"Um sábado à noite solitário é uma eternidade de solidão, e sua dupla no laboratório se torna o amor da sua vida"
S/n pov
Eu estou no começo do meu último ano no ensino médio, mas minha vida não é lá tão movimentada assim. Tenho duas melhores amigas, e meu hobbie é a escrita. Sempre quis entrar para o grupo de escritores do colégio, mas nada de impressionante já aconteceu comigo ao ponto de ter algo para contar e escrever. Mas, quando eu descobri sobre a vaga, isso tudo mudou.
-"I love you as certain dark things are to be loved, in secret, between the shadow and the soul" - leio o parágrafo grifado do livro da menina que está ao meu lado, após me sentar à espera de ser chamada para falar sobre a vaga de escritora. - Romance melancólico, hum?
-Um dos melhores livros de poemas do Pablo Neruda, na verdade - responde, sem desviar o olhar de sua leitura.
-Ei, gente. Podem entrar! - o orientador nos chama na sala de espera, fazendo a menina guardar o livro e se levantar. Eu conheço ela, é minha dupla no laboratório nas sexta-feiras.
-Nós duas?
-Sim, por favor - entra novamente em sua sala. Olho para a menina, que apenas vai para a sala dele, então sigo-a. - S/n, a Hailee acabou de ser transferida, ela escrevia para a gazeta na antiga escola. Seria ótimo se vocês pudessem escrever juntas.
-Sério? - falo animada, percebendo que ele tinha intenções de me colocar no projeto.
-Claro! Tenho certeza de que terão ótimas ideias.
-Não - Hailee fala, já se levantando.
-Como? - o orientador a olha depois de recolher minha folha de assinatura com a confirmação.
-Obrigada, mas eu vou passar essa - devolve a folha, saindo da sala.
-Ei, você realmente não quer a vaga? - pergunto alto, tentando alcançá-la, já fora da escola.
-O que?
-Você não quer a vaga? - repito, andando do lado dela dessa vez.
-Por que se importa?
-Eu não me importo. Só não entendi porque você se inscreveu e recusou.
-Eu não me inscrevi, eles me convidaram - para de andar, olhando para mim. - Isso da gazeta está no meu currículo, mas quando eu entrei aqui, deixei bem claro que não escrevo mais.
-Ah...
-Toma - me entrega o livro que estava lendo mais cedo. - Termine ele, pode fazer anotações se quiser, já li várias vezes.
-Hum... Obrigada - desvio meu olhar para a rua. - Merda!
-O que foi? - olha para a mesma direção que eu.
-Perdi meu ônibus.
-Não pode ir andando? - pergunta mais como uma afirmação óbvia.
-Bom, minha casa não é tão perto. Por isso pego ônibus.
-Eu tenho carro, se quiser pode ir andando comigo até minha casa e te dou uma carona.
-Sério? - volto a segui-la pela rua.
-Uhum - desacelera o passo, andando ao meu lado.
Fomos até sua casa em total silêncio, que mesmo eu não conhecendo-a tão bem, não ficou desconfortável para nenhuma de nós duas.
-Sua casa é bonita.
-Isso parece algo que uma pessoa fala quando não entende um poema, mas precisa falar algo para quem o recomendou.
-Eu sou fã de Emily Dickinson, não tem como me acusar de não entender poemas complexos - respondo. - Não pode só aceitar o elogio?
-Obrigada - fala simples, entrando no carro.
Ela estacionou na frente da minha casa e desceu comigo.
-Como alguém mora em uma casa dessas e não tem um carro?
-Acho que minhas notas não são altas o suficiente ao ponto de ganhar um carro - dou de ombros, pegando minha mochila e indo em direção à porta. - Não quer entrar?
-Ah, hoje eu não posso.
-Te vejo amanhã então?
-Se você tiver sorte - sorri, piscando para mim e entrando no carro. Acho que nunca vou conseguir entender essa menina.
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Três semanas se passaram, e Hailee continua com a história de "não escrevo mais", mas sempre me encontra na biblioteca para ajudar ou eu passo meus capítulos prontos para ela revisar e editar. Nós daríamos uma ótima dupla de escritoras, mas nunca consigo entender o humor ou vontades dela sem ultrapassar um limite que a deixe irritada comigo.
-Podíamos escrever um livro estilo "o mau exemplo de Cameron Post", da Emily Danforth, não acha? - fala analisando minha última escrita.
-Gosta de falar sobre gays em seu pior estado de sofrimento?
-Não, mas acho importante mostrar certas realidades para um público mais mente fechada, que é os leitores que irão ler isso, aqui da nossa escola.
-Realmente...
-Bom, te joguei a ideia. Confio em você para literalmente colocá-la no papel - pega suas coisas, se levantando. - Tenho que ir.
-Haiz - chamo sua atenção, a fazendo parar e me olhar. - Entenda o convite como quiser, mas amanhã vai ter uma festa à fantasia e eu queria muito que você fosse comigo.
-Ah não, S/n.
-Por favor. Vou te mandar o endereço, te espero lá, viu?
-Cada coisa que você me arruma... Tchau, S/a - me dá um beijo na bochecha, ajeitando a mochila nas costas e saindo.
---⌚⌚⌚---
Estou na festa há umas duas horas, e nada da Hailee. Peguei uma bebida e me sentei no balcão da cozinha, olhando a vista da janela. Vejo ela chegando e procurando algo com olhar no meio das pessoas no jardim da casa. Peguei uma bebida extra e fui até ela.
-Achei que não viria, se atrasou demais - a entrego o copo.
-Era para te dar tempo de ficar com saudade.
-Você é a pessoa mais confusa que eu já conheci, sabia? - chego perto dela, pousando minha mão livre em sua lombar para nos aproximar, por conta da música alta.
-Eu sou a pessoa mais confusa que você já conheceu, e isso te confunde - bebe um gole de sua bebida, colando nossos corpos e encarando meus lábios escancaradamente.
-Inclusive, você está muito...
-Vulgar?
-Eu ia falar gostosa, na verdade - imito seu gesto.
Ela não me dá muito tempo pensando e me beija. Demoro um pouco para reagir, mas logo retribuo.
-Hum... - separo o beijo. - Tenho certeza que estraguei sua maquiagem e que meu rosto está preto, não está?
-Está - me analisa, caindo na risada.
-Ai, Hailee - a roubo um selinho. - Vamos lá para minha casa? Essa festa está um porre, só melhorou por causa de você.
-Você é rápida.
-Só eu?
-Ok, eu também fui um pouco - sorri e se afasta, me puxando para fora da casa.