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Giulia

Deus! Eu estava nervosa com tudo aquilo. Nunca me imaginei casando com um mafioso. Óbvio que meu casamento firmado com o braço direito do meu pai já era uma certeza, porém, naquela época, eu pensava em fugir ou fazer alguma coisa para que isso não acontecesse.

Então, eu me via em uma loja chique da Grécia, encarando uma imensidão de vestidos brancos e tendo que escolher um para o meu casamento com Dante, que não se comparava ao meu primeiro noivo.

O frio na barriga fazia eu me sentir novamente com vinte e um anos, quando conheci Dante naquela festa. O arrepio na espinha, a incerteza... Sempre que eu me recordava daquele dia, meu coração palpitava e eu sentia uma ansiedade inexplicável.

— Não acho que precisa de tanto — praticamente sussurrei, observando a loja e as moças bonitas sorrindo para nós, querendo nos agradar. Uma delas até encarava meu noivo com olhos famintos, e isso me deixou com raiva. — Você mesmo disse que quer uma coisa simples.

— Não significa que eu não possa dar a você um casamento de verdade. — Em seus braços, Nina estava alheia a tudo que acontecia ao seu redor, brincando com um brinquedo de silicone que usava para mastigar. — Quero a minha noiva linda. Muito mais linda do que já é.

— Não exagere — pedi, revirando os olhos, e comecei a prestar atenção nele. Ele tinha um sorriso largo no rosto. — Quando sua família chega?

— Em breve — respondeu rápido. — Não posso dizer com exatidão. Eles têm a habilidade de me surpreender. Mas não se preocupe.

— Como não? — questionei ao respirar fundo. — Eu só estive uma única vez no mesmo espaço que eles e nós nunca nos falamos.

— Meus irmãos são bem acolhedores, apesar de irritantes, e você já faz parte da família. Vocês duas fazem. — Eu não sabia se isso era verdade.

Os Mitolli eram conhecidos por serem uma família que se destacava das demais. Eles sempre estavam por cima, comandando tudo. Eu me sentia uma intrusa, uma plebeia no meio dos ricos. Minha filha tinha sangue Mitolli, mas eu era a filha do traidor.

— Bem, vou deixar você nas mãos dessas mulheres especialistas em vestidos. Não faz muito o meu estilo escolher roupa. Vou dar um tempo para você, passeando pela cidade com a minha filha. — Beijou a testa dela.

Era lindo ver que os dois estavam tão próximos. Ele, apesar do homem que era, a cada dia que passava se tornava um pai amoroso. O que só me fazia amá-lo ainda mais.

— Acredita que me ver de noiva vai dar azar para o nosso casamento? — perguntei brincando.

— Não sou de acreditar nessas coisas.

— Certo.

Antes de eles saírem, beijei minha filha, e depois deixei um beijo nos lábios dele. Nem me importei se estava sendo observada pelas mulheres lindas, magras e elegantes que trabalhavam na loja.

— Encontro vocês depois.

***

Já fazia muito tempo que eu não ia a lojas chiques e comprava roupas novas. Pensei que seria um saco, mas até que me diverti. O vestido que escolhi não era um tradicional, mas também não era muito extravagante. Ser branco era de praxe. O corte era simples, ele tinha pouca renda, era caído, só com uma fenda nas costas, com mangas longas e nada de muito brilho. Para Nina, escolhi um vestido que a deixaria linda e fofa como um anjinho.

Empolguei-me e comprei, em outra loja, algumas outras coisas. Ultimamente me sentia como uma velha, usando roupas largas e sem muitas cores. Era óbvio que eu não iria voltar a ser como antes, no entanto o meu estilo sempre foi estar elegante e sexy. E eu estaria, ainda mais porque iria me casar com um Mitolli.

Em uma mensagem de texto, Dante disse que estava à minha espera e que havia deixado dois de seus seguranças comigo, assim como o motorista. Depois que coloquei as bolsas no porta-malas, seguimos para o local.

Na noite passada, eu tinha me sentido tensa ao saber da família dele em nosso casamento. Eu sabia que faria parte dela, mas, lá no fundo, ainda guardava um temor irracional. Sempre que íamos dormir, no meio da madrugada, eu acordava e olhava para ele dormindo ao meu lado. O medo de que tudo fosse um sonho não conseguia sair de mim.

Um mês inteiro e eu ainda não havia me acostumado. Algo me dizia que isso iria acabar e que, novamente, eu teria que juntar os meus caquinhos.

Passei o caminho todo pensando. Só notei que havíamos chegado quando o cara alto, de rosto sério, saiu do carro e abriu a porta para que eu saísse.

Desde que cheguei à Grécia, nunca tinha ido àquele lugar. Era fim de tarde, apesar do dia estar claro ainda. O local era lindo. A cidade de Atenas era linda, com os monumentos e casas antigas. O restaurante era o mais típico possível, com cadeiras e mesas de madeira ao ar livre e plantas em vasos por todo o lugar. Tudo de frente a uma paisagem perfeita.

Andando para dentro do estacionamento, vi que ele não estava cheio. Dois homens, que faziam a guarda de Dante, estavam muito bem posicionados. Nina dormia no carrinho e ele estava um pouco afastado dela, olhando para a vista enquanto falava ao telefone.

— O que foi que eu disse sobre mantê-lo por perto e vigiado? — Eu o ouvi perguntar, furioso, e o arrepio percorreu pelo meu corpo, fazendo-me parar no meio do caminho. — Não quero saber de desculpas, Gabriel. Ache-o o mais rápido possível. Você não vai querer que eu vá até aí lhe ensinar como fazer o seu trabalho. — Desligou o aparelho, ainda muito agitado.

O frio na barriga era por eu pensar que ele, de novo, iria embora para resolver sei lá o quê.

— Com quem estava falando? — perguntei ao me aproximar dele. Minha voz saiu trêmula, a ansiedade atacou e eu senti minhas mãos suarem. — Vai sair outra vez para resolver seus assuntos de trabalho?

Ao me perceber, Dante se virou e me encarou, surpreso. Eu o peguei despercebido.

— Não, Giulia. Não é isso. — Ele veio em minha direção, mas eu recuei.

— Então, o que é? — Estreitei os olhos, desconfiando dele. — O que, Dante? O que o levaria a me deixar novamente?

Vi que ele recuou e me olhou. Eu senti que não queria dizer o motivo.

— Seu pai — finalmente disse, paralisando-me. — Ele sumiu do meu radar.

A filha rejeitada do mafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora