Henrique.
Palmas, TO.
16 de abril de 2025.
A minha primeira reação com a proposta de Maitê é um sentimento intenso de surpresa. De tudo o que eu pretendia e esperava que esse dia se tornasse, nada poderia ser tão inusitado e casual quanto uma mera cerveja com... a mãe do meu filho — uma relação ainda complexa e indefinida, cuja única definição é essa. No entanto, ainda que seja terrivelmente inusitado, nada poderia me impedir de aceitar. É uma maneira de me aproximar de Maitê, o que eu tenho tentado sem sucesso desde que ela voltou ao Brasil.
Após buscar pela cerveja na cozinha, ela cede espaço no sofá, e eu me acomodo com certo desconforto. Eu não sei com exatidão o que dizer, ou como começar uma conversa com ela, porque a cada vez que eu abro a boca, tudo parece sair de controle. Maitê, por outro lado, não parece a mesma pessoa apreensiva de antes. Ela trata tudo com uma naturalidade excessiva, e eu não tenho certeza se o seu objetivo é me intimidar diante disso ou se não é proposital de maneira alguma, mas a verdade é que eu me sinto terrivelmente aterrorizado.
— Sabe, eu tô bem curiosa para saber o porquê você tá tão interessado na minha vida pessoal — ela repousa a cabeça contra o encosto do estofado, mas tem um sorriso leve e um semblante que em nada me recorda a mesma pessoa tensa de momentos atrás. Se ela está sendo passivo-agressiva? Acho que estou há pouco de descobrir.
— Eu preciso deixar claro a minha pretensão? — insinuo.
— Sim, porque, pelo que eu me lembre, da última vez que a gente transou, você me mandou embora dizendo que... — eu até me empenho para balançar a cabeça, insinuando que eu me recordo, mas sem sucesso; ela relembra, da mesma maneira. — Eu tinha inveja da sua família porque eu ainda não tinha conquistado a minha, e provavelmente não iria conseguir por causa da minha idade.
É, é exatamente como eu me lembro daquela noite. Uma noite que supostamente deveria ser feliz, mas eu fui capaz de estragar tudo com a minha ignorância.
A julgar pelo olhar de Maitê, ela está a espera de um pedido de desculpas. E eu poderia providenciar, mas eu sei que ela não acharia genuíno. Por isso, eu me contento em dizer:
— Eu fui um infeliz.
— Ah, você foi. Mas, no final das contas, você tava certo — o tom de voz se arrasta ao final da frase, demonstrando certo desconforto e antipatia. — Não sobre eu sentir inveja, mas...
— Não, Teca, eu estava errado, sim — quando ela percebe que eu tenho algo a dizer, endireita a postura, e se atenta a mim. Eu sinto a tensão crescente pelos meus músculos, mas não me retraio quando afirmo: — Você é uma mulher linda e inteligente, e qualquer cara seria muito sortudo de ter uma família com você. Olha só o trabalho que você tá fazendo com o Teo, totalmente sozinha. Isso é muito admirável.
De alguma maneira, ela parece incomodada com essa menção. Seu primeiro gesto é levar a garrafa de cerveja à boca e então, após um gole, ela acrescenta:
— Sim, mas, eu já tinha meus trinta e dois anos e ainda não tinha qualquer pretendente à vista. Se eu quisesse ter filhos, e fazer isso planejado, talvez já fosse tarde demais.
De repente, me ocorre, aquele nome citado por Matteo durante o almoço. Ela esteve com alguém durante os últimos anos, mas não aparenta estar mais em uma relação. Um término seria o motivo perfeito para que ela voltasse ao Brasil, ainda mais sob uma natureza tão peculiar e... de certa maneira, secreta. Talvez eu esteja sendo invasivo, mas eu decido avançar:
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Intempérie | Ricelly Henrique
RomanceIntempérie é uma palavra de significados extremos. Pode-se referir a fenômenos climáticos intensos ou a catástrofes lastimáveis. Nessas circunstâncias, também pode ser usada para definir o relacionamento entre Maitê e Henrique; curto e intenso, na m...