CAPÍTULO 6

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HILL

Eu entrego as pastas ao Gustavo, e peço despensa pelo restante da tarde, dizendo que não estou me sentindo bem. Bom, realmente não estou. Esse momento ao lado Matt, me puxou mais energias do que estava imaginando que seria capaz e suas perguntas, tanto quanto o fato que não quer ter filhos no momento, me deixou assustada e frágil.

A primeira coisa que reparo ao chegar no apartamento, é que minha porta está destravada, e meu coração vai a boca ao ver minha mãe, meu pai e a Camila sentados no sofá, os olhos atentos a mim. Meu estômago aperta, e o medo que sentia a poucos instantes, parece que vai me engasgar. Dois anos nessa cidade e eles nunca tinham vindo me ver, e agora estão aqui com minha "melhor amiga".

— Mamãe e papai. — Minha voz sai em um sussurro. — A benção. — Peço aos dois em sincronia, e apenas um murmúrio em resposta chega ao meu ouvido quando baixo meu rosto e toco suas mãos frias para beijá-las, uma e a outra, mesmo que isso não me traga nenhum conforto a alma como deveria.

Minha mãe é uma mulher esguia e elegante, alta e com um sorriso plastificado em seus lábios finos, já meu pai tem a mesma altura que ela, com uma barriga proeminente e usando sempre roupas formais e severamente passadas, e as vezes acho que estão presos em um século atrás, tanto pela forma de agirem como de se portarem.  

— Não sabíamos que estava trabalhando. — Eu aperto meus dedos nervosa, dando passos para trás, para ganhar distância da presença opressora dos dois. 

— Estágio remunerado. — Respondo, minha bolsa ficando na frente do meu corpo.

— Em uma creche? — Eu me encolho, não sabendo mentir.

— Em uma loja e ateliê. — Assumo e os três me olham, meus pais parecem sem expressão aparente e Camila mostra divertimento nas suas feições.

— Porque você está trabalhando em uma loja, se está cursando pedagogia? São artigos infantis? — Neguei, sabendo no fundo do meu peito, que eles já sabem as respostas.

— Estou cursando administração, e não pedagogia, como combinamos. — Admito baixando meu olhar envergonhada e assustada. — Eu ganhei 75% do curso, e estou trabalhando para pagar o restante. — Indico me rendendo.

— Eu sabia que não era uma boa ideia deixá-la vir para esse lugar. — Minha mãe resmungou em uma negação. — Isso não importa. — Desdenhou, com a mão pousando no braço do meu pai, ao fundo eu assisti o sorriso da Camila se entender. 

— Verdade. — Os olhos escuros do meu pai caíram sobre mim, e soube naquele instante que nada estava bem. — Você vai voltar com a gente.

— Mas e meu curso? — Arisco em perguntar, mesmo sentindo minhas pernas quase fraquejando.

— Não precisa disso. Até vou relevar a mentira que inventou, porque temos planos para você. — Eu dou um passo para trás, até sentir minhas costas encostar na parede. — Renato disse que vai se casar com você, e quer que retorne para nossa casa por um tempo. Não é muito bem-visto essa sua vinda para cá. — Meu pai concluiu, e sinto meu fôlego quase faltar.

Mas, papai. — Protesto baixo, e ele me dá um olhar de repreensão. — Eu não quero me casar com ele. Nunca trocamos mais que duas palavras na igreja. — Minha boca está amargando, minha bílis querendo subir a cada segundo.

— Terá uma vida para se conhecer. — Levantou e bateu as mãos nas pernas, sobre a calça social. — Não arranjará nada melhor que isso, e será bom para nossa família e os negócios.

— Eu não vou. — Declaro usando toda a minha coragem meramente fraca.

— Você vai, e não me desafie. — Meu pai se aproximou, sua mão tocando minha longa trança castanha e o lado do meu rosto com sardas. — Você sempre soube que seria assim, e vir para esse lugar, não mudaria nada. — Um desespero enorme amassa meu peito, e tenho medo de entrar em pânico.

A BEBÊ DO PLAYBOY |+18|Onde histórias criam vida. Descubra agora