Spring Song

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'HEEEEEEIIINNNN?!' Ciel não conseguia parar de gritar em sua mente. Ele tinha sido rejeitado antes mesmo de se confessar. Isso nem deveria ser possível. "Err... Eu também não gosto de você dessa forma." Ciel sabia que gostava da ideia de ter um relacionamento com Sebastian, mas precisava mentir naquele momento para não aparentar estar sofrendo.

***

Ciel acordou mais tarde no dia seguinte. Tinha nevado muito durante a noite, por isso ele não precisaria ir ao trabalho. Nem se ele tentasse chegar ao trabalho ele conseguiria. Por um lado era bom ficar algum tempo sem ver a cor do diapasão, mas... Ficar o dia inteiro na mesma casa com Sebastian? Não parecia a melhor ideia do mundo.

Ele demorou horas para pegar no sono depois daquela conversa. Ele entendia que era complicado terminar um relacionamento e iniciar outro logo em seguida, mas Sebastian não precisava ter colocado daquela forma. Além disso, eles não precisariam iniciar um relacionamento naquele instante. Ciel não ligaria de esperar mais uma semana ou duas, ou até meses, se pudesse estar com Sebastian. Seu coração estava apertado ao repensar esse assunto naquela manhã. Das outras vezes, ele sentia raiva, mas agora só estava triste. A honestidade do dono da casa não o deixava imaginar nada de diferente além de ter sido rejeitado. Se ele apenas tivesse dito algo como 'agora não é o momento', ou 'conversamos sobre isso depois', Ciel tinha certeza que ficaria imaginando todas as brechas possíveis para concluir que o escritor gostava dele.

Porém, lá estava ele. Rejeitado antes mesmo de se confessar. 'Eu já deveria esperar por isso. Ele já tinha dito que gostava de caras que eram seguros financeiramente, emocionalmente... Eu não sou nada disso'. Ciel afundou seu rosto no travesseiro. Ninguém merecia aquela morte lenta e dolorosa pela qual ele estava passando dia após dia. Ele estava no subsolo da montanha-russa chamada Sebastian, e a ponte já tinha desmoronado há tempos.

O que ele se perguntava era como Norman tinha sido capaz de encontrar o caminho para o coração de Sebastian, se o escritor sempre dá um jeito de empurrar as pessoas para longe. Norman era um vitorioso por ter conseguido uma façanha dessas mesmo tendo alguma relação com a surdez de Sebastian.

O jovem suspirou, sentando-se na cama. O melhor a fazer era esquecer esse assunto e tentar enxergar Sebastian como seu amigo, apenas.

Ciel ouviu algo caindo no chão e quebrando, seguido de um breve e baixo grito de susto. Ele desceu as escadas ainda de pijama e encontrou Sebastian encarando a caneca em que tomava café estatelada no chão, Céleste observando a cena de cima do balcão.

Sebastian encarou Céleste com raiva. "Eu não acredito que você fez isso! Eu te criei com tanto cuidado quando ninguém te quis para você fazer isso comigo?! Sai!" Ele deu um tapa de leve no bumbum da gata, o que fez com que ela saísse correndo dali assustada.

Ciel cutucou o ombro de Sebastian. "O que aconteceu?"

"Ela derrubou apenas para chamar atenção, foi isso que aconteceu." Sebastian nunca tinha sentido vontade de estrangular um gato antes, mas Céleste tinha se superado dessa vez. Não era como se ela fosse uma gata que nunca recebe atenção, ou como se a casa fosse cheia de itens que impedissem que ela circulasse pelas prateleiras ou balcões. O que ela fez foi um ato de travessura, apenas para ver a caneca caindo do balcão e se divertir com isso.

Ciel achava que quando o dono da casa esqueceu como se pronunciava persignar-se ele estava frustrado, mas agora era um grau de frustração bem diferente. "Calma, podemos comprar outra." O mais jovem tentou ser racional. "Aposto que foi um acidente da parte dela."

"Claro que podemos." Ele disse de forma irônica. "Vamos pegar o primeiro voo para a Itália e encontrar uma idêntica a essa. Isso, é claro, se uma das dez ainda estiver lá." Sebastian bufou. "Não acredito que eu tive a capacidade de quebrar duas delas."

I Just Want to Hear YouOnde histórias criam vida. Descubra agora