Colóquio.

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Alex

Quando enfim nos afastamos não pude deixar de sorrir feito uma adolescente boba, olhei para ela e pude perceber que ela também sorria, mas sua voz me tirou do torpor inicial.

— Já está tarde, acho melhor você ir para casa. - Ela disse, me senti um pouco decepcionada, mas era o certo a se fazer naquele momento.

— Sim, hm, tenha uma boa noite. - Me aproximei novamente e lhe roubei um selinho rápido e logo me afastei sem olhar para trás.

A caminhada para casa foi tranquila, sentia meus sentimentos a flor da pele, quando cheguei e fechei a porta tive que me conter para não pular como uma louca no meio da minha sala, corri até meu quarto e me joguei na cama, meu rosto estava doendo de tanto sorrir, e naquele momento eu não tinha mais receio algum sobre o que estava sentindo, algo como aquilo não poderia ser errado, nós ainda precisávamos conversar, mas tudo ao seu tempo, não era certo apressar e nem pressionar por respostas, e foi pensando nisso que acabei pegando no sono naquele resto de noite. E quando acordei no outro dia estava muito atrasada, me levantei correndo para me organizar e nem tive tempo de tomar café, me amaldiçoei por esquecer de ligar o despertador, quase levei uma bronca do médico que me supervisionava, mas garanti que não voltaria a acontecer e com sorte a manhã foi bem tranquila, apareceram algumas pessoas, mas nada grave ou demorado, na hora do almoço, decidi ir a um restaurante próximo ao hospital, para evitar mais atrasos desnecessários, procurei uma mesa mais ao fundo e me sentei, fiz o meu pedido e enquanto aguardava senti meu celular vibrar no bolso, achei que pudesse ser meu pai, já que não nos falávamos a alguns dias, então atendi sem olhar o nome.

— Oi pai. - Disse calmamente e senti meu corpo gelar quando ouvi a risada leve do outro lado.

— Lamento te decepcionar Vause, mas sou eu, Piper.

— O que? Você não, não, não me decepcionou, eu só, é, me desculpe. - Se ela estivesse ao meu lado poderia ter visto o rubor que surgiu em meu rosto naquele momento. — Desculpe, eu acabei divagando.

— Não tem problema, eu só estou ligando porque senti sua falta. - Respirei fundo, e senti vontade de pular no meio daquele restaurante sem me importar com quem estava em volta, mas me contive — Eu também senti sua falta

— Quer almoçar comigo amanhã? Podemos ir naquele restaurante italiano, eu realmente queria te ver.

— Quero! Eu quero sim e também quero muito ver você de novo. - Me lamentei por parecer novamente uma adolescente empolgada com um primeiro encontro.

— Perfeito, então acho que nos vemos amanhã.

— Sim, a gente se vê amanhã.

Quando desliguei não pude evitar o sorriso que cresceu no meu rosto, era uma ótima sensação, sentia meu peito vibrar apenas com a possibilidade de estar próxima a ela no outro dia, eu estava completamente rendida e isso não poderia ser mudado e esperava que pudesse durar. Quando a comida chegou eu comi pouco, minha euforia não me permitia comer demais ou me concentrar em alguma coisa que não fosse estar com Piper, à tarde no hospital foi mais tranquila ainda, sai no horário correto e rezei para que o próximo dia fosse tão tranquilo quanto aquele e que nada me atrapalhasse a ir naquele encontro, encontro? Eu poderia chamar aquilo que encontro? A lentidão habitual voltou a tomar conta de tudo assim que coloquei os pés em casa novamente naquela noite, mas não me demorei muito para ir deitar, não podia me dar ao luxo de estar atrasada novamente, meu supervisor arrancaria meu coro e queria deixar algumas coisas organizadas para que tivesse um pouco mais de tempo ao lado de Piper. Trabalhei sem descanso logo que o dia começou, mas ainda estava passando devagar, quando enfim chegou o horário de almoço larguei tudo que estava fazendo, peguei minha mochila e meu celular e sai o mais rápido que podia, estava parecendo uma louca desesperada, parei em frente ao restaurante e respirei fundo tentando recuperar o folego, me encostei em um poste e passei a mão pelo rosto, talvez ela já estivesse lá dentro me esperando, ajeitei a postura e entrei, procurei por ela e a encontrei em uma mesa perto da janela, seu olhos já estavam em mim, e novamente aquele tsunami de sentimentos me atingiu, caminhei a passos largos até a mesa, ela se levantou e parou ao lado da mesa, ainda sorrindo brilhantemente para mim, e não pude evitar beija-la novamente, foi curto e meio desajeitado, mas me deixou eufórica, quando nos afastamos, apenas o suficiente para olhar nos olhos uma da outra, me deixei sorrir como a boba apaixonada que tinha me tornado.

— Oi.

— Oi.

— Então Vause, o que tem feito nesse meio tempo? - Ela perguntou depois que nos sentamos, peguei o cardápio e folheei.

— Gastei um longo tempo do meu dia pensando em você e atendendo as pessoas que apareciam. - Dei de ombros como se tivesse dito a coisa mais normal do mundo e tentei manter uma expressão neutra, mas estava quase morrendo por dentro, notei seu olhar supresso e sorri.

— Bem, acho que você nunca me disse em que área está se especializando.

— Clínico geral, foi o que mais me chamou atenção, em todos esses anos de curso e com todas as aulas eu decidi por essa, senti que combinava melhor comigo, mas e você, pelo que sei é uma grande advogada. - Vi ela fazer uma careta.

— Acabei entrando na parte trabalhista do direito, acabei me encantando de certa forma depois de um par de aulas, e no fim me especializei na área, mas me diga, como acabou fazendo medicina, Nick disse que você veio de wisconsin.

— É, eu nasci em Point Place, e fazer medicina era o eu sonho de infância e naquela época eu tinha me inscrito pra outras três faculdades, mas a de Nova York era a minha favorita, fui aceita em todas as três anteriores, e não estava esperando a resposta dessa, tinha abandonado a ideia de estudar, mas acabei mudando de ideia quando meu pai me entregou a carta.

— Isso é realmente incrível, mas acho que essa é a primeira vez que menciona o seu pai ou sua mãe, como eles são?

— Ele é o melhor pai do mundo, minha mãe morreu quando eu ainda era criança, mas ela também era a melhor possível, depois disso éramos só nós, e ele sempre fez o possível e o impossível para estar presente, ele que me motivou a aceitar a bolsa, me encorajou de todas as formas possíveis.

— Ele parece mesmo ser um ótimo pai, e lamento por sua mãe, eu não imaginava.

— Tá tudo bem, não faz mal, mas os seus pais? - Vi ela fazer uma careta e me senti mal por perguntar.

— Não posso dizer que são os melhores, estaria mentindo caso afirmasse isso, minha vida inteira sempre girou em torno do planejamento deles, e vir para Nova York foi uma forma de tentar me livrar um pouco mais da manina de controle que eles têm.

— Sinto muito por perguntar, parece ser um assunto delicado.

— Ainda é complicado, mas eles já não têm tanto controle sob minha vida, posso afirmar que estou vivendo o momento de real felicidade aqui, ainda mais depois que te conheci.

— Tenho que admitir que também estou mais feliz depois de te conhecer, essa é a primeira vez que me sinto assim por uma mulher, nunca cogitei a possibilidade de gostar de uma mulher, é tudo tão novo e genuíno, me sinto bem com isso, passei muito tempo sem me relacionar com ninguém, estive presa ao passado e me perdi em meio ao trabalho e estudos e você despertou todos esses sentimentos em mim. - Ela estava me olhando de uma forma estranha.

— Eu me sinto da mesma forma, você de alguma forma acabou sendo inevitável, talvez não de imediato, mas desde aquele encontro na casa da Nick, o que me lembra de que eu preciso agradecê-la, se não fosse toda aquela insistência para que eu te conhecesse.

— O que faremos agora? Como vamos ficar?

— Não acho que exista a necessidade de rotular alguma coisa agora, é cedo, podemos descobrir com o tempo, o sentimento é mútuo, e é o que importa agora, não acha?

— Sim, você tem toda razão, vamos com calma

Passamos o resto do tempo que ainda restava conversando e tentando sanar todas as curiosidades que tínhamos sobre a vida uma da outra, e depois de todos aqueles dias sentindo o rebuliço dos meus sentimentos, pude finalmente sentir a calmaria, saber que tudo era recíproco me deixava aliviada e radiante, quando nos despedimos na porta do restaurante, nos beijamos outra vez, e beijar aquela mulher estava se tornando um hábito e sinceramente, o meu favorito.

O caminho até vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora