22

2.8K 239 1
                                    


Giulia

Três dias desde que tudo aquilo aconteceu e eu ainda não tinha conseguido dormir um segundo. Meu corpo estava cansado e tudo doía, até mesmo o meu peito. Eu não conseguia encontrar a paz.

Como fazer isso depois de ter perdido tudo?

Não existia mais lágrimas para eu chorar e me sentia seca por dentro. Nem mesmo voz, eu conseguia ter. Fugir não era mais o que eu procurava. Na verdade, depois de ter visto atearem fogo na casa, eu queria mesmo era morrer.

Minha pequena Nina foi deixada lá com Dante ainda vivo, mas ferido, para morrer junto com ele. Nunca imaginei que, algum dia, eu fosse pedir tanto a Deus pela minha morte. Saber que os dois já não estavam à minha espera me deixou desesperada.

O primeiro dia naquele cativeiro me deixou com tanto pânico, que senti meu peito sair pela boca. Tentei sair, fugir e voltar para casa, com esperança de salvá-los, contudo eu sabia que era inútil.

Marcos me arrastou até o carro, apagou-me, depois me amordaçou e tapou os meus olhos. Quando acordei, não sabia onde estava, só o ouvia gritar, desferindo ofensas e o seu desespero. Eu não achava que meu pai havia feito isso com um plano em mente. Fugimos pelo menos duas vezes até chegar àquele lugar.

Nas últimas horas, eu o ouvi gritando outra vez, furioso e preocupado com alguma coisa. Sua preocupação era sair do país e nos levar para outro. Eu poderia não ter mais nada, mas os Mitolli não deixariam barato a morte do seu irmão, e Marcos sabia disso. Sabia que matar Dante decretaria a sua morte também.

— Arranje uma saída logo! — Eu o ouvi exigir.

O quarto onde eu estava tinha as janelas tapadas e estava vazio. Eu me encontrava no chão frio de madeira. Era tarde, talvez noite. Na última vez que ele abriu a porta para me dar algo para beber e comer coisas que eu recusei vi um feixe de luz vindo do lado de fora. Mas isso já fazia horas.

— Eles estão atrás de mim, porra! E eu lhe paguei muito bem.

Eu não fazia ideia de quem estava ajudando-o. Há pouco tempo, isso havia mudado.

Quem desafiaria uma das máfias mais poderosas do oriente?

Tolo é aquele que achou que, mexendo com os Mitolli, acabaria com um final feliz.

— Me dê duas horas. Você me deve isso, porra!

Eu queria que ele morresse. Queria ir junto. Tudo pelo que eu poderia lutar, já não existia mais, portanto eu só queria ficar com eles.

Ainda ouvi mais um pouco da conversa, e então Marcos desligou o aparelho. Eu o escutei jogá-lo contra a parede e, depois, seus passos vindo até o cômodo. Sempre que eu ouvia a chave na porta, o meu coração ia à boca, pois eu sabia o que ele faria.

A porta foi aberta com tanta raiva, que bateu contra a parede. Eu o vi entrando. Seus sapatos pretos e reluzentes vieram em cheio na minha barriga. Não satisfeito, ele ainda me chutou outras duas vezes.

— VADIA DO CARALHO! A CULPA É TODA SUA!

Eu só conseguia gemer de dor, porque ele não teve o mínimo de cautela comigo. Meu peito estava ardendo, o ar faltou e meus ouvidos começaram a zumbir. Era provável que tivesse quebrado algum osso dentro de mim.

— ESTRAGOU COM A MINHA VIDA! VOCÊ SE DEITOU COM AQUELE VERME, MESMO SABENDO O QUANTO EU ODIAVA AQUELA FAMÍLIA! — Sem piedade alguma, ele me puxou pelos cabelos, levantando o meu rosto e corpo, que já não aguentava mais ser maltratado. — EU DEVERIA TER TE MATADO QUANDO DESCOBRI QUE ESTAVA GRÁVIDA DAQUELE BASTARDO! Novamente fui jogada contra a parede.

A filha rejeitada do mafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora