。✧˚ seis.

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Henrique.

Porto Nacional, TO.

11 de maio de 2021.

Henrique? — ouvi chamarem por mim e, sem esforço, ergui a cabeça a tempo de ver Fernanda deixando a porta da sala.

Na garagem, eu mexia sobre o motor do carro como se eu soubesse de alguma coisa, mas a verdade é que, naquele momento, eu fingi concentração apenas para tentar me esquivar dela. Eu sabia que nenhuma conversa centrada iria sair dali e eu estava exausto de confrontá-la, por mais que eu soubesse que eu estava errado. Por um diazinho só, eu queria ter a sensação de que tudo estava bem, para que eu pudesse recuperar meu fôlego e ir adiante.

Aquele final de semana havia sido difícil, para dizer o mínimo. Maitê havia ido embora do hotel na manhã de sexta, sem dizer nada. Quando me virei na cama, esperando encontrá-la, recebi apenas um punhado de lençóis vazios. Minha frustração foi grande, mas eu me contive. Estava de ressaca, muito indisposto e me questionando a todo momento o que eu havia feito de tão grave para merecer aquele desprezo. Infelizmente eu não havia chegado a nenhuma resposta e condenava minha versão bêbada por aquilo. O que for que eu tivesse feito, nem minhas centenas de mensagens de desculpas haviam sido suficientes para fazê-la ceder.

— Oi, Fer. — respondi, não me alongando em apelidos carinhosos e desnecessários.

Claro, além de Maitê, ainda havia Fernanda. Nós também não tínhamos conversado desde aquela discussão. Eu cheguei em casa na manhã de domingo, direto para a casa dos meus pais, onde estávamos recebendo uma parte da família. À noite, finalmente em casa, ela simplesmente pegou os próprios pertences e foi dormir em um quarto de hóspedes. A segunda-feira transcorreu da mesma forma; sem um dirigir a palavra ao outro, mas fui eu quem deixou o quarto de noite, sabendo que era o mínimo que eu poderia fazer. E era daquela mesma forma como eu pretendia levar a terça-feira, até o momento em que ela apareceu.

— Eu sei que você 'tá' meio ocupado, mas a gente precisa conversar.

Sua declaração fez com que eu me agarrasse a lataria com carro com ainda mais força, embora tenha tentado não demonstrar. Ela ter se aproximado sorrateira daquela forma, murmurando aquele tipo de coisa, me dizia que ela só pretendia chegar em um lugar.

— O que foi? — questionei, ainda de costas, sem a intenção de levar o meu olhar até ela.

— Será que você pode me olhar? Ou até isso você vai começar a evitar agora? — ela supôs, com o tom carregado de angústia.

Cedi, sabendo que não havia alternativa. Dei as costas para o carro, apoiei meu corpo contra a lataria e cruzei as pernas, em uma postura defensiva. Fernanda suspirou antes de dizer:

— Olha... a gente precisa começar a ser honesto um com o outro.

— O que você quer saber? — murmurei, um pouco cansado de tudo aquilo. Eu sabia que ela tinha razão, mas não sabia o porquê ela precisava me interromper naquele momento.

— Você anda me traindo, Henrique?

Seu tom foi natural, como se aquele assunto fosse corriqueiro e banal. Sua postura também não era agressiva ou hostil — o que me dizia que Fernanda tentava levar tudo de forma pacífica, independente da resposta. No entanto, nem mesmo sua postura foi capaz de me convencer a ser sincero de forma tão espontânea. Segui rondando Fernanda, para me certificar das suas intenções:

— De onde veio isso?

— Do óbvio, não é mesmo? — ela cruzou os braços, relaxando os ombros, e me dirigiu um sorriso triste. — Você não para mais em casa. Quando você 'tá' aqui, ou é porque seus amigos estão aqui, ou a sua família, ou as crianças, mas... por mim, você nunca está. Você sempre finge estar ocupado com alguma coisa, ou tem algum compromisso que você só lembrou em cima da hora...

Intempérie | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora