Giulia
Tudo estava começando a ficar complicado e confuso para mim. Eu sabia que seria difícil me manter serena quando finalmente nos reencontrássemos, mas nunca imaginei que seria tão difícil vê-lo sendo calmo e compreensivo. Pior, vê-lo sendo um pai para a Nina.
Dante sempre deixou claro o que era: um homem frio que estava constantemente correndo para resolver as merdas que aconteciam na sua família. Eu deveria estar ciente disso, porém não conseguiria deixar o meu lado magoado tão cedo.
Ele era problema com "P" maiúsculo e, ainda assim, eu me via olhando-o pela janela, esperando-o entrar com Nina, que estava começando a se acostumar com sua presença.
Tudo estava pronto para a sua partida, enquanto nós ficaríamos ali, encarando o teto.
Era o que você queria, Giulia. Foi o que pediu a ele.
Lembrei-me do que aquela mulher disse. Dark não era uma pessoa nada confiável, no entanto suas palavras estavam me perturbando desde a sua visita. Pouco se sabia sobre ela. O que tínhamos de conhecimento era o que a mídia reproduzia, e não eram as melhores coisas do mundo.
Nada nessa família era bom ou fácil.
Aproveite a oportunidade, Giulia. Ele está nas suas mãos.
Não! Ele não estava. Ele estava sendo bonzinho, porém seria só eu lhe dar a mão, que logo me pediria o pé.
Você não é mais aquela menina. Seja inteligente.
— Cale-se! — falei a mim mesma, irritando-me com os meus pensamentos. Minha mente era a minha maior inimiga. — Sabemos como isso vai acabar. Nina precisa de uma mãe que sabe escolher o caminho certo, o melhor para ela.
Afastei-me da janela ao notar que ele entrou na casa.
Mesmo sabendo de toda essa merda, eu não tinha certeza de que estava preparada para o ver indo embora. E não sabia quando ele voltaria, nem se realmente voltaria.
Claro que era o que eu queria, certo?
Revirei os olhos, ciente de que eu era uma idiota apaixonada, pois a resposta para essa pergunta era "não". Eu não queria que ele saísse e não voltasse. Foi terrível na primeira vez, e seria duas vezes mais na segunda.
Eu gostava de vê-lo com a filha, de saber que ele estaria sempre por perto e que entraria pela porta quando eu menos esperasse.
Tentei me recompor. Era para eu parecer durona, assim como eu gostava de pensar que era. Entretanto, falhei miseravelmente. Eu era uma fraca, boba e idiota.
Saí do quarto, indo para a escada. Ouvi a porta da frente sendo aberta. Eu sabia que cada minuto contava e que em pouco tempo estaríamos sozinhas. Não literalmente, pois segundo Dante, seus guarda-costas estariam a todo instante ao nosso redor.
A cada passo que eu dava, dizia a mim mesma que não deveria ficar triste, muito menos na frente dele. Então o encontrei na enorme sala daquela casa chique, segurando nossa filha nos braços e com um bichinho de pelúcia na outra mão.
Até o mais durão dos Mitolli parecia um cara comum nesse momento, e não havia cena mais linda do que o ver feliz.
Se você não o quer, enxugue estas lágrimas e seja firme.
Eu queria gritar comigo. Como poderia ser tão bipolar internamente?
— Já estou de saída — ele avisou sem tirar os olhos da filha. — Você tem o meu número particular e pode ligar para mim a qualquer momento.
— Hum — limitei-me a falar apenas isso, pois achava que se abrisse a boca, sairiam palavras que eu preferia deixar só para mim.
— Alguma coisa a incomoda ou deseja algo? — Finalmente me olhou.
— Não. — Balancei a cabeça. — Já está de saída?
— Sim. Tenho coisas a resolver. — Veio até onde eu estava para que eu pegasse Nina no colo.
— Claro, você é um homem ocupado — fui irônica.
— Quer dizer alguma coisa? — Franziu o cenho.
— Não, não tenho nada a dizer. — Evitei olhá-lo nos olhos.
— Acho que está bem ranzinza. E isso quer dizer que tem algo para falar — insistiu.
— Você é o homem que sabe de tudo, não é? — Eu estava chateada mais comigo mesma do que com ele. — Então, por que eu devo dizer algo?
— Giulia! — repreendeu-me.
— Você sempre escolhe a sua família — disparei.
Eu disse para ser esperta, não boba.
Dante riu ao abaixar a cabeça. Sentia-se desconfortável. Pelo menos era o que parecia.
— Giulia. — Voltou a me encarar, dando curtos passos até mim. — Você vai me odiar a vida inteira pelo que fiz. Eu já entendi. — Novamente, revirei os olhos. — E confesso que mereço ser torturado por você. Mas como eu já disse... — Está perto demais de mim, começando a me causar claustrofobia. — Tenho sentimentos por você que me fariam largar tudo que tenho só para poder tê-la de volta.
— Você disse? Eu não me lembro. — Ele não falou isso. Talvez com outras palavras.
O que é que está acontecendo? Você está cogitando?
— Duvido muito das suas palavras — ironizei. — Vive pela sua família. Até parece que eles não conseguem viver sem que você arrume tudo.
— Não é verdade — negou piamente.
— E qual a verdade nisso, Dante?
— A verdade é que eles são minha única família. Não há diferença entre nós. Tenho uma dívida eterna com a mãe deles e me sinto responsável pela segurança de todos. — Dívida eterna? — Você acha que eu quis, de todo o coração, deixar você? Não, eu não quis. — Dei um passo para trás, tentando desviar meu olhar do seu. — Achei que estivesse fazendo o certo. Não posso errar pelo menos uma vez na vida? Acredite: nunca, no mundo, eu deixaria ou pensaria em permitir que alguém a machucasse. Não quero deixar você aqui, não quero deixar a minha filha aqui, longe de mim, mas farei o que for possível para as proteger. E não duvide dos meus sentimentos, pois apesar de tudo de errado que já fiz, não me arrependo de nada do que fizemos juntos. Então, pare de me ver como um monstro.
— Eu também amo você, mas não significa que o perdoar seja algo fácil — as palavras saíram pela minha boca com tanta facilidade, que nem tive tempo de filtrá-las.
Ficamos parados, com um encarando o outro por um bom tempo. Tentei me calar o máximo que pude. Essa revelação já me custaria uma noite longa na cama.
— Eu sei — ele finalmente disse algo. — Espero que um dia você possa me perdoar.
— É o que espera de mim? — Levantei uma das sobrancelhas e estreitei os olhos.
— Espero que o amor que sentimos um pelo outro seja forte o bastante para virarmos essa página.
— Espero que tenha tempo de sobra, pois acho que isso vai demorar.
— Espero o tempo que for.
Ouvimos alguém se aproximando de nós, portanto desviei o olhar do seu, afastando-me dele. Era difícil ficar a passos de Dante sem que meu corpo idiota não pedisse incansavelmente pelo seu.
— Tudo está pronto para irmos, senhor — falou um dos seus guarda-costas.
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A filha rejeitada do mafioso
ChickLitsegundo livro da duologia: Irmãos Mitolli livro 1: o bebê herdeiro da máfia Ele se apaixonou pela filha prometida do capo e a largou grávida por conta de uma promessa. Dante era o mais velho dos irmãos Mitolli. Era ele quem coordenava e comandava os...