。✧˚ sete.

224 12 18
                                    

Henrique.

Porto Nacional, TO.

23 de maio de 2021.

— Onde você vai? — o questionamento de Fernanda veio no momento em que apareci na sala.

Ela me observou atentamente, de cima a baixo. Então torceu o nariz para a minha escolha de camisa, mas não aparentou estar contente por um único momento. Eu respirei fundo, ciente do que eu estava prestes a dizer e da reação que viria a seguir, mas eu não podia esconder minhas intenções dela — o que, honestamente, não funcionaria.

— Eu vou sair. — minha resposta foi simples e sucinta porque ela não precisava de nada além para supor o que eu faria.

Fernanda ainda sustentou um semblante confuso, até se aproximar a passos curtos, alcançando uma curta distância entre nós. Então, sua expressão se acendeu, mas não de forma necessariamente positiva. Fernanda parecia muito chateada.

— 'Cê' não vai passar a noite do seu aniversário fora. — sua dedução estava certa e eu não sabia como me comportar, por isso evitei seu olhar, constrangido. — Henrique, é seu aniversário!

— Eu sei bem disso. — respondi, com o tom carregado de ironia. Fernanda cruzou os braços, aparentando estar insatisfeita.

— Se sabe, então por que você vai sair?

— Justamente porque é o meu aniversário. — reforcei, dando ênfase à palavra. Ela estralou a língua, insatisfeita. — Amor...

— É seu aniversário e você 'tá' escolhendo passar a noite com a sua amante do que com a sua família. — Fernanda retrucou.

As semanas que sucederam aquela data foram relativamente tranquilas. Fernanda fingia indiferença quando eu avisava que iria sair e nem sequer me questionava onde eu estava na manhã seguinte, apenas pedia que eu tomasse um banho antes de qualquer coisa — talvez para tirar o perfume de Maitê do meu corpo.

Eu sabia o quanto estava errado, mas estar com Maitê era mais forte do que aquilo; era algo que eu não conseguia ter controle sobre. Uma vez eu disse a ela que ela fazia com que eu me sentisse desejado e eu acredito que ela tenha levado em uma conotação sexual, mas era além daquilo; Maitê sempre demonstrava interesse sobre as coisas que eu dizia, ouvia a qualquer coisa que tinha a dizer com atenção e nunca deixava de sorrir. Talvez receber tanta atenção depois de tanto tempo havia mexido com o meu emocional, por pior que fosse confessar. Não era apenas atração carnal, nunca foi.

— Eu pensei que isso estivesse resolvido entre a gente. — murmurei, sem me dar por satisfeito.

— Resolvido? — Fernanda indagou com descrença. — Não é porque eu me sujeitei a isso que 'tá' certo você passar seu aniversário fora de casa. Aprenda a diferenciar as coisas, Henrique.

— A gente vai comemorar amanhã. — relembrei, na tentativa de ser paciente. — A gente já tinha combinado isso há um tempo, eu realmente não 'tô' entendendo porque você 'tá' agindo assim.

— Combinado isso?

— A comemoração. — reforcei, mas ela não me parecia prestes a ceder.

— Sim, mas eu não pensei que você não fosse estar aqui no dia. — Fernanda seguiu contestando. Eu suspirei, sem saber como bater de frente com ela. — Se os seus pais me perguntarem, eu falo o que? Que você 'tá' transando com outra por aí?

— Que eu saí com uns amigos. — Fernanda seguiu balançando a cabeça em negativa repetidas vezes. — E que você não sabe que horas eu volto, eles não vão suspeitar.

Intempérie | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora