Capítulo 30

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Will estava correndo na grama brincando com o cachorrinho que encontramos na entrada do parque, todo sujo e assustado o filhotinho ganhou o coração de nós três, agora os dois rolavam na grama e corriam como se fossem amigos inseparáveis.

- Miguel vai enlouquecer quando ver o cachorrinho. Ele sempre negou um ao filho, disse que Will só ganharia um cachorrinho quando soubesse limpar a bagunça.

- Agora ele vai ter que engolir. - sorri ainda encarando o menino correndo e gargalhando. - Meu pai também nunca me deixou ter um e depois que fui morar sozinha não tinha tempo de cuidar nem de uma planta.

- Não duvido que ele vá aceitar com um sorriso no rosto, não tem nada que você peça com um sorriso que ele não vá correndo fazer. - ela falou com uma voz tão emocionada que eu voltei meu olhar para ela no mesmo instante. - Você veio mesmo pra mudar aquela cabeça dura.

Se ela soubesse que não era só com ele, Miguel tinha esse mesmo efeito sobre mim, eu fazia qualquer coisa para ele sorrindo.

- Mamãe, me da uma tota! - Will veio gritando e por um instante eu achei que ele estivesse falando com a vó, até que o pequeno estendeu a mão para mim.

Eu congelei no lugar olhando os cabelinhos loiros, as bochechas vermelhas de toda a corrida e os olhinhos claros brilhando me encarando em expectativa.

- Aqui. - Magda abriu a vasilha e entregou um pedaço de torta ao neto. Ele se sentou perto da gente e começou a dar migalhas para o filhotinho e eu deveria dizer que aquilo estava errado, mas só conseguia encará-lo. - Respira Maria, respira. Ele vai te chamar assim muitas vezes daqui pra frente, até você enjoar.

Eu duvidava daquilo, ainda estava em choque que Will tinha me chamado de mãe de forma tão espontânea, nunca tínhamos falado sobre isso com ele e Miguel apenas contou que estávamos namorando. Não imaginei que o menino me chamaria de mãe da noite para o dia, eu continuei ali o encarando, pensando se deveria dizer que ele não precisava me chamar assim e ao mesmo tempo desejando que ele me chamasse de novo.

- Nem acredito que ele disse isso mesmo.

- Linda, Will te ama é claro que ele te chamaria de mãe, era só questão de tempo. - olhei para a avó do meu pequeno, sabendo que mais uma vez dona Magda estava com a razão. - Pega um pedaço de torta também, você não comeu nada no café.

Encarei a torta de frango e apesar de estar com uma cara ótima, a única coisa que estava me dando era enjoou e não vontade de comer. Não sei o que tinha de errado comigo, mas já fazia duas semanas que quase tudo o que eu cozinhava me dava ânsia de vomito e eu estava começando a resumir minhas refeições em macarrão, suco e bolo de chocolate.

- Estou meio sem apetite esses dias, vou tomar só um pouco de suco.

Magda semicerrou os olhos me analisando de cima a baixo, como se procurasse algo em mim que não estava ali alguns segundos atrás.

- Você não está...

- Papai! - o grito do pequeno a interrompeu e o motoqueiro vindo na nossa direção, com as botas de combate, calça escura e o colete deixando a mostra as tatuagens, tirou toda minha atenção. - Olha o que a gente encontrou!

Miguel olhou para o filhotinho que corria e pulava atrás do filho, então desviou os olhos para nós duas, ele focou em mim e nem mesmo meu sorriso pareceu desfazer a cara feia dele.

- Anda, vem comer tigrão. - chamei querendo que ele se achegasse mais e pudéssemos conversar antes que ele dissesse qualquer coisa ao menino, mas ele simplesmente me ignorou.

- Sabe que não pode ficar com um cachorro filho, não tem idade pra isso. - ele falou se abaixando ao lado do filho e fingindo não ver a bolinha de pelos que pulava.

- Mas a Maria disse que vai me ajudar a cuidar dele, não é mamãe? - o pequeno se virou para mim com os olhos já marejados.

Miguel arregalou os olhos e ergueu a cabeça me encarando, finalmente um sorriso pequeno passou em seus lábios, mas rapidamente desapareceu. O que poderia ter acontecido com ele?

- Vem Will, vamos dar uma voltinha com esse filhote.

Dona Magda e os dois bebezinhos saíram andando para longe e eu sabia que era uma estratégia dela para deixar nós dois sozinhos.

- Sua mãe me contou sobre sua regra de não dar nenhum pet ao Will por enquanto, mas em minha defesa já havíamos pegado ele, o pobrezinho estava todo sozinho e vagando no caminho. - fiz a minha melhor cara de inocente e o puxei para perto de mim.

Miguel sentou sem muito entusiasmo, não parecia disposto a brigas nem mesmo a outras coisas. O que tinha acontecido do momento que ele saiu de casa até agora?

- Will te chamou de mãe. - não era uma pergunta, ele estava apenas afirmando enquanto olhava as árvores a nossa volta.

- Olha eu sei e antes que diga qualquer coisa, eu nunca o encorajei a me chamar assim e nem estou tentando ocupar o lugar da mãe dele. Nós já conversamos sobre isso e eu concordo totalmente com a forma de você criá-lo.

A última coisa que eu queria era que Miguel pensasse o pior de mim, já tinha sido assustador quando acreditei que Brutos estava me julgando por isso.

- Ele confia em você, se abriu pra você totalmente e agora isso, te chamou de mãe. - ele deu um sorriso debochado e se jogou para trás na grama. - A vida é mesmo tão engraçada, quando eu finalmente tenho tudo, alguma coisa acontece e me da uma rasteira.

- Do que está falando? - apoiei minhas mãos em seu peito e descansei o rosto sobre elas, olhando direto para o meu salvador tatuado, que agora estava mais parecendo meu destruído tatuado. - O que aconteceu enquanto estava longe?

Ele suspirou ainda encarando o céu claro, os raios do sol deixando a barba loira ainda mais em evidência, assim como os olhos dele, quando percebi que não conseguiria sua atenção tão facilmente, eu subi em cima dele e segurei seu rosto o obrigando a me encarar.

- Eu te amo coisinha. Te amo e porra... - Miguel deixou as palavras morrerem e socou a grama, ele sacudiu o rosto, parecendo indignado com alguma coisa e tudo aquilo só me deixava ainda mais confusa.

- Também te amo. Mas não tenho bola de cristal, preciso que me diga o que aconteceu. - deslizei meus dedos por seus cabelos longos, massageei a raiz e assisti ele fechar os olhos apreciando o toque. - Miguel, me diz logo o que aconteceu enquanto você estava no bar.

- Problemas minha Rainha, problemas que eu não quero discutir agora, quero ter mais alguns momentos de paz. - ele segurou meus pulsos e me puxou para baixo. - E o cachorro vai ficar na sua casa.

- Acho bom estar falando de si mesmo, pois é o único cachorro que vou levar pra cama hoje.

Miguel abriu um sorriso largo, deixando de lado aquela áurea de tristeza, então me segurou pela nuca antes de colar nossos lábios.

Amor de Motoqueiro - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora