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Dante

Sempre me orgulhei de ser um homem que não se abalava por nada e que tinha um foco no trabalho que me ajudava a ser o melhor no que eu fazia, mas aquelas últimas três semanas só serviram para me mostrar que eu não era nada disso. Ser comparado a outros me irritava até certo ponto. Eu era humano e, constantemente, cometia erros.

Contudo, nunca imaginei que estaria rendido por uma mulher e que meus pensamentos fossem roubados para onde Giulia e minha filha estivessem.

Dizer em voz alta que eu tinha uma filha ainda era estranho. Nunca imaginei que isso poderia acontecer e não sabia como alguém tão minúscula e frágil poderia me fazer tanta falta.

Não era como se eu fosse o homem mais normal e o melhor do mundo. Na verdade, muitos me consideravam um monstro; outros, como Giulia, um traidor. No passado, eu sempre disse que nunca passaria o meu DNA adiante, portanto não poderia imaginar que algo assim fosse acontecer. Não pensei que amaria uma mulher como eu amava a mãe da Nina. E imaginar que elas estavam longe de mim trazia ao meu peito um vazio.

Tentei, de muitas formas, relaxar e esquecer isso, sabendo que elas estavam seguras em outro país. Mas então me vinha a dúvida: "Como elas estão? Onde estão? Será que a menina sente minha falta?"

Tolices de um homem que ainda não entendia que crianças da sua idade mal notam o que se passa aos seus arredores. Com certeza aquelas últimas duas semanas em que estive com ela não foram suficientes para que a garota pudesse se apegar a mim e que ela me esqueceu no segundo seguinte.

Então, depois desse tempo tentando me concentrar no trabalho, e não na Grécia, decidi voltar para as rever. Corri para lá como um idiota. Se Giulia soubesse que estou completamente rendido por ela, usaria isso contra mim.

Nada que acontecia na Grécia escapava dos meus ouvidos, portanto eu soube, desde o momento em que cheguei, que elas não estavam na casa. Bem... Quem seria eu para as impedir? Esse era o sonho de Giulia: ser livre; tanto de mim, como do pai. Na verdade, seria bom para as duas viverem nesse país, longe de tudo.

Inclusive de mim. Mas essa parte é mais difícil.

Óbvio que eu não levava jeito para ser pai. Tive o pior exemplo disso que alguém poderia ter. Porém, sempre que a garota dos olhos castanhos iguais aos meus me olhava, uma sensação estranha brotava no meu peito. Não era como a de desejo, que eu sentia pela sua mãe, nem como eu me sentia com meus irmãos. Era algo novo. Uma coisa que estava sempre na minha cabeça e em cada escolha que eu fazia depois da sua descoberta.

— Como foram essas três semanas aqui, na Grécia? — perguntei só por perguntar, pois não estava sendo fácil encontrar as palavras certas.

Sentia-me tão estranho tendo que pisar em ovos para a agradar, que eu não era mais eu. Tudo que eu era naquele momento era um homem apaixonado que queria passar o máximo de tempo possível com a mulher que amava e com a filha que antes não sabia que tinha.

— Como se não soubesse exatamente como foi — respondeu a loira, ranzinza.

Ela estava diferente das últimas vezes. Evitou me olhar. E a rispidez até parecia falhar em algumas palavras.

Giulia seria um desafio para mim. Como se me descobrir pai já não tivesse sido o bastante. A mulher estava magoada, e com razão. Já eu... Eu estava preso nessa teia de aranha, esperando que, algum dia, ela me libertasse e me perdoasse o mínimo possível.

— Foi um modo de falar, Giulia — eu a repreendi, sentando-me na cadeira ao lado.

A pequena Nina estava animada, pulando no colo, inquieta igual à mãe. Interagir com ela pareceu natural e não foi difícil receber uma resposta sua.

— Apesar da distância e de você não acreditar, me importo com as duas. Ficar longe foi difícil.

— Difícil por quê? — Finalmente me encarou, com uma das sobrancelhas erguidas.

Tirei minha atenção da menina em seus braços para a olhar. Era bom, enfim, ter a sua curiosidade.

— Quer realmente saber? — indaguei retoricamente. — Eu não queria ir embora. Não quero ir em hipótese alguma. Mas não sou o dono do mundo, há responsabilidades sobre as minhas costas. E se eu não tomar certas atitudes, isso pode respingar sobre a minha família.

— É sempre sobre a sua família, não é? — ironizou.

— Você é minha família, Nina é minha família. E tudo que faço é para que as duas fiquem seguras — expliquei, tentando não me irritar com as suas desconfianças.

Eu sabia que Giulia me odiava por estar sempre fazendo de tudo pelos meus irmãos, porém esse era o meu trabalho. E se ele estivesse feito, as duas outras pessoas importantes para mim estariam bem.

— Este não é lugar para discutirmos sobre isso — complementei.

— Quem disse que estou discutindo?

Essa era uma mulher difícil. Eu pensava que o meu irmão havia achado a mais teimosa do mundo, só que acabei descobrindo que Giulia era tão teimosa quanto ela.

Sempre que elevávamos a voz, sendo em qualquer situação, nossa filha ficava agitada. Bem, não era para menos. Quem gosta de ouvir brigas calorosas ou seus pais discutindo pelos cantos da casa?

— Enfim... Agora estou aqui e pretendo demorar — contei.

— O quê? — Surpreendeu-se. — Como assim pretende ficar?

— É o que ouviu — confirmei. — Você me julga por sempre escolher meus irmãos ou o trabalho, e pode ter razão.

— Tenho razão? — Desconfiou.

— O que quero dizer é que não vou embora tão cedo — continuei, ignorando a sua expressão de espanto. — A culpa foi minha por tudo que aconteceu. Eu não sabia o que aconteceria se eu a deixasse. Pensei que estivesse fazendo a coisa certa, apesar de não acreditar.

Já tínhamos brigado o suficiente e eu estava cansado. Não conhecia muito das mulheres ou sobre ser um bom pai, mas achava que ficar e tentar seria o mínimo que eu deveria fazer.

— Giulia, eu sei que não vai me perdoar assim, tão fácil, e sei que a culpa foi minha, mas eu devo isso a você e à Nina. Devo ficar com vocês. Eu não vou mais fugir ou criar desculpas. Não sou bom nisso, então vou continuar errando muito, entretanto quero estar com a filha que eu não sabia que tinha, quero ficar com você. Não vou tomar a decisão errada outra vez e ir embora, vou ficar com você.

A filha rejeitada do mafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora