Abrigo

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O autista tem o amor mais puro,
verdadeiro e sem preconceitos. Sabe por quê?
Porque para os autistas o amor não vê diferença!

POV CAMILA CABELLO

Com o coração acelerado, não pude conter minha preocupação por mais tempo. Estava diante do abrigo mais uma vez, completamente dominada pelos pensamentos sobre Cecília e seu bem-estar. Sentia uma necessidade urgente de ver aquela adorável garotinha. Sem hesitação, desci do carro, travei as portas e coloquei minha bolsa no ombro. Antes de entrar no abrigo, respirei fundo, preparando-me para o que estava por vir. O misto de ansiedade e esperança preenchia cada centímetro do meu ser enquanto eu adentrava o local. — Camila, que alegria vê-la novamente! — Irene me saudou calorosamente assim que cruzei o portão. Devido ao horário, tudo estava tranquilo por ali, presumi que as crianças mais velhas estivessem na escola. — A que devo a honra de sua ilustre presença? — brincou ao me cumprimentar.

— Na verdade, fiquei tocada com a situação da Cecília e queria saber como ela está! — disse timidamente, e Irene sorriu. — Claro, se não for incômodo! — acrescentei rapidamente.

— É claro que não é incômodo. Venha, vou levá-la até ela! — disse, acenando com a mão. — Hoje ela está tendo um dia difícil, está como um leãozinho! — avisou, enquanto me conduzia até um quarto na casa. Irene abriu a porta, revelando Cecília encolhida em uma das camas. A menina tinha os cabelos soltos e volumosos, e um dos dedinhos na boca. — Com tantas crianças, às vezes não conseguimos dar a atenção que ela merece. — disse baixinho, visivelmente chateada. — Preciso ajudar algumas outras crianças agora; você se importaria de passar um tempo com ela? — pediu, e eu concordei. Irene saiu e fechou a porta atrás de mim. Aproximei-me timidamente da menina, que estava entretida com seus próprios dedos.

— Princesa Cecí... — sussurrei suavemente, vendo um sorriso surgir em seus lábios. — Você lembra da tia Camila? — perguntei em voz baixa, ajoelhando-me ao lado dela na cama. Mais uma vez, ela começou a tatear meu rosto, e eu interpretei aquilo como um sim.

— Ca-Mi-La! — ela pronunciou pausadamente, e eu sorri. A garotinha apontou para o banheiro e para o seu cabelo. Supus que ela quisesse que eu prendesse seu cabelo, então fui até o banheiro do quarto em busca de algo para ajudar.

— Tia Camila vai arrumar seu cabelo, está bem? — perguntei com cautela, e ela concordou, sentando-se lentamente na cama e balançando os pezinhos fofinhos para a frente e para trás. Passei um pouco de creme nos cachos da menina e prendi os dois lados com um lacinho que encontrei. Cecília se mexia o tempo todo, mas não parecia se importar comigo arrumando seu cabelo. — Prontinha! — declarei, e ela sorriu animadamente para mim, desviando o olhar logo em seguida. Passei o resto da tarde com a menina, Cecília parecia bem confortável com a minha companhia. Vejo o tempo se fechando e resolvo ir embora, não querendo tirar mais a menina da rotina de sempre.

— NAOOOO!! — Cecília gritou com raiva, aos berros, quando percebeu que eu estava indo embora. Suas mãos se estenderam em minha direção, e eu não pude resistir; voltei e a peguei no colo. — Titia! — ela disse, encostando a cabeça em meu ombro. Lancei um olhar culpado para Irene, que sorriu, me tranquilizando.

— Feche os olhos, meu amor. Não há nada que possa te assustar, e nenhum medo que te impeça de sonhar... — cantei suavemente a canção de ninar, embalando a menina com calma e acariciando suas costas. Ouvi seus pequenos soluços. Em poucos minutos, Cecília já dormia pacificamente. Levei-a até seu quarto e a acomodei na pequena cama. Deixei um beijo em seu rostinho e saí. Meu coração doía; queria tanto levá-la comigo. No caminho de volta para casa, permiti-me chorar. Não entendia o que me levou a querer cuidar daquela menina. Eu, que achava que a maternidade já não era para mim... Também não poderia visitá-la frequentemente e fazê-la se apegar a mim para, no final das contas, não poder adotá-la. Imaginava que ela já tinha sofrido muito com isso, e não seria justo.

Lá vem elaOnde histórias criam vida. Descubra agora