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Em minha cabeça passavam mil e um pensamentos de reprovação por ter sido descoberta tão facilmente, e ao mesmo estava consumida pela satisfação de vê lo bem. Tive o desprazer de descobrir que ele não acordaria tão rápido por ter perdido muito sangue e pelas inúmeras lesões. Mas ele estava ali acordado. Seu tórax subindo e descendo lentamente, mostrando sua dificuldade em respirar e que parecia não se importar.

— Você acordou. — falei me recompondo.

— Fico feliz de ter sido você a primeira pessoa que vi... — sussurrou com dificuldade.

— Sugiro que não fale para não agravar ainda mais o seu estado de saúde. — olhei para uma das máquinas fingindo ter alguma curiosidade. Eu sabia bem como cada uma delas funcionava, mas minha intenção era fugir da situação em que eu havia me colocado.

— Você veio me ver... — sussurrou novamente com um pequeno sorriso trêmulo surgindo em seu rosto. Era nítido como Xavier estava feliz de me ver ali.

— Eu vou embora. — avisei o dando passos para trás.

Me virei e sai daquela sala. Minha respiração ofegante me fazendo lembrar de que eu nunca iria saber lidar com algo assim por nunca me permitir sentir algo assim. Era novo, estranho e até mais assustador que eu.  Suspirei voltando a andar em direção ao quarto que já estava vazio e me sentei em minha cama. Não conseguia pensar em algum tipo de raciocínio que me fizesse passar tranquilamente por esse momento assim como todos os outros momentos complicados que tive. Minha mente não estava ao meu favor. Automaticamente lembrei do meu livro que havia finalizado da outra vez em que estive em Nunca Mais, ele nunca havia sido lido por alguém, muito menos eu o li após sua finalização. Peguei o livro, que agora estava empacado e voltei para a sala onde Xavier estava. Agora uma enfermeira cuidava das máquinas e ele já estava sentado na cama.

— Ninguém teve a oportunidade de ler. — coloquei o livro em seu colo.

Devagar, Xavier moveu seu braços até o livro, era óbvio que não conseguiria segurar o livro de quase mil páginas. Sentei ao seu lado e peguei o livro. Comecei a ler enquanto via, as vezes, que estava focado em minhas palavras. Me sentia como um daqueles adultos que leem para seus filhos dormirem. Mas era diferente do que eu imaginava a sensação, eu estava feliz lendo a minha obra para Xavier, totalmente contrário do que eu faria para qualquer outra pessoa.

— Está muito bom... — Xavier sussurrou me fazendo parar.

— Ainda não cheguei na melhor parte do livro.

— Você é perfeita, Wandinha, tenho certeza que esse livro também é! — ele sussurrou sorrindo fraco.

Aquela sensação estranha de sentir meu coração pulsar mais rápido e um frio passar pelo meu coração, tomou conta da minha atenção enquanto olhava para Xavier sorrindo para mim. Estava numa situação em que eu nunca queria estar, estava lutando contra ser algo que eu sempre abominei e agora está fora do meu controle para evitar. Eu estava vivendo aquilo que nunca quis e não sabia o que viria pela frente, era um mistério muito maior que descobrir um assassino de um homicídio, mistério esse que eu sentia que meu precisava daquilo, uma necessidade humana e carnal e eu não sabia que um dia iria me permitir cem por cento viver como estava querendo agora. Nem mesmo com Tyler a sensação era tão intensa como apenas o mísero sorriso de Xavier estava me fazendo sentir e queria descobrir os futuros acontecimentos.

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