Maternidade

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Adolescente é muito difícil. Adolescente acha que nada de ruim vai acontecer com eles. Eles acham que são imortais. Quem dera que fossem.
Minha Mãe é uma Peça.

POV CAMILA CABELLO

Meu filho parecia mais tranquilo no início daquela semana, embora ao mesmo tempo parecesse carregar algo em sua mente, algo que hesitava em compartilhar. Enquanto isso, Sofia não parava de falar; sua felicidade com minha reconciliação com Lauren era evidente e contagiante.

Quando me tornei mãe, meus pensamentos não eram mais centrados apenas em mim; a vida que crescia dentro de mim se entrelaçava com todos os meus planos. Embora o medo existisse, o desejo de ter meu filho nos braços superava tudo. Criar filhos está longe de ser uma tarefa simples, ninguém jamais afirmou que seria, afinal erramos enquanto buscamos acertar. Tentamos guiar nossos pequenos pelo melhor caminho possível, embora o medo de cometer erros persista, devemos lembrar que estamos dando o nosso melhor, mesmo nos dias mais difíceis; portanto, é fundamental sermos compassivas conosco. Não romantizo a maternidade, pois sei que ela está longe de ser um conto de fadas, no entanto, o aprendizado que ela proporciona é imensurável. Aprendemos mesmo antes de sentirmos o bebê mexer ou de segurá-lo em nossos braços. Quando nos damos conta, já estamos amando incondicionalmente alguém menor que um grão de feijão; eu me sentia como a própria terra, sagrada.

O aspecto mais desafiador da maternidade é o medo constante de errar. Apesar de Henrique atravessar uma fase turbulenta, eu genuinamente acreditava que estava desempenhando bem o meu papel como mãe. No final das contas, não existem mães perfeitas, pois todas somos humanas; existem mães que lutam diariamente para oferecer o melhor aos filhos. Comparar diferentes experiências maternas é inapropriado, pois cada mãe faz o que pode, da maneira que consegue. A maternidade, assim como muitos aspectos da vida, não traz um manual de instruções ou uma receita infalível. Ela se constrói a cada dia, levando em consideração as necessidades individuais de cada filho. O amor que descobrimos na maternidade é a prova viva da existência do infinito.

Observo Henrique se movimentar ao meu redor como uma mosca em volta de algo, enquanto inspiro profundamente. Ele parece hesitar em expressar algo.— Vai logo, desembucha; sei que tem algo em mente! — falo tranquilamente, enquanto pego os feijões para começar a preparar o cozimento.

— Na verdade, eu gostaria de conversar um pouco, sobre a sua relação com meu pai! — ele fala de maneira séria, sentando-se ao meu lado à mesa. — Mas se você preferir não falar, tudo bem também! — acrescenta, parecendo nervoso.

— Vou te contar! — decido, levantando-me para encher uma panela com água e colocá-la para ferver com os feijões. Volto a me sentar, ficando de frente para o garoto. — O que exatamente você deseja saber? — pergunto curiosa.

— Por que vocês se separaram, como era a relação de vocês; essas coisas. — ele fala com seriedade, brincando com os dedos inquietos.

— Ele já te disse alguma coisa sobre isso? — pergunto, embora tenha quase certeza de que Roberto já deve ter falado alguma coisa. — Ele comentou algo sim, mas estou meio confuso sobre o que pensar! — ele diz, refletindo por um momento antes de continuar. — A história que ele contou é que você o deixou para ficar com a Lauren, porque já tinham um caso rolando e tal. — ele me olha enquanto diz isso, e eu balanço a cabeça em negação.

— Quando conheci teu pai, ele tinha dezenove anos e eu tinha recém completado dezessete. — começo a narrar a história. — Ele era um cara legal, não era exatamente bonito, mas fazia piadas tolas que me arrancavam risadas, e isso me cativava. À primeira vista, parecia ser uma boa pessoa, engajada na igreja e já havia terminado o colégio. Seus avós até gostavam dele; em pouco tempo, me vi apaixonada e achei que tinha encontrado meu príncipe encantado! — recordo-me do passado. — Quando me deitei com ele pela primeira vez, acreditei que estávamos entrando em um relacionamento sério, talvez até mais profundo, mas eu estava enganada. Logo, teu pai começou a mentir com frequência; boatos circularam dizendo que ele estava envolvido com uma garota de Jacarezinho, enquanto vivíamos em Vila Isabel. Quando questionei isso, ele negou com convicção! — falo, observando o garoto que escuta com atenção. — Depois, houve relatos de que ele estava comprando drogas. Seus avós ficaram indignados e não queriam me ver perto dele, contudo, mesmo assim, me deixei levar pelo meu amor. Afinal, ele assegurou que aquilo não eram drogas para ele, foi tão persuasivo que até seus avós acreditaram! Logo, uma teia de mentiras se formou e por muito tempo, eu as engoli, até que descobri que estava grávida! — digo, rememorando o passado. — Teu pai enlouqueceu, e a mãe dele também; ela até sugeriu o aborto! — falo com amargura, recordando a família. — Porém, eu nunca cogitaria essa opção, pois já te queria muito na minha vida! — declaro com carinho, olhando o menino que esboça um leve sorriso. — Nossas famílias acharam que era melhor que "nos casássemos", então fui morar com ele em uma casa alugada. Ele tinha emprego, eu estava quase terminando o ensino médio, nossos pais ajudavam com o aluguel e ele era responsável pelas despesas da casa. Entretanto, aos poucos, ele começou a deixar as contas atrasarem e passou a usar drogas abertamente na minha frente. E então, quando eu estava grávida de três a quatro meses, aconteceu a primeira agressão. — digo, sem conseguir olhar diretamente para meu filho. — Ele queria dinheiro para comprar drogas, mas eu precisava fazer compras essenciais, então tivemos uma discussão e ele me agrediu antes de pegar o dinheiro e sair. A partir desse momento, as coisas só foram piorando; eu acreditava que merecia aquilo, ele me fazia acreditar nisso, assim como sua mãe também fazia. Eles afirmavam que a culpa da gravidez era minha e me chamavam de nomes horríveis, dizendo que eu fui inconsequente e engravidei "para prender" teu pai. — expresso com mágoa, e vejo meu filho parecer incrédulo.

Lá vem elaOnde histórias criam vida. Descubra agora