– Eu não sei... – Soraya observava a amiga, sentada do outro lado da mesa do movimentado restaurante.
Ela e Carlos César costumavam sempre sair para jantar com amigos. Entretanto, Lívia e Humberto eram os mais próximos. Os quatro tinham a mesma idade, casaram na mesma época e acabaram mantendo aquela velha tradição do jantar em todas as últimas sextas do mês. Quando o álcool já fazia o efeito desejado, os casais começavam a falar sobre o que todos com mais de 20 anos de casados gostam de conversar: sexo e possibilidades de esquentar os casamentos que já estão mais do que falidos.
Lívia sorri, mas não era qualquer sorriso. Era uma provocação, queria que Soraya se sentisse desafiada.
– Você não acha que é meio perigoso? Não sei... Casais que não conhecemos – A loira bebericou mais um pouco de seu vinho, nitidamente apreensiva.
– So, não necessariamente vocês precisam participar de algo. A casa é enorme, muitos casais só vão para conhecer, e se rolar, simplesmente rolou – A morena entornou o resto do líquido que estava em sua taça.
Os maridos se entreolharam, César sabia que a palavra final era de Soraya. Como homem, e machista, diga-se de passagem, ele já conhecia o estabelecimento, ou melhor, a prática que é chamada de swing. E se os amigos não tivessem levantado a ideia ali, naquele momento, ele jamais pensaria em levar a esposa para um ambiente como aquele. Mas como a ideia surgiu, e com a pressão de Humberto, que dizia ter sido uma das melhores experiências de sua vida, o desafio estava mais do que aceito. Sim, se pudesse escolher, eles iriam até a casa de swing.
– Ok, nós podemos ir. Mas eu não quero fazer nada... Só quero ver como é, e... Lívia, você promete que não é nada estranho? Olha lá hein, não me bota em uma furada.
Parecia que todos na mesa respiravam aliviados e animados, como se toda a tensão do lugar se dispersasse com o sim da mulher. Os homens quase davam pulinhos, aproveitaram para sair na frente, pagando a conta do jantar, enquanto as moças seguiam para o estacionamento. Soraya estava nervosa, tinha certeza de que ia se arrepender de ter aceitado aquilo. Mas já que a consequência de sair na chuva é justamente se molhar, decidiu tentar relaxar e curtir a experiência.
E apesar de não ser o tipo de mulher que teve muitas experiências sexuais, ou muitos parceiros, ela era curiosa. Pensar em estar com uma mulher sempre esteve em sua cabeça, não como uma preferência, mas como ela mesma gostava de repetir, como em um fetiche. Desses que você morre de vergonha e que nem por muito dinheiro compartilha com alguém. Naquele momento, pensou que finalmente poderia acontecer. Pensou em Lívia, em Humberto, como seria estar em uma cama com os dois. Como era muito expressiva, a careca logo ficou estampada em seu rosto. Carlos César riu, capturou o momento exato em que o rosto da esposa se transformava em uma cara de nojo, repulsa.
– Ei, tudo bem mesmo? – Tocou a coxa nua pelo vestido curto, tentando demonstrar uma preocupação que ele sabia que surtiria efeito, comportamentos afetuosos e preocupados que a mulher gostaria que ele tivesse, mas que na verdade, não existiam. Naquele momento, César só conseguia pensar no que estava para acontecer na luxuosa mansão que estavam prestes a desbravar.
– Você quer mesmo fazer isso? – Ela o encarava, o carro já havia sido estacionado. Só pela garagem, dava para saber que a noite seria movimentada.
– Eu achei que você quisesse também – Ele retira a mão de onde estava há segundos atrás, a irritação era evidente em sua voz.
– Tudo bem, tudo bem. Mas no momento em que eu quiser sair daqui, nós vamos sair, ok?
O homem apenas sorriu em resposta. O carro de Lívia e Humberto estaciona ao lado. Eles precisavam entrar juntos. Afinal, só entrava quem fora devidamente convidado, ou estivesse com quem já frequentava. Todo esse mistério era justamente para manter a privacidade dos casais adeptos, e que faziam da prática um hobby.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As coisas que perdemos nas sombras
FanfictionNem todas as histórias falam sobre amor. No mundo real, o desejo e o prazer costumam ser colocados à frente de qualquer outro sentimento. Para Simone, uma professora de fotografia, seus caprichos e vontades valiam muito mais do que qualquer outro...