes mais rápido tentando entender o que tinha acontecido enquanto ela informava o ocorrido e preenchia o que era necessário. Não consegui falar nada, minha mente ainda processava as palavras que ela tinha dito ao policial. Quando saímos atei o capacete a sua cabeça e segui direto para sua casa.
Minha mente parecia perdida em um loop onde seu queixo tremia e ela apertava a mão mais forte uma contra a outra, se forçando a não chorar, enquanto repetia as palavras: "nunca deveriam ter saído da senzala." "Você me da nojo sua negrinha." "O lugar de vocês é na sarjeta."
Infelizmente racismo era algo muito frequente e mesmo em um país tão cheio de misturas como Brasil, era algo que continuava a se perpetuar pelas gerações. Mas ver Maria falar daquela forma e visualizar as imagens em minha cabeça era bem diferente.
- Quer entrar? - ela perguntou ainda abraçada as minhas costas quando parei na entrada da sua casa.
Segurei sua mão e a ajudei a descer, me juntando a ela na calçada, não tinha respondido seu convite, mas andar com ela pareceu fazê-la entender que a resposta era sim.
Quando pisei na sala me dei conta que fazia poucas horas que eu tinha saído dali, mas a nossa bagunça ainda estava a vista, o sofá ainda estava deitado em forma de cama, havia um livrinho de Will jogado no enorme pufe no canto da sala.
Ela não tinha tido tempo de arrumar nada antes de correr para o trabalho, e quando chegou lá ainda teve um dia de terrível, sendo humilhada e insultada.
- Eu...
- Quer um café? - ela me interrompeu já jogando os sapatos de lado e indo em direção a cozinha.
Não tive nem a oportunidade de responder, Maria já estava colocando a xícara na mesa e pegando a garrafa de café. Ela se sentou do outro lado da bancada esperando que eu fizesse o mesmo, ainda sem dizer nada me estendeu o celular com uma mensagem e me indicou para abrir o vídeo.
Demorei a me localizar nas imagens, pelo ângulo havia duas pessoas discutindo com outra, as vozes um tanto exaltadas, então reconheci uma das vozes como da mulher a minha frente. Ela gritava exigindo que saíssem do lugar e as ofensas continuaram, antes que o casal saísse e a discussão continuasse na rua, a polícia chegou e não muito tempo depois eu apareci. Só ai a gravação parou.
Assim que soltei o celular na mesa Maria me empurrou a xícara já bebericando o seu, mas ao invés de pegar eu segurei sua mão entre as minhas.
- Eu não sei nem o que dizer depois disso... já estava engasgado desde que ouvi da sua boca na delegacia e agora... - Maria continuou me encarando como se eu não tivesse dito nada, sua descontração habitual não estava presente nesse momento. - Estou aqui para o que precisar...
- Não preciso de mais um branco sendo solidário comigo por pena, não preciso da pena de ninguém, especialmente não nesse momento. - aquilo me acertou como um tapa, eu não estava com pena dela, muito longe disso.
- Eu...
- A única coisa que quero é saber o que você pensa sobre isso, mas tente deixar de fora sua vontade de me comer e seja sincero. - ela atacou novamente.
Entendia sua raiva, não acredito que as pessoas ficariam tranquilas depois de passar por aquilo, eu sei que minha natureza me impedia de ser centrado como ela, com certeza teria partido para porrada, sem dar a chance de uma segunda palavra daqueles dois. Terminaríamos todos presos com toda certeza. Mas seu ataque de certa forma me atingiu em cheio.
- Eu não... escuta eu não tenho pena de você. Muito pelo contrário, sei que você tem mais coragem e força de enfrentar aquilo do que as pessoas podem pensar! Você enfrentou dois bandidos armados...
- Três. - ela me interrompeu corrigindo e arrancando um sorriso dos meus lábios.
- Viu só, um casal de preconceituosos, racistas e misóginos é fichinha pra você. - tirei minha mão que estava sobre a dela e me afastei. - E você podia ser a porra de um homem, uma criança ou senhorinha de idade... ou qualquer outro grupo que não me atraí sexualmente e meu discurso seria o mesmo: não tolero racismo! Não tolero preconceito de nenhum tipo! - encarei seu rosto com a boca levemente aberta e os olhos voltando a brilhar. - Mas não vou mentir e dizer que saber desse episódio em especial com você não me deixou puto, porque deixou e muito. Minha vontade era de ir lá e fazer o desgraçado catar os dentes do chão, que é o lugar daquele verme! - que porra era aquela? Eu tinha praticamente rosnado?
- Você sabe que esse não foi o primeiro, não é? E nem vai ser o último - eu concordei, era um fato muito infeliz, mas um fato que não podíamos negar. Existia todo o tipo de pessoa escrota espalhada por aí. - Não dá pra você sair batendo em todo mundo.
- Eu posso tentar. - murmurei contrariado e o sorriso se alargou no rosto dela, voltando a se iluminar como sempre, trazendo a leveza até mesmo a sua postura.
- Sabe, se quer me ajudar tem outro jeito. - Maria se levantou devagar, contornando a bancada como uma felina sexy, ainda usava sua roupa de trabalho aquela, que parecia uma camisa cheia de botões, no caso a de hoje era toda colorida, contrastando com a calça preta lisa. Ela caminhou devagar, balançando o quadril pra lá e pra cá a cada passo, até parar diante de mim. As mãos quentes de Maria deslizaram por minha jaqueta, abrindo o zíper e descobrindo que eu não usava nada em baixo. - Bem, você já veio preparado, não é herói tatuado?
- Você ainda não me explicou esse apelido e se me lembro bem tinha outro na noite passada. - murmurei com a voz saindo grossa diante de seus carinhos delicados sobre minha pele, até que ela puxou a jaqueta com brusquidão usando a força para me puxar contra ela.
- Posso te dar mais um milhão de apelidos se você for um bom menino. - a voz dela soou manhosa e sedutora, a mulher sabia bem o que queria e estava indo buscar. Ela soltou o tecido embolado nos meus pulsos e contornou minhas costas, subindo por meus ombros, as pontas dos dedos deslizando leve por meu peito e me causando arrepios, descendo até o cós da calça. - Vamos tomar um banho.
Maria enfiou a mão dentro da minha calça sem nenhum aviso e segurando firme no cós da minha cueca ela me puxou em direção ao banheiro.
Aquela força da natureza em forma de mulher estava me deixando louco, sabia o que fazer exatamente para me tirar do sério. E eu não podia reclamar e dizer que não estava adorando porque era pura mentira, eu estava me sentindo mais feliz que pinto no céu, porque com certeza era aonde Maria ia me levar.

Amor de Motoqueiro - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora