。✧˚ oito.

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Maitê.

— Você parece nervosa.

A declaração de Jéssica irrompe aos meus ouvidos enquanto faço esforço para esfriar a xícara de café. Procuro por minha prima e encontro uma expressão impassível no seu rosto. É difícil dizer o que ela pensa, ou deixa de pensar nesse momento.

— É porque eu tô. — Apesar do meu empenho, é impossível conter o sorriso nervoso quando olho para Jéssica. Sentada na outra extremidade da mesa, ela estranha meu comportamento. E, por mais que eu não queira falar sobre o assunto, sei que recuar não é minha melhor ideia, por isso assumo em um suspiro derrotado: — Te contei que o Henrique vem buscar o Teo daqui a uma hora?

Não! — A exclamação de Jéssica me soa como um espanto. Eu disponho a xícara sobre a mesa. O assunto parece ter consumido todo o meu apetite. — O que você quer dizer com buscar o Teo?

— Ele me pediu para passar o dia com o Teo, e eu concordei. — Digo, sem esforço. Jéssica não me parece convencida.

Apesar de ter sido a primeira pessoa e me dizer que evitar essa situação não seria a melhor maneira de lidar com tudo, Jéssica sabe perfeitamente o que isso significa para mim — e concorda parcialmente com a ideia.

— E você cedeu assim, sem mais nem menos?

— Olha, eu não tô cem por cento confiante disso, mas eu sei que eu preciso deixar ele ter contato com o pai, e eu não posso intermediar isso todas as vezes, Jé. — Argumento, estendendo a palma da minha mão contra a mesa. — Eu assumi esse compromisso no minuto em que decidi contar isso para Teo, apresentar o Henrique como pai dele. O que eu posso fazer?

Jéssica assente. Como eu, ela não parece contente, mas sabe que é o que Matteo precisa no momento. Eu já privei ele de anos de convivência, e embora não me sinta errada quando penso em Henrique e tudo ao que eu me submeti por ele no passado, me sinto terrível ao pensar na perspectiva de Matteo.

— Você não parece muito feliz com isso. — Jéssica constata. Eu sorrio de nervoso. Então, me ocorre que ela não sabe o que aconteceu da última vez em que estive com Henrique.

Contar não me parece a melhor das ideias, mas é o tipo de coisa que viria à tona em algum momento, então é melhor que seja logo. Puxo a xícara de café e beberico a ponto de apenas molhar aos lábios, adiando para dizer

— É, da última vez que eu vi ele, a gente-

— Vocês se beijaram? — Ela supõe quando eu não consigo levar a frase adiante. Talvez Jéssica esteja sendo otimista por demais. É o que seu sorriso me diz agora.

— A gente transou. — Confesso, e então seu sorriso se esvai junto de qualquer outro resquício mínimo de entusiasmo.

— É o que?!

Jéssica leva alguns instantes para processar a notícia. Quando seu sorriso retorna, sei que não é a premissa de algo bom.

— Vocês estão empenhados em dar um irmãozinho para o Teo, hein?

— Jéssica, irmãozinho? — Repito com o horror.

— Sabe, quando o desejo fala mais alto e duas pessoas são irracionais, o preservativo pode convenientemente sumir. Algo me diz que foi assim que o Teo foi feito. — Ela comenta com um sorriso tendencioso. Eu contenho a vontade de revirar os olhos.

— Você sabe que eu sou laqueada, certo? — Questiono, mas, no momento em que Jéssica leva um gole de café à boca, me olha com surpresa explícita no olhar. Sem precisar de um questionamento, me explico: — Eu fiz pouco depois que o Teo nasceu, quando eu entendi que eu não queria ter outro filho. Você sabe que a maternidade foi um grande baque para mim. Eu sabia que eu não queria me submeter a isso de novo.

Intempérie | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora