Henrique.
Porto Nacional, TO.
16 de abril de 2025.
— Henrique? — o questionamento é acompanhado por uma batida solitária na porta. Eu me afasto apenas a tempo de ver meu irmão adentrar o closet, sem antes me perguntar se pode ou sequer se eu estou vestido. No entanto, ao adentrar o pequeno espaço, é a primeira coisa que ele faz questão de enfatizar: — Ih, tá indo pra onde, vestido assim?
— Como se eu tivesse arrumado — resmungo em resposta, ajeitando a gola da camisa polo.
Fiquei um pouco em dúvida sobre o que vestir hoje. Pensei em ir de maneira totalmente informal e despojada, mas eu não acredito que passaria uma boa impressão em Maitê. Eu ainda não tenho planos formais de conquistá-la, justamente porque minha prioridade é Matteo, mas eu sei que preciso de empenho se quiser ter a chance de conviver com meu filho — e me vestir de acordo, infelizmente, é uma das poucas coisas que podem firmar essa ideia de seriedade.
— Cê num usa camisa polo a menos que cê esteja indo pra reunião do escritório. Ou algum evento da fazenda — há um breve momento de silêncio, em que aproveito para alisar o tecido, em frente ao espelho. Logo em seguida, meu irmão se encarrega de dizer: — Espera, eu deixei passar algum compromisso?
— Não, Nim, isso não é sobre trabalho.
— Ah — ergo meu olhar a tempo de vê-lo torcer o maxilar. Ele não quer me perguntar de forma direta, embora sua curiosidade esteja aguçada, por isso ele segue supondo:— Isso seria então sobre uma mulher? Jurava que cê e a Fernanda ainda tavam naquela...
— É mais complexo do que isso — admito, sem entrar em detalhes. Juliano me observa pelo reflexo. Ele não faz ideia do que se trata. É nesse momento que respiro fundo e, a contragosto, trago o nome dela? — Cê lembra da Maitê, certo?
— A Teca? — Juliano não deixa de esconder o sorriso. — Seu primeiro amor?
— É, a Teca — relembro com melancolia, mas volto a me lembrar do que estou falando logo no momento seguinte. — Enfim, você lembra que a gente teve um caso uns anos atrás...
— Como esquecer, né? Você faz a merda, mas a merda acaba caindo em mim.
Minha primeira reação talvez fosse rir, mas eu me contenho. Sei que Juliano ainda tem ressentimento pela forma como isso refletiu no seu relacionamento, embora tenha sido algo passageiro. Ele jamais faria algo do tipo com Mohana.
— Eu já te pedi desculpas por isso...
— Sim, sim, vai em frente — me encorajando a seguir em frente, ele demonstra que não tem intenção de voltar no assunto. Eu assinto, de forma breve e contida. Não há necessidade de se estender no assunto.
De repente, eu perco as palavras. Já tem algum tempo — algumas semanas — desde que Maitê voltou ao Brasil e, desde então, tenho tentado encontrar uma forma de abordar o assunto com a minha família. Já tentei, por diversas vezes, mencionar ao meu pai, mas nunca consegui levar adiante. Não sei nem sequer o porquê. Talvez seja medo da rejeição, medo dos julgamentos. Meus pais não apoiaram meu divórcio com Fernanda, apesar de eu estar constantemente alegando que foi o melhor para nós dois. Agora, no entanto, diante de Juliano, eu não sinto que eu precise recuar. Eu posso falar sobre. Vai estar tudo bem.
— Ela voltou pro Brasil, Nim...
— E você voltou a ter um caso com ela? — ele deduz, como se fosse incapaz de apenas calar a boca e esperar com que eu fale. Encaro meu irmão pelo reflexo do espelho, mas ele não retribui o gesto. Ele está imerso nos próprios pensamentos. — Eu não esperava que ela...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Intempérie | Ricelly Henrique
RomanceIntempérie é uma palavra de significados extremos. Pode-se referir a fenômenos climáticos intensos ou a catástrofes lastimáveis. Nessas circunstâncias, também pode ser usada para definir o relacionamento entre Maitê e Henrique; curto e intenso, na m...