Maitê.
Palmas, TO.
27 de março de 2025.
— Minha única vontade nesse momento é meter a mão bem na sua cara... — sibilo baixinho, rosnando cada palavra. — ...então, se eu fosse você, eu mediria muito bem o que você vai dizer daqui 'pra' frente.
A forma como minha frase sai, de maneira despretensiosa, arranca de Henrique uma risada intensa. Eu apenas observo a situação, totalmente incrédula pela sua postura arrogante nesse momento. Existem coisas muito mais importantes do qualquer tipo de atração que eu possa vir a sentir por Henrique; em especial quando o assunto deveria ser Matteo. E ele ter coragem de presumir algo do tipo durante uma conversa dessas, faz com que eu me sinta triste.
— Eu fiz uma brincadeira, Teca.
— Eu realmente falei sério. — insisto, pela segunda vez. — Se você não colocar uma camiseta, eu vou embora para casa e vou te largar aqui sozinho. E não pense que eu vou te dar uma segunda chance.
— Tudo isso por causa de uma camiseta?
— Acredite, a camiseta é o menor dos seus problemas agora.
Henrique não parece satisfeito, mas com certeza percebe que não há outra alternativa. Sendo assim, ele me dá as costas e caminha até o outro extremo da cama, não apenas alcançando sua camiseta, mas a vestindo. A imagem do seu corpo vestido faz com que eu me sinta um tanto quanto desapontada, mas eu mantenho a postura, apesar de tudo.
Então, ficamos envoltos pelo silêncio, não de uma maneira confortável, mas sim constrangedora e incômoda. Eu não quero ser a pessoa a trazer o assunto primeiro e Henrique parece não saber como fazer; ele continua rondando a cama, com as mãos nos bolsos e o olhar vago e perdido. Eu entendo que talvez seja difícil para ele, mas eu não estou exatamente em uma posição confortável.
Com o passar dos segundos, no entanto, decido limpar a garganta, percebendo que se eu não trouxer o assunto, talvez esse impasse se estenda; felizmente, antes que eu tenha de mencionar o assunto, Henrique faz por mim:
— Por quanto tempo você acha que seria conveniente me esconder que a gente tem um filho juntos?
Seu tom, é claro, beira a arrogância. Eu fecho os olhos, mas decido que não vale a pena projetar as expectativas que eu tinha sobre nosso reencontro, há anos atrás em cima dele — não agora. Porém, isso não quer dizer que eu consiga conter toda esse rancor acumulado quando digo;
— Por quanto tempo você achou que seria conveniente me fazer de amante? Me acusar por ter inveja da sua família perfeita? — acuso de forma direta e as palavras parecem ter efeito sobre Henrique, porque ele desvia o olhar como se estivesse envergonhado. — Ou você vai me dizer que eu engravidei de propósito porque eu tinha inveja da sua família e eu também queria um filho seu?
— Você deixou ele crescer sem um pai por quatro anos...
— Você não sabe nada do que se passou durante esses quatro anos, Henrique. — acuso novamente, vendo que Henrique não apenas desviar o olhar, mas passa as mãos pelo cabelo, aflito. Certamente ele não esperava essa resistência e isso me deixa feliz. — Vir apontar o dedo para mim quando eu tive que me desdobrar para não deixar nada faltar na vida do meu filho, não é justo comigo.
— Tudo teria sido mais fácil se você não tivesse escolhido esconder ele de mim.
Eu assinto, mas meu gesto não passa de uma tentativa de amenizar um pouco o ânimo de Henrique. Eu sei que ele está prestes a apontar o dedo na minha cara e me dizer um milhão de coisas, mas não sou eu que preciso ouvir. Henrique talvez nunca tenha tido alguém o confrontando dessa forma e isso talvez explique, em partes o seu comportamento, mas isso muda aqui, agora.
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Intempérie | Ricelly Henrique
RomanceIntempérie é uma palavra de significados extremos. Pode-se referir a fenômenos climáticos intensos ou a catástrofes lastimáveis. Nessas circunstâncias, também pode ser usada para definir o relacionamento entre Maitê e Henrique; curto e intenso, na m...