As piores vagas de emprego sempre são ocupadas por estudantes tentando pagar a mensalidade da faculdade, eu me enquadrava na categoria então fui contratada. Me convenci que trabalhar a noite me daria mais tempo para estudar, embora eu já me sentisse extremamente cansada no terceiro dia.
Pra piorar, eu não tinha um posto, fui contratada como stand, ou seja, cobria folgas dos vigias noturnos em vários lugares em que a empresa de terceirização prestava serviço.
Naquela noite, mandaram o endereço por mensagem e precisei jogar no Waze para saber como chegar. Vesti um uniforme que consistia em uma calça cargo azul escura, mesma cor da jaqueta de sarja e uma camiseta branca escrito Security no peito, peguei a mochila e saí.
O meu erro foi ter parado na loja de conveniência no caminho, quando me aproximei, vi uma velha senhora com roupas sujas e cabelo desgrenhados na porta, ela implorava por esmola estendendo a mão para qualquer um que passava.
Abaixei a cabeça e tentei passar por ela sem ser vista, não funcionou.
- Desculpe, eu não tenho nada.
- Uma moeda, qualquer valor, eu estou com fome – ela implorava chorosa, impedindo o caminho.
- Eu só estou com o cartão, desculpe.
- Então compra qualquer coisa pra eu comer.
Consegui passar por ela e entrei, o cheiro dela parecia ainda estar impregnado em mim, andei pelos corredores pegando tudo o que eu podia comer na noite e não custasse muito, salgadinhos, chocolate, refrigerante. Meu dinheiro ia acabar logo se continuasse assim.
Parei na fila do caixa, ouvindo a mulher lá fora implorar para outra pessoa, o atendente me chamou, decidi de última hora ajudar aquela mulher e peguei um pacote qualquer na prateleira.
Passei minhas compras, coloquei tudo na mochila, abrindo espaço entre a troca de roupa que eu era obrigada a carregar já que ia direto para a aula no outro dia e pedi que o atendente colocasse o último em uma sacola, na saí ela voltou para pedir de novo, entreguei a sacola e segui caminho.
Não dei mais que dois passos quando a ouvi gritar ás minhas costas.
- Biscoitos de cachorro – me virei assustada para ela que vinha com fúria em minha direção – é isso o que acha que eu sou?
- Desculpa, foi sem querer eu não sabia...
- Mentira, você é uma pessoa má – havia ódio em sua voz, ela segurou minha mão com força e apertou a unha na minha palma, senti furar e enquanto eu tentava me soltar ela sussurrava palavras estranhas que eu não conseguia entender.
- Me solta – gritei em desespero.
Ela abriu a mão e caí de costas no chão, me afastei assustada e me levantei com dificuldade, ainda encarando ela.