Maitê.
Palmas, TO.
28 de abril de 2021.
— Então... — chacoalhei a cabeça a menção da palavra, enquanto o homem ao meu lado me observava com um sorriso carregado de malícia. — Você não vai me dizer seu nome mesmo?
— Ainda não. — conclui, gesto que despertou uma reação natural nele; abrir a boca, incerto sobre o que dizer, e então se restringir a nada.
Talvez fosse um pouco cedo para que eu já estivesse em um bar, bebendo e flertando de forma casual com desconhecidos, antes das sete da noite, mas assim que o convite partiu de Jéssica, eu não soube como recusar — e nem sequer se havia motivo para recusar. No entanto, a presença dos seus amigos me fazia sentir ligeiramente deslocada e eu não tinha a intenção de ser rude com eles ou com Jéssica, por isso eu preferi pedir licença e dizer que eu ia buscar uma bebida no bar ao continuar cercada por aquela conversa que não me cativava, mas cujo homem era bonito.
— Me conta mais sobre você. — ele insistiu, mantendo a tentativa através de um sorriso. — Você mora aqui em Palmas?
O homem à minha frente era possivelmente um executivo recém saído do trabalho — ou apenas alguém que usava terno casualmente no final de uma tarde de uma terça-feira qualquer. Com cabelos cacheados ligeiramente desgrenhados e um sorriso cativante, era um pouco difícil me esquivar das suas investidas, mas eu estava sendo totalmente honesta ao dizer que eu não tinha interesse.
— Não, eu sou de fora. — mencionei de forma vaga.
— De fora onde? — ele seguiu tentando, enquanto eu balancei a cabeça em negativa e dei um gole no meu gim. — Para que você 'tá' se esforçando tanto para parecer misteriosa?
— Eu não me esforçando, eu só não saio contando informações assim para desconhecidos. Se você quiser saber mais sobre mim, você vai ter que se esforçar. Fazer por merecer.
O homem abriu um sorriso. Ele não estava nem perto de desistir e eu não sabia até que ponto eu gostava daquela sua postura. Quando ergui meu olhar para acompanhá-lo, ele avançou sobre a única banqueta vaga entre nós e se aproximou ainda mais, deslizando o copo de bebida pelo balcão de madeira. Cheguei a lançar um breve olhar a mesa onde Jéssica se encontrava, mas ela estava entretida demais durante uma conversa para perceber minha presença.
— O que mais você precisa que eu faça 'pra' te convencer de que eu sou uma boa pessoa?
Tentei encontrar uma solução que impedisse ele de avançar, mas nada me parecia suficiente. Enquanto ele ainda esperava por uma resposta, sorri de forma constrangida e constatei que eu sequer me lembrava do seu nome. Ele havia mencionado no início da conversa, ao se aproximar de mim pela primeira vez, mas após tantas tentativas de cortá-lo, certamente havia se perdido na minha memória.
— Eu posso te pagar outra bebida. — ele sugeriu.
Ergui o olhar, questionando se ele falava sério, mas sua postura seguia intacta; sua oferta era real.
— Não é me oferecendo bebida que você vai conseguir me convencer. — reforcei.
Ele parecia prestes a insistir quando alcancei meu celular. Haviam algumas mensagens recentes; meu pai, querendo saber como dia havia sido, uma amiga, também me questionando sobre a viagem e, por fim, mensagens de um número desconhecido. Cliquei sobre o único contato cujo número não estava salvo no meu celular, supondo que seria dele. Sem esforço, a primeira mensagem foi suficiente para confirmar.
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Intempérie | Ricelly Henrique
Lãng mạnIntempérie é uma palavra de significados extremos. Pode-se referir a fenômenos climáticos intensos ou a catástrofes lastimáveis. Nessas circunstâncias, também pode ser usada para definir o relacionamento entre Maitê e Henrique; curto e intenso, na m...