Capítulo 7

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A manhã de quarta-feira tinha gostinho de segunda para Soraya. Isso porque, as aulas de contraturno na ONG em que trabalhava começavam naquele dia. As turmas sempre ficavam mais agitadas depois do período de férias e sua disposição se esvaiu junto com os últimos acontecimentos. O despertador tocou e como acontecia em todas as casas, de todos os casais do país, ela levantou, acordou o marido e a filha e foi se arrumar para o trabalho.

Enquanto escovava os dentes, viu que o celular vibrou. Era Simone. Parou imediatamente o que estava fazendo para ler o texto enviado.

"Espero que seu dia seja cheio de surpresas. Sei que você ainda não me perdoou, mas não consigo parar de pensar em ti…Senti que isso era um sinal para te enviar esta mensagem".

"Bom dia para você também, Simone". Respondeu secamente e seguiu fazendo o que precisava antes de sair de casa.

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Para quem achou que seria bloqueada logo após a primeira mensagem, Simone comemorava o bom dia quase que automático de Soraya. Pulou da cama e arrumou-se para seguir para a ONG Caminho dos Sonhos. Esperou por Vanessa por uns trinta minutos, mas como a assistente não apareceu, seguiu sozinha.

Ao contrário do que imaginara, não foi recepcionada por Soraya quando chegou. Foi recebida por Mônica, professora de dança e também diretora do projeto. Não eram nem nove da manhã e o barulho que se fazia no pátio principal era absurdo. Havia também crianças correndo por todos os lugares e Simone sentiu-se enjoada com tanta movimentação. Observava tudo com atenção enquanto Mônica apresentava os diversos espaços do local.

— Desculpe, eles voltam das férias hoje e recomeços são cheios de caos quando o assunto é criança — Seguiram para um segundo prédio, entrando em um aglomerado de salas, essas sem crianças.

— Entra Simone, aqui é a coordenação. Um espaço de paz em meio a tanto barulho —  Mônica abriu a porta, dando de cara com Soraya, que estava de saída.

— Você? — Os olhos da loira grudaram em Simone.

— Vocês se conhecem? — Mônica perguntou.

— Não.

— Sim.

Responderam juntas.

— Ok, sim ou não?

— Nossos maridos fazem negócios juntos — Simone tomou a frente, deixando uma Soraya completamente confusa.

— Fazem? É, fazem. Mas não somos próximas — Endireitou a postura, tentando não transparecer que há dois dias atrás esteve na cama da outra mulher.

Mônica não acreditou, mas não estava afim de entrar em mais um drama da perfeita Soraya.

— Sei… a Simone além de ter feito uma grande doação de brinquedos, foi indicada pelo governador para fazer algumas fotos com as nossas crianças, Soraya. Ela começa hoje.

A mais nova deixou um sorriso amarelado, mal sentia suas pernas. Lembrou da mensagem que recebera de manhã. Filha da puta, essa era a surpresa. Deu alguns passos para trás, já não queria mais ir ministrar a aula. Queria ficar e questionar o que aquela maluca pretendia ali.

— Ela já conheceu a escola? — Perguntou, torcendo para que Mônica não percebesse como queria ficar a sós com Simone.

— Nós passamos pelo prédio principal, mas falta o teatro e a quadra.

— Se quiser, posso levá-la para conhecer, Mônica. Talvez você esteja ocupada.

— Eu posso ir, Soraya — A outra professora respondeu.

As coisas que perdemos nas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora