Um pequeno susto

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Adora Grayskull's POV

Cutuquei Swifty mais um pouco ao pensar nisso.

Será que Catra podia mesmo estar morta? Como eu me sentiria nesse caso? Será que lamentaria? Sofreria? A culpa me mordia. Será que eu me sentiria aliviada de algum modo?

E eu estava mais preocupada com Catra, ou com o papel dos meus pais nesse desastre?

Todas as perguntas se reviravam na minha mente enquanto eu ia para casa, presa num passo de égua quando precisava de um jato. Nossa cavalgada parecia ridiculamente vagarosa. Einstein havia explicado essa sensação, não é? Relatividade. Nossa percepção do tempo depende da velocidade com que queremos que ele passe.

Tempo. Relatividade. Ciência.

Tentei me concentrar nesses conceitos em vez de me voltar para preocupações inúteis, mas a imagem do sangue na blusa de Catra teimava em reaparecer. O sangue que jorrava de sua boca. O sangue vermelho, vermelho.

Quando cheguei ao final da nossa estradinha, Bela estava num galope imprudente e larguei as rédeas, deslizando da sela, ao ver a Kombi dos meus pais parada na frente da casa. Havia outro carro, um sedã desconhecido, mas ainda igualmente decrépito. A casa estava toda às escuras, com exceção de algumas luzes fracas lá dentro.

Abandonei a pobre Swifty, apesar de saber que deveria colocá-la em sua baia, subi correndo os degraus e entrei.

– Mamãe! – Berrei a plenos pulmões, batendo a porta atrás de mim.

Minha mãe surgiu, vindo da sala de jantar, pedindo silêncio com os dedos nos lábios.

– Adora, por favor. Fale baixo.

– O que aconteceu? Como ela está?

Fui em direção à sala de jantar, mas mamãe segurou meu braço.

– Não, Adora. Agora não.

Examinei o rosto dela.

– Mãe?

– É grave, mas temos motivos para acreditar que ela vai se recuperar. Está recebendo bons cuidados. Os melhores que podemos dar, com segurança – acrescentou enigmática.

– Como assim com segurança? - indaguei. Cuidados com segurança eram dados nos hospitais. – E de quem é aquele carro lá fora?

– Nós chamamos o Dr. Zoldo...

– Não, mamãe!

Não o Dr. Zoldo. O charlatão húngaro maluco que havia perdido a licença médica por usar controversos remédios tradicionais de seu país, nos EUA, onde as pessoas tinham o bom senso de acreditar na medicina de verdade. Eu deveria ter reconhecido o carro. Muito depois de o restante do condado ter boicotado o velho Zoldo, ele e meus pais continuaram amigos, juntando-se ao redor da mesa da cozinha e conversando até altas horas da noite sobre os idiotas que não confiavam em terapias alternativas.

– Ele vai matar a Catra!

– O Dr. Zoldo entende Catra e o povo dela. – disse mamãe, segurando-me pelos ombros. – Ele é de confiança.

– De confiança em relação à quê?

– À discrição.

– Por quê? Por que temos que ser discretos? Você viu o sangue saindo da boca dela? A perna esmagada?

– Catra é especial. – afirmou mamãe, sacudindo meus ombros um pouco, como se eu devesse ter percebido esse fato um milhão de anos antes. – Aceite isso, Adora. Ela não estaria segura num hospital.

Como se livrar de uma Vampira Apaixonada  |  CatradoraOnde histórias criam vida. Descubra agora