capítulo 03 - matinta

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*Tenho a impressão de que esse capítulo ficou extremamente curto, acho que porque teve menos palavras do que os anteriores. Mas ninguém vai ligar com isso, né?*

Hoje o ponto de vista é diferente!

Capítulo 03 e as coisas começam a esquentar...

Leiam as notas da autora, não se esqueçam de interagir aqui e boa leitura!

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INÊS

- Tu sabes que eu odeio quando me chamam deste jeito, Inês.

Tive de erguer o olhar para investigar a mulher à minha frente. Não era a primeira vez que via Matinta Perera, mas sempre parecia que era. A cada ano que passava, aquela bruxa dava um jeitinho de envelhecer e ficar irreconhecível. Como ela fazia isso, sendo uma entidade, nem eu mesma sabia. Mas uma coisa nela nunca mudou: sua petulância. Fresca como a água da cachoeira, Matinta se achava superior a todo mundo.

- Você precisa parar com isso. - Eu disse, a voz firme pela primeira vez. - Não dá mais para manter a mentira se você continuar andando no meio das outras pessoas e se transformando sempre que bem entende.

Pisei na folha minúscula que tinha jogado para invocar minha amiga, enquanto ela me olhava com as sombras fundas dos olhos ficando cada vez mais tenebrosas. Ela sibilou como um gato, e deu início a uma guerra que eu não esperava começar.

- Quem foi o desgraçado que me viu deixando minha forma de coruja?

- Camila. - Eu respondi, fria. - Mas eu não vou permitir que você fale dela assim. Nós somos entidades semelhantes e sabemos exatamente o que pode acontecer se a gente começar a se revelar para os humanos... 

Matinta desencostou da árvore que estava apoiada, sorrindo maleficamente enquanto me olhava. As sombras em seus olhos ficaram ainda mais amedrontadoras e intensas, e ela abriu a boca, mostrando os dentes sujos de terra, envelhecidos com o tempo. Éramos mesmo iguais, mas eu não sabia dizer se a aparência dela era assim por lei ou se ela tinha usado seus poderes para coisas sérias demais. Todo mundo sabe, bruxa ou humano, que não se pode mexer com coisas sérias que você não conhece muito.

- Como ousas me dizer que estou errada? - ela sibilou. - Eu treinei você, Inês. Se tu estás viva por mais de duzentos anos, seja humana ou entidade, foi por minha causa. - Seus olhos me fuzilaram cada vez mais fundo. - Além disso, eu não iria fazer nada com ela. Só apareci para cumprir minha missão nesta terra. Se não há ninguém nesse mundo que me peça favores, por que é que ainda devo existir, não é mesmo? 

Eu parei, pensei e suspirei. Não adiantava brigar com alguém tão impulsivo.

- Matinta, ele está piorando.

Ela olhou para as árvores, sentindo alguma coisa entre as folhas dela, e então me olhou de novo. Bem, eu estava fazendo a coisa certa. Ela não só realizava desejos, ela era minha mentora, minha conselheira, alguém que poderia me oferecer as melhores alternativas. Eu tinha experiência com tudo isso, mas não podia lidar com aquela situação sozinha.

- A garota. Você conversou com a mulher que está apaixonada por ele. - Meus olhos ficaram penetrantes pela primeira vez, ameaçadores. Eu podia fazer esse tipo de coisa quando queria, embora não gostasse muito de agir como uma vilã. 

É por essas e outras que me transformar em um jacaré que quer obsessivamente matar crianças não combina comigo. Os humanos adoram exagerar quando se trata da gente...

AMARELO, AZUL E BRANCO | inês/cuca x youOnde histórias criam vida. Descubra agora