Aparando Arestas

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Adora Grayskull's POV

Cheguei perto do coreto do parque por volta das dez horas, como o bilhete havia pedido, e o vampiro que estava esperando acenou, segurando o casaco em volta do pescoço com a outra mão. Fazia um frio de rachar, e havia previsão de neve.

– Fiquei com receio que não viesse. – disse ele, sorrindo.

Apesar do sorriso, me aproximei com cautela.

– Catra disse que vocês todos iam pra casa.

– É verdade. – confirmou ele. – Os outros já retornaram à Romênia. Fiquei para trás na esperança de ajudar na situação.

Relaxei um pouco, feliz por saber que a maioria dos tios de Catra haviam partido. Quanto mais longe, melhor.

– Meu nome é Micah. – acrescentou ele, estendendo a mão enluvada. Ele deve ter me visto olhar para a lã colorida. Listras amarelas e laranjas. – Chique, não acha? – disse ele, balançando as mãos. – Comprei no shopping.

Apertei a mão dele.

– Comprou no shopping?

– Ah, sim. Cultura americana. Tudo aqui tem a ver com diversão. Fiquei com inveja quando Catra foi despachada para ficar vários meses aqui. É claro que foi bom mandá-la para longe do velho Weaver, durante um tempo. – Ele sugou as bochechas, tornando-as cadavéricas, numa imitação. – Pareceu uma jogada inteligente.

Examinei o rosto de Micah. Suas bochechas estavam rosadas no frio e os olhos eram pretos, como eu esperava, mas tinham um franzido alegre nos cantos.

– Sente-se, sente-se! – disse ele, indicando um banco e espanando um pouco de neve.

Mesmo assim, o banco não pareceu muito convidativo.

– Será que a gente poderia ir a uma cafeteria ou algo assim? – sugeri, soprando as mãos. Lancei um olhar de desejo para suas luvas.

Micah ponderou, com a cabeça balançando para frente e para trás.

– Claro. Por que não? Acho que fiquei num clima meio "capa e espada" com esse parque vazio. Sou fã de romances de espionagem, sabe?

– Eu também. – respondi, sorrindo.

– Bom, não fico surpreso. – disse ele, me levando para fora do coreto. – Como somos parentes e tal, provavelmente, temos uma porção de coisas em comum.

– Somos parentes?

– Sim, sim! Eu deveria ter posto isso no bilhete. Talvez fosse menos assustador pra você.

– Parentes, como?

– Sou seu tio. Irmão de sua mãe.

Parei e o encarei, procurando algum traço familiar no seu rosto. Qualquer semelhança com minha mãe biológica ou comigo.

– Você não se parece muito com ela, e nem comigo.

As bochechas rosadas de Micah ficaram um pouco brancas.

– Bom, na verdade, sou meio-irmão. Seu avô andou tendo umas aventuras fora do casamento. – Ele sorriu sem graça. – Sou produto disso.

– Mas você conheceu meus pais biológicos?

– Claro, claro. Mas, primeiro, vamos a um lugar fechado. Você está tremendo.

É, estava. De frio e ansiedade. O vampiro ao meu lado era meu tio. Tinha conhecido meus pais biológicos. Enfim, depois de quase dezoito anos, eu ficaria sabendo quem eles eram de verdade. Finalmente, estava pronta.

Como se livrar de uma Vampira Apaixonada  |  CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora