Part. 4

147 12 1
                                    

Recadinho rápido!

queridos, gostaria de pedir que vcs me dessem ideias para o elenco. já tenho algumas ideias em mente, mas queria saber a opinião de vcs tbm!

comentem quem vcs gostariam q interpretasse nossos lindus: Jeremy e Lize!

estarei colocando opções nos próximos capítulos, os mais votados serão então escolhidos.

boa leitura!!

##########

Durante algumas semanas me forcei a não demonstrar simpatia por Lize. Fiz com que ela pensasse que estava tendo aquelas aulas por obrigação. Os primeiros dias, até que foram por medo de perder mais esse emprego, mas depois, quando percebi que ela era sincera no que dizia, quando seu jeito meigo me tocou profundamente, comecei a gostar, e até mesmo ansiar por suas aulas. Me controlei por algum tempo, mas porque fingir antipatia se ela era tão bondosa e sorridente comigo, o tempo todo? Por fim, decidi que não era justo. Eu conheço os riscos. Posso perder o emprego, meu Deus, posso perder minha vida! Mas, bem dentro de mim, no fundo do meu amago, algo me diz que posso confiar nela. Lize é diferente... Sua aparência mais que formidável, seu sorriso largo e caloroso, seu jeito de andar e até mesmo de cantarolar quando está distraída, seus olhos profundos e intensos... Essa garota é um mistério para mim. Nunca, nenhuma menina havia chamado minha atenção como ela. Lize é especial, vejo isso em cada pedaço do seu ser. Há algo nela. Posso sentir. Fico pasmo de pensar que a conhecer tão bem. É como se nos conhessecemos a vida inteira!

Lize é para mim um doce veneno, uma maldição a qual desejo.

Que enche meus olhos, mas que me é impossível tocar...

******

Estou tendo alguns problemas por causa dos meus sumiços. O velho Dinks desconfia que estou aprontando alguma, e sei que não vou convencê-lo do contrário. Faço o possível para não ser pego. Trabalho mais duro e me esforço para conquistar novamente sua confiança. Não vou as aulas á dois dias e também não vejo Lize.

O patrão parece estressado ultimamente. Parece até doente. Já o vi gritar com Lize muitas vezes, já levei alguns tapas e chutes dele essa semana também. Todos estão com medo. Se ele quiser pode matar um a um de nós que ninguém vai se importar, ele pode mandar as famílias que aqui moram embora pra morrer de fome, que ninguém vai perceber...

A colheita do algodão já está no fim, assim como o emprego de muitos negros. 

— Jeremy, você já soube? — Murilo aproxima-se sorrateiramente, suas mãos ágeis colhem o algodão com uma rapidez admirável. - Martin Luter King, o pastor, vai fazer alguma coisa bem grande, uma tal de marcha pela liberdade ou sei lá o que daqui a alguns meses. - ele para o que está fazendo e me olha, sério - Eu vou, Jeremy. Não aguento mais viver aqui! quero fazer parte de alguma coisa. Quero liberdade para nós, para nossos irmãos negros! - ele aproxima o rosto do meu. - Você deveria vir comigo, Jemy...

- Você sabe que eu não posso, Murilo! - digo.

- É claro que pode, manda esse branquelo filha da mãe pro inferno e venha comigo!

Paro de olhar para seu rosto e continuo a colheita. - Não dá... - Murilo fica alguns segundos em silêncio, e quando fala, é com desprezo na voz.

- É por causa da garota, não é? - Serro os punhos e me levanto, olho bem em seus olhos. - Eu vi vocês dois no campo, Jeremy. 

- Você não tem nada a ver com isso! - vocifero.

- Ela vai acabar matando você, meu amigo. - ele aponta para mim. - Vai matar você... 

Dinks assovia, chamando por Murilo, que olha sobre o ombro e acena. - Tenho que ir. - ele pousa as mãos em meus ombros, posso ver sinceridade em seu olhar. - Ainda não é tarde, pode vir comigo, se quiser.

Faço lentamente não com a cabeça. - Para onde você vai? -  Washington. Há muito trabalho por lá, Jemy. Precisamos quebras as regras se quisermos vencer...

- Black Power é a saída meu irmão! - grita Murilo, correndo entre as fileiras de algodão.

Seu destino é um velho ônibus estacionado atrás do celeiro, onde vários negros embarcam, um atrás do outro. Há também algumas mulheres, todas com roupas pretas e de couro. No momento em que o último passageiro entra no velho ônibus, antes que o motorista de a partida, ouço um disparo de espingarda a minha direita.

Muitos negros gritam e se abaixam para se defender. Procuro entre a vastidão branca de algodão o atirador, mas a primeira coisa que vejo é Lize, correndo em minha direção, quatro fileiras de distância. 

- Lize! - chamo.

Ela olha de relance para mim, seu rosto contorcido de angustia. Corro na direção em que ela está indo e lá na frente, seu pai está com a mira apontada para o motorista do ônibus, que tenta dar a partida. Depois de engasgar algumas vezes, o motor liga com um ruido alto. Mais um tiro é ouvido e o vidro do carro estoura, alguns dos passageiros gritam. Mais duas balas acertam a lateral do ônibus, agora pegando velocidade, quase na estrada.

- Papai! - grita Lize, chegando até ele. - O que está fazendo?

Paro instintivamente. O que estou fazendo? Estou apenas a alguns passos dos dois quando o pai de Lize acerta seu rosto com a coronha da arma. Seu corpo cai estendido sobre os ramos do algodão, e seu corpo se sacode quando ela soluça. Dou dois passos largos em sua direção, meus punhos fechados e meu corpo fervendo. Antes que eu poça fazer algo, sinto Dinks segurar-me pela cintura, seus braços me puxando para trás.

- Não seja ingrata, Lize! - berra o patrão - Você não é como eles! Esses porcos mataram sua mãe, a tiraram de mim! - ele aponta a espingarda para mim e Dinks, depois para os negros que ousaram se aproximar. - Aquela velha maldita fez o que com você, hein? Disse que somos iguais? - pegando o rosto da filha que soluçava, ele ergue seu olhar para mim. - Olhe para ele! olhe para todos aqui! Eles são iguais á mim? São iguais á você?

Ninguém nem mesmo respira nesse momento. Não ousamos fazer nenhum movimento brusco. Quando Elizabeth se coloca totalmente de pé e eu vejo o vergão vermelho de sangue em seu rosto, é como se o ar escapasse de meus pulmões. O patrão arregala os olhos, como se percebesse o que acabara de fazer. Deixando a arma escorregar de suas mãos, ele abraça a filha. A pancada não acertou seu olho, mas a lateral de sua cabeça está com um ferimento bastante preocupante.

- Vamos papai, hora de tomar seu remédio... - a voz de Lize sai calma, cheia de carinho. E, puxando-o pela mão, ela o guia até a varanda, na casa.

Pouco a pouco, os negros vão voltando ao trabalho, Dinks tenta me acalmar, dizer que o velho está louco e que os dois que se entendam. Mas não consigo tirar a imagem do rosto cortado de Lize da minha mente.

Por um segundo me arrependo de não ter ido com Murilo, mas não posso desistir... Há algum tempo travei uma batalha. E essa batalha é aqui, dentro e fora de mim. Tenho que ficar. Vencer essa luta não salvará apenas a mim, mas a Lize também, me dou conta.

Alma NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora