Conhecendo o meu Karma

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NOTAS INICIAIS:

A história vai ser contada em primeira pessoa (Adora). Eu aviso se alguma coisa sobre o POV mudar.

Encontro vocês nas notas finais! Boa leitura!! <3

×××

Na primeira vez que a vi, uma névoa pesada e cinzenta parecia se agarrar ao milharal, com faixas de neblina deslizando entre as plantas quase mortas. Era um início de manhã sombrio e eu estava esperando o ônibus escolar para o primeiro dia de aula, cuidando da minha vida, parada no fim da estradinha de terra, que liga a casa de fazenda onde moro, à estrada principal que leva à cidade.

Eu pensava em quantas vezes, nos últimos doze anos, tinha esperado aquele ônibus. Estava fazendo cálculos de cabeça quando notei a presença de um desconhecido.

Então, de repente, aquele trecho familiar de asfalto pareceu terrivelmente desolado.

Alguém estava parado sob uma enorme faixa que ficava do outro lado da estrada, com os braços cruzados na frente do peito. Os galhos baixos e retorcidos da árvore se enroscavam em volta dela, camuflando-a sob ramos, folhas e sombras. Mesmo assim, dava pra ver que era realmente uma mulher. Usava botas e um sobretudo escuro que parecia uma capa.

Senti um aperto no peito e engoli em seco. Que tipo de pessoa fica parada debaixo de uma árvore, ao amanhecer, no meio do nada, usando uma capa preta?

Ela deve ter percebido que eu a notei, porquê se mexeu um pouco, como se decidisse se ia ficar ou ia embora.

Eu nunca havia me tocado de como ficava vulnerável todas aquelas manhãs, esperando sozinha ali fora. Mas, naquele momento, essa constatação me atingiu como um soco no estômago.

Percorri com os olhos toda a extensão da estrada, com o coração martelando. Cadê aquele ônibus idiota? E por que afinal meu pai precisa ser tão à favor do transporte coletivo? Por que não posso ter um carro, como quase todo aluno do último ano do ensino médio? Mas, não, eu tinha que “compartilhar a viagem” para salvar o meio ambiente. Quando eu for sequestrada pela garota ameaçadora que está debaixo da árvore, é capaz do papai insistir para que minha foto de desaparecida seja impressa apenas em papel reciclado.

Na preciosa fração de segundos que perdi, sentindo raiva do meu pai, a estranha saiu de onde estava, debaixo da árvore, e se moveu na minha direção. E no momento exato em que o ônibus, graças à Deus, surgiu no topo do morro, à uns 50 metros adiante, eu poderia jurar que a ouvi dizer “Anastácia”.

Meu antigo nome... O nome que recebi ao nascer, na Europa Oriental, antes de ser adotada e trazida para os Estados Unidos, onde fui rebatizada como "Adora Grayskull"... Ou talvez, eu tivesse ouvindo coisas, porque a palavra foi abafada pelo som de pneus sibilando no asfalto molhado, por engrenagens rangendo e pelo chiado da porta que o motorista, o velho Sr. Billy, abria pra mim. Eu te amo, ônibus número 23. Nunca me senti tão feliz por entrar nele.

Com seu grunhido usual, Sr Billy disse “Dia, 'Dora”, e engrenou o ônibus. Eu fui cambaleando pelo corredor, enquanto procurava um lugar vazio ou um rosto amigo em meio aos passageiros sonolentos. Às vezes, era um saco morar na zona rural da Pensilvânia. Os adolescentes da cidade ainda deviam estar dormindo àquela hora na segurança de suas camas.

Encontrei um assento bem no fundo e me deixei cair, com um suspiro de alívio. Será que estava exagerando? Talvez eu estivesse imaginando coisas ou minha cabeça estivesse confusa de tanto assistir àquele programa dos bandidos mais procurados do país. Ou, talvez, a estranha quisesse mesmo me fazer mal. Girando o pescoço dei uma espiada pela janela de trás e... Meu coração se apertou.

Ela continuava lá, mas agora estava na estrada. Cada uma de suas botas plantadas de um lado da faixa amarela, os braços ainda cruzados, observando o ônibus se afastar. Olhando pra mim.

Como se livrar de uma Vampira Apaixonada  |  CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora