。✧˚ oito.

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Henrique.

Palmas, TO.

20 de abril de 2005.

Teca?

Quando eu chamei por ela, aquele olhar deslumbrado me encontrou. Maitê sempre teve o olhar marcante e não era o choro evidente que diminuiria aquilo — na verdade, as lágrimas ressalvam o seu olhar, fazendo com que tom de azul se tornasse ainda mais intenso. Eu me perdi naquela imensidão, sentindo cada milímetro do meu corpo ser consumido, ainda que de forma inconsciente por ela.

— Não diz nada. — ela suplicou baixinho, ainda com a voz embargada.

Seu nariz então tocou minha bochecha e eu compreendi seu gesto como uma tentativa de se aproximar. Sorri, meio de forma involuntária, diante da sua reação, e eu poderia facilmente me perder ali, se não fosse pelo contato com sua pele úmida, devido ao choro. Aquela sensação me fazia perceber como tudo ali era real.

Meu coração bateu mais rápido, como se silenciosamente implorasse para que eu deixasse de resistir. Eu tentei me convencer de que era a ideia era terrível, mas algo dentro de mim seguiu suplicando. Não era apenas uma vontade, àquela altura, havia se tornando uma necessidade.

— Eu preciso te pedir uma coisa. — insisti.

A menção pareceu atrair sua atenção. Maitê voltou a me encarar, com o olhar transbordando curiosidade e eu me vi fascinado. O seu olhar, vidrado daquela forma, intensificava meu desejo ainda mais.

— O que é?

Talvez ela soubesse das minhas intenções. Eu suspeitei no momento em que ela deixou de tratar o assunto com apenas aquela curiosidade palpável para observar meu rosto, com o olhar recaindo especificamente sobre a minha boca.

Eu sabia o que ela queria. Talvez eu soubesse a muito tempo, desde aquela confissão sobre o meu primeiro beijo. Eu tentei de todas as formas fazê-la enxergar que não havia significado nada e que o tempo inteiro, quando eu mencionava a possibilidade de beijar outra pessoa, era ela em quem eu estava pensando.

Talvez o medo tenha falado mais alto e se sobressaído da minha coragem — um talvez que me parecia mais uma certeza — mas não vinha ao caso. Eu só... pensei que, diante daquela possibilidade de nunca mais ver Maitê, eu não podia apenas dar as costas e deixar passar.

— O que foi, Henrique? — ela repetiu, impaciente.

Seu rosto estava mais distante do meu, o que me fazia contemplar com mais facilidade sua expressão. Embora cada milímetro do seu semblante me dissesse que ela queria, seus lábios trêmulos me diziam que Maitê também tinha receio. E, entre aquela incerteza, eu ainda assim preferi arriscar e seguir em frente.

Eu posso te beijar? — questionei, em um sussurro.

Maitê piscou algumas vezes. Aquele olhar curioso cedeu espaço a um olhar um tanto receoso, como se ela pudesse virar as costas a qualquer momento. Mas Maitê não fez. Ela seguiu me observando, parecendo criar coragem para, por fim, me questionar:

— Você quer me beijar?

— Eu sempre quis te beijar, Teca.

A rua se encontrava um breu. A pouca iluminação não colaborava para que eu conseguisse enxergar Maitê com exatidão. No entanto, eu consegui perceber uma coisa em particular: Maitê tinha as bochechas coradas e, por conta daquele gesto, também tentava encolher os ombros, possivelmente determinada a criar uma distância entre nós.

Intempérie | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora