As coisas que perdemos nas sombras

Capítulo 8

Saber que a semana era mais curta deixava Soraya menos desesperada. Ela só precisava chegar até sexta-feira sem ver a cara de Simone. Depois, passaria pelos dois dias de folga focada em fazer com que seu casamento voltasse aos eixos. A ideia era simples: se ficasse sem pensar, ver e desejar a morena de comportamento mais cafajeste que conhecera, na semana seguinte, ia estar imune às investidas da outra.

Para isso, pensou em ideias para apimentar a relação. Troca de casais não foi uma boa experiência, pelo contrário, só serviu para arranjá-la mais problemas. Fechou a guia do documento com as propostas para reunião pedagógica que tinha que terminar até o fim do dia para a reunião e abriu uma guia anônima. Olhou para os lados, ninguém por perto. Será que alguém checava os históricos da administração? Esse era um bom ponto para discutir nas reuniões administrativas. De qualquer forma, ela ia apagar assim que tivesse o que precisava. Entrou no YouTube e digitou "aula de pompoarismo para iniciantes". Sabia que não teria tempo para muito, mas alguma coisa ia conseguir fazer. Confiava no seu potencial. Pegou um bloco de anotações e foi escrevendo os pontos que achava importante.

Simone passava pelo corredor quando pela janela de de acrílico da porta, viu Soraya imersa em frente ao computador. Ela ainda a evitava, e como nos dois dias anteriores, ia dar o espaço que a loira precisava. Porém, gostava de passar por ali para vê-la, mesmo que de longe. Deu dois passos para entrar na sala ao lado, mas foi surpreendida pela seguinte frase: "... então eu estou aqui para te ensinar como iniciar no pompoarismo". Sorriu, e voltou para a frente da porta. Soraya anotava com atenção, balançava a cabeça, entretida demais nos ensinamentos do vídeo. Simone entrou devagar, quase nas pontas do pé, se posicionou atrás de Soraya e assoprou, antes de soltar a seguinte frase:

— Que aluna aplicada — Seu sussurro foi rouco.

Soraya literalmente deu um pulinho de susto.

— Senhor! Simone????? Quer me matar do coração — Pousou a mão sobre o peito, o corção acelerado pelo susto.

A morena riu divertida.

— Você que estava fazendo coisa errada. Mas pensa pelo lado positivo, sou eu quem viu. Podia ser sei lá, a Mônica.

Continuou na mesma posição, com a boca perto demais da nuca da outra. Foi Soraya que cortou a aproximação, afastando a cadeira para longe.

— Eu só estava vendo um vídeo. Nada demais, só... Estava curiosa, não pode?

— Claro que pode, aliás, deve. Me diz, é só curiosidade mesmo ou você quer aprender para usar com alguém?

— Simone, eu sou casada. E muito bem casada, obrigada.

— E quem disse o contrário, Soraya?

Se divertia em como a outra ficava nervosa com a tensão sexual gigantesca que rolava entre elas. A loira abaixou os olhos, sempre deixava transparecer o nervosismo na presença imponente da outra.

— Enfim, é só algo que quero tentar no fim de semana com o meu marido — Enfatizou a palavra marido.

— Algo me diz que o lugar onde vocês vão estar vai ser bem propício para o clima mais quente que você tanto deseja — Sentou-se na ponta da mesa, e com o pé, empurrou a cadeira de Soraya até a parede.

— Lugar? Simone... O que você sabe?

— Eu? Nada. Só que, meu marido e Carlos César estão bem próximos, você não sabia? — Levantou e apoiou as duas mãos no encosto para braços da cadeira, cercando-a — E o Eduardo me ligou, falou que convidou vocês para um fim de semana na nossa fazenda, disse também que seu marido já aceitou — Finalizou o que dizia, mordendo o próprio lábio e olhando nos olhos de Soraya.