Suor escorria pela minha testa, eu tentava alcançar os sapatos a qualquer custo, mas toda vez que inclinava para frente perdia o ar. Me deitei na cama e busquei a varinha, me estiquei o quanto podia, e ainda assim, ficou faltando alguns centímetros, me faltou ar outra vez, virei de lado para respirar melhor, era tudo o que eu podia fazer.
- Você é patética.
Olhei para o homem de braços cruzados encostado na porta me sentindo exatamente assim.
- Eu só queria amarrar os tênis, já que não consigo mais usar sandálias.
Lucius soltou os braços e caminhou devagar até a cama, me oferecendo as mãos.
- Vem, eu vou te ajudar.
Segurei suas mãos e ele me ajudou a me sentar. Se agachou na minha frente e laçou os tênis para então colocar a barra da calça legging no lugar, única peça que não incomodava minha barriga.
- Já penteou o cabelo?
- Nem consegui sair da cama - respondi muito mais mau humorada que o necessário, estava me sentindo péssima.
- Sente-se aqui, eu te ajudo.
Me levantei com tana dificuldade que minhas costas estalaram duas vezes. Me sentei na frente da penteadeira, evitando olhar para o espelho porque sabia o que veria nele, manchas no rosto ressecado, cabelo desgrenhado com a raiz grande demais em uma cor muito diferente das pontas.
Lucius puxou meu cabelo, eu reclamei, ele continuou. Outro puxão e não me aguentei, virei de uma vez e acertei um tapa no rosto dele, foi um choque para nós dois, ficamos congelados por um momento, a mão parada no meio do caminho ardendo como prova de que realmente aconteceu, Lucius soltou a escova na penteadeira e se afastou dando alguns passos para trás antes de se virar e sair do meu quarto.
Um quarto que antes era nosso.
Mais uma vez eu estava chorando, não entendia por que estava agindo daquela maneira.
Quando eu e Lucius nos conhecemos tudo era tão perfeito, ele era carinhoso comigo e eu era gentil com ele, sempre correndo atrás como um cachorrinho que nunca deixava de ser recompensado. E o mais importante, a gente vivia tirando a roupa, o que não acontecia a meses.
A descoberta da gravidez veio logo depois do casamento, não foi planejado, embora não tenha sido nenhuma surpresa já que trepávamos feito coelhos.
Eu estava de seis semanas, ou um mês e meio se tiver dificuldade para contar assim, logo depois tive o primeiro enjoo e com ele um angustia imensa toda vez que Lucius chegava perto de mim.
Eu não queria que ele tocasse em mim, depois não queria ouvir sua voz ou sentir seu cheiro, então, até sua presença começou a atacar as crises de enjoo.
Ele mudou de quarto e não me disse para onde foi, nossos dias passaram a ser repletos de discussões sem sentido que só nos machucavam, com o tempo ele parou de discutir, não respondia mais as minhas provocações e muitas vezes nem as minhas perguntas.