Repostando a pedido
Histórias de terror normalmente começam como a minha, uma família comum se mudando para uma casa antiga depois de uma tragédia.
A casa era linda e ficava rodeada por uma floresta, os quintais largos deixavam a casa mais afastadas, o que dava muita privacidade. Coisa que aprendi a valorizar depois de ter minha antiga casa rodeada de pessoas e repórteres.
O único problema era o tamanho da casa, dois andares com cômodos grandes, garagem na frente, porão, sótão e ainda um quintal grande na parte de trás, cercado apenas por uma cerca de madeira branca e baixa.
Mesmo depois de desembalar tudo a casa parecia incompleta, com vários cômodos vazios que eu ainda tinha que limpar. No dia em que começou, eu já havia limpado tudo e preparado o jantar, o Sol estava se pondo e um vento gelado atingia o quintal onde Kate fazia uma festa do chá com suas bonecas, saí para chamá-la e me surpreendi com a menina de seis anos sentada em frente a cerca e falando sozinha.
- Kate? – me aproximei colocando a mão em seu ombro – o que está fazendo?
- Falando com meu novo amigo.
Não achei aquilo estranho, nunca aconteceu comigo, mas crianças solitárias costumam criar amigos imaginários. Me abaixei e pude jurar que vi algo escuro passando pelas frestas da madeira, me assustei e levantei ficando nas pontas dos pés, olhei por toda a extensão do da cerca e na floresta, sem ver nada.
- Tá, diz tchau para ele e vamos entrar.
- Ele pode jantar com a gente, Lisa?
- Melhor não, entra.
Me convenci de que foi minha imaginação, mas nos dias seguintes isso voltou a se repetir, Kate passava muito tempo falando sozinha perto da cerca, eu não sabia explicar aquilo, apenas tinha um pressentimento ruim então a proibi de ir ao quintal, Kate ficou brava, disse que eu era a pior irmã do mundo e que queria a mamãe de volta.
- É, eu também, mas ela não está aqui, está? Ela abandonou a gente – gritei de volta – então tem que se contentar comigo.
- Eu te odeio e odeio morar aqui – ela bateu a porta do quarto com força.
Eu estava tão furiosa que não tentei explicar, deixei que ela ficasse no quarto o resto da tarde e não me importei quando a chamei para jantar e ela não veio, fui para a cama mais cedo e acabei dormindo.
Acordei de madrugada com a boca seca e desci para pegar um copo d'água, parei enfrente a pia dando um grande gole e quando voltei minha cabeça percebi algo além da cerca entre as árvores, não conseguia ver bem, parecia a forma de um homem, alto e magro, roupas pretas e a cabeça sendo uma bola branca.
Os olhos enganam, mas quanto mais que eu olhava, mais parecia uma pessoa, fui para a porta e a tranquei, voltei para a janela e agora o homem estava mais perto da cerca e havia saído do meio das árvores, embora galhos grandes e compridos saíssem de trás dele, ou pareciam galhos, fiquei encarando por algum tempo sem saber o que fazer, tentando me lembrar se havia trancado a porta da frente.