⌕ Doce vingança do passado

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Assim que ficamos longe o suficiente, eu tiro o braço que havia deixado envolta do meu amigo e dou tapinha em suas costas.

— Pronto, era só isso, valeu

— Era isso? Deu agora de querer se vingar por algo que já aconteceu? Ta fazendo isso a pedido do Hoseok, né?

— Sim, me deu vontade de ver pessoas babacas, recebendo o que merecem e acha mesmo que o Hoseok me pediria algo assim?

O garoto, de cabelo azulado, apenas levanta os ombros.

— Sei lá, é que ele gostava muito daquela estrangeira, talvez quisesse fazer isso por ela, também. Eu só não entendo o seu motivo, você nunca sequer chegou perto daquela garota, por que ta fazendo isso? Sabe que seu pai te mata se você entra em qualquer problema né?

— ... Nunca tive pai, não sei do que você está falando. E não me importo mais de entrar em problema, cansei de não poder fazer nada e seguir essas regras idiotas...

Meu pai não tem filho, ele tem troféus, que mostra quando quer ouvir elogios dos outros e joga fora quando eles não têm valor, como fez com o meu irmão, deixando ele ir embora de casa... nada que eu faça, desde que não envergonhe ele ou não cause problemas... não importa para ele. Ele é outro que merece perder tudo... aguentei e aceitei calado tudo por pura covardia. Aquela criança que se acabava de chorar de medo depois de ver o próprio irmão ser espancado várias vezes por você, pai, não existe mais.

— Oloco, meu garotinho ta crescendo e virando um rebelde, ai que orgulho... O tanto de coisa que fiz para você mudar, não ta escrito. Se eu soubesse que você só precisava ver um ato de bullying escolar, teria pedido para o Jin deixar você assistir ele dando bronca, no Namjoon e no restante do nosso grupinho. A agressão verbal e física é quase igualzinho... ainda lembro dos palavrões... eram tantos que eu nem sabia mais se ele tava inventando na hora ou se existiam

O garoto, então, fica concentrado olhando um ponto fixo aleatório. Deve estar relembrando o passado. Enquanto ainda estou ao lado do meu amigo, aviso de longe um cabelo vermelho, passando rápido pelo corredor.

— Ai... Taehyung, já volto, ok?

Mal espero a resposta do mesmo e vou indo lentamente seguindo a garota, em distância. Essa é a parte mais chata, que vou ter que fazer, vou ter que ficar esperando e seguindo essa menina até ela se rebelar, mas se o coração partido não for o suficiente para ela se tocar da realidade, vou ter que pensar em outra coisa...

Uns segundos depois, nós dois paramos atrás da escola, onde geralmente só iam os professores e alguns alunos que fumavam e casais, mas é um bom lugar para se ficar quando quer ficar sozinho, ou chorar... como ela está fazendo agora. Encolhida, sentada no chão, se acabando de chorar. Enfim, não posso ficar aqui parado que nem um poste vendo essa cena triste, se não, obviamente, ela ou alguém que vier para cá também, vão me ver. Olhando envolta, não encontro nada onde poderia ficar apenas observando, até que olho para cima apenas para conferir se tinha alguma forma de eu ficar no segundo andar e havia, sim, existia uma janela bem acima da onde a garota estava sentada, talvez se eu fosse para lá, conseguiria ouvir tudo sem problemas. Só espero que a menina não saia dai enquanto eu vou subindo para lá.

Eu não perdi tempo e fui em passos largos e apressados indo até a escada. Subindo por lá, não pude deixar de ouvir a alta reclamação de uma das três garotas que estavam descendo juntas.

— Fala sério! Como que nós não achamos um ponto vermelho como aquela garota no meio de tanta gente aqui? Como que a Ji-eun some desse jeito, nessa porcaria de escola!?

— ... Desculpa, mas estão falando de uma garota de cabelos vermelhos?

A garota se cala e se vira para mim com uma expressão de mau-humor e má vontade, mas assim que me vê, ela parece relaxar um pouco.

— Ah... sim, conhece ela?

— Não, mas eu vi ela indo para aquela direção e parecia estar chorando, você deveria ver o que aconteceu com a sua amiga

Eu aponto para a direção, dou um leve sorriso forçado, sem mostrar os dentes e sigo meu caminho até a janela.

— Entendi... tchau...

Ela acena para mim, pelas minhas costas e se vira para suas amigas com um humor melhor.

— Ai, vão indo na frente, eu vou ter que ir lá ver o que aconteceu com aquela guria chata

As outras duas meninas concordam e ela vai até a amiga, se escorando na parede ao lado dela.

— O que aconteceu Ji-eun? Eu tava te procurando até agora, sabia? Devia ter me avisado, pelo menos

— E como descobriu que eu estava aqui?

A menina estava com a cabeça entre as pernas, escondendo seu rosto e falando com certa dificuldade, tentando se acalmar.

— Ah, um garoto te viu, você deve ter deixado muito óbvio, para todos que te viram, que você está mal

— Ugh... é tudo culpa daquela vaca... é frustrante...

— De quem você está falando? Fizeram algo para você?

Ela se levanta secando as lagrimas que restaram em seu rosto e mesmo sentindo que devia permanecer calada, os sentimentos do momento a impedem de pensar antes de agir.

— Faz um favor para mim... e chama a merda da Jeongyeon!

— Que? Ela? Por quê? Ta maluca garota?

— Esquece... eu mesma vou atrás dela, uma última vez. Onde aquela piranha está!?

— Eu hein... você que vai ouvir dela, ela nem te fez nada. E eu acho, que ela está na nossa sala com mais algumas meninas

— Ótimo, então terá uma plateia para verem a vergonha que ela vai passar

Ela vai assumindo a frente, indo até a sala enquanto a colega a segue, tentando acalmar a mesma, que sequer dava ouvidos. Até chegarem a sala e entrando pela porta, a mesma já estava soltando fumaça. Ela se vira para a amiga que a estava acompanhando até aquele momento enquanto se senta na mesa do professor, que ficava na mesma reta da carteira da Jeongyeon, onde a mesma e suas amigas estavam reunidas.

— Ei, Nari, o que você acha da Jeongyeon? Não é incrível o quanto ela mente para todos ao seu redor e ninguém parece se importar? Ou será que todo mundo aqui é tão sonso e não percebem?

Ela fala em alto e bom-tom, fazendo que todas ali presentes se calassem e prestassem atenção, dando início a um clima desconfortável.

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