Capítulo 33

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Eu estava vivendo um grande inferno que já durava duas semanas e algo me dizia que duraria muito mais. Ver Maria ir embora e ter que aguentar, dizendo a mim mesmo que era para o bem dela, estava me consumindo. Cada vez que Will perguntava o porquê não podia vê-la ou quando ele não conseguia dormir por sentir falta dela, meu peito se apertava mais.

Definitivamente eu detestava o pai dela, queria matá-lo, se eu não soubesse que Maria ficaria mal em saber o que o pai fez, ou por descobrir que ele não nos apoiava como ela havia pensado.

- Não acredito que você ainda está com essa cara fechada? - minha mãe questionou quando eu entrei na cozinha. - Tem que melhorar essa cara Miguel, ou resolver seus problemas, ninguém aguenta mais ver você assim.

Abri um sorriso forçado e peguei uma cerveja na geladeira, não me importava que tivesse acabado de acordar, tinha bebido tanto na noite passada que já não fazia diferença a essa altura.

- Pronto, sorrindo pra vocês.

A família toda estava reunida no quintal, alguns na grelha fazendo churrasco, as crianças estavam jogando futebol e o restante estava reunido na mesa. Mas eu sentia como se faltasse uma parte, ela estava faltando ali.

- Ei, o irritadinho resolveu acordar. - Brutos gritou me fazendo praguejar e erguer o dedo do meio pra ele. - Já bebendo cara, o que te deu?

Me sentei a mesa, ignorando a pergunta dele e o olhar que todos me davam. Todo mundo ali já sabia que eu e Maria tínhamos terminado, mas mesmo assim ficavam com aquelas perguntas idiotas.

- Prontos, vamos almoçar! - mamãe gritou colocando os últimos pratos na mesa e todos começaram a se reunir.

- Quem vai dar as graças hoje é o Miguel, já que começou o dia bem. - Dênis gritou tentando ser ouvido por cima de todo o barulho, mas tudo o que ele recebeu de mim foi o silêncio.

Eu não ia agradecer, não tinha tido motivos para isso ultimamente, por mais que meu filho estivesse aqui e bem, assim como minha mãe e o resto da família, ou que os negócios estivessem ótimos, ter sido forçado a terminar com a mulher que eu amo era motivo suficiente para não querer agradecer.

- Ok, eu faço! - Ana tomou a frente colocando um fim no silêncio incomodo. - Agradecemos pela família, pelos amigos, por todos os que estão aqui e agradecemos pela comida na nossa mesa, amém.

"Por todos os que estão aqui", porra onde Maria devia estar? Na cantoria de terapia dos domingos? Ou em um almoço com a família dela? Não saber onde ela estava me deixava ainda pior e eu não tinha me dado conta até estar vivendo esse inferno.

Todos começaram a atacar a comida, mas eu me mantinha pensando nela e bebendo, como tinha feito nas duas últimas semanas. Nesse temo passei a evitar ir ao bar em qualquer horário que pudesse vê-la, me encontrar com ela poderia me fazer voltar atrás e implorar para que ela me perdoasse.

Em vez disso eu olhava para o restaurante durante a noite e repetia a mim mesmo que estava fazendo a coisa certa, eu estava protegendo Maria, tanto de uma decepção com o pai, como de perder a coisa que ela mais lutou para ter.

Estava tão perdido nos meus pensamentos que não vi o grupinho se formando atrás de mim, quando me dei conta três brutamontes me agarraram me arrancando da cadeira antes de me jogarem no chão.

- Me larguem seus merdas! - gritei me sacudindo tentando soltar um dos braços e socar a cara dos infelizes.

- Não! Já chega disso Miguel!

- Falamos com você por quase dez minutos na mesa e você não ouviu nada do que falamos. - Brutos rosnou se levantando e deixando que os outros me segurassem no chão. - Vai contar pra todo mundo o porque terminou com Maria.

Consegui socar Kai, o fazendo me soltar então consegui arrancar meu braço do aperto de Dênis e finalmente me sentei. Brutos ainda me olhava duro, mostrando que não ia desistir tão fácil, ele e Luana eram os únicos que sabiam o motivo, mas eu sabia que todos a mesa estavam esperando por essa resposta há dias.

Bufei enfiando a cabeça entre as mãos, querendo fugir disso, mas já tinha feito aquilo por tempo de mais.

- Precisei terminar com ela ou Maria perderia o restaurante. O pai dela não me acha um bom partida e pediu que eu terminasse tudo com ela, quando eu não fiz ele foi até o bar me procurar, só para dizer que tiraria o restaurante dela caso eu não terminasse.

- Ele o que? - minha mãe foi a primeira a gritar. - Quem ele pensa que é pra fazer isso com vocês?

- Ele é o pai dela, mãe! Eu até entendo já que não sou o mais perfeito dos homens, depois que a irmã dela puxou minha ficha policial eu até imagino o quanto minha credibilidade aumentou.

- Quanto tempo mais você vai continuar assim nessa merda de sofrimento? Sabia que Maria está sofrendo tanto quanto você?

Me ergui cansado daquele papo, ele queria me convencer a ir atrás dela, mas se existisse a menor chance de fazer isso sem magoá-la ainda mais eu já teria feito algo.

- E você quer que eu faça o que porra? Saber que ela está sofrendo acaba comigo, mas se eu for atrás dela preciso contar sobre o que pai dela fez e isso vai quebra-la ainda mais. - encarei a todos ali, em especial minha mãe que estava chocada. - Não vou fazer isso com ela.

- Mas filho, você a ama! O Will a adora e a tem como uma mãe. Isso não é justo com vocês, com nenhum de vocês! - minha mãe repetiu o que eu vinha dizendo a mim mesmo há semanas.

- E é porque eu a amo que não vou destruir a confiança que ela tem no pai. O que ele fez é fodido de mais, mas ele ainda é o pai dela e Maria preza pela família, não vou colocá-la contra eles.

O resto do dia passou assim, meio cinzento, aquele incômodo chato entre nós e o gosto amargo na boca. Mesmo com todas as conversas, risadas, a situação continuou tensa na família.

- Ei, eu vou ao Devil's hoje a noite! - gritei para Brutos antes que ele saísse da casa.

Mesmo que eu não fosse conseguir ir pra cama com qualquer mulher, pelo menos no Devil eu não ficaria tentado a olhar para o restaurante e ficar me perguntando onde ela estava.

- Não pense que vou ficar quieto vendo você sofrer por perder outra mulher. - Brutos falou me surpreendendo. - Quando você perdeu a Luna eu disse que se pudesse trazê-la de volta pra você eu faria qualquer coisa para conseguir isso, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. Mas agora é diferente, eu posso fazer alguma coisa pra acabar com esse seu sofrimento e vou!

- Você não vai fazer nada, eu já resolvi isso e vai ser desse jeito!

- Não vai não. Se não queria que Maria fizesse parte da família não deveria tê-la trazido até aqui. Agora ela é uma Devil e eu vou dar um jeito nessa merda! - ele afirmou antes de subir na moto ignorando meus gritos e protestos.

Amor de Motoqueiro - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora