Capítulo 06

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Já era tarde e depois de pensar o dia inteiro em Simone e nas traições, Soraya estava decidida a deixar tudo para trás. Não ia confrontar Carlos César sobre as taças e o batom. Isso porque, já estava decidida que fora mesmo traída, tantos sinais não significariam outra coisa a não ser o óbvio. O problema é que ela não fazia a linha hipócrita, não podia julgar ou armar um escândalo, se fez exatamente a mesma coisa. O único que desejava internamente era que a noite do marido tivera acabado tão mal quanto a sua. Pegou o celular sem o menor interesse, não tinha ido trabalhar e na altura do dia, já não tinha  o que fazer e o tédio já estava a enlouquecendo. No momento em que desbloqueou a tela, a notificação de uma nova mensagem apitou, e quando leu o nome, surpreendeu-se. Sentiu toda a indignação retornar para o seu corpo.

— Que mulherzinha cara de pau.

Tentou ignorar, mas quando menos esperava estava lá, desbloqueando o aparelho e encarando o nome dela e metade da mensagem que aparecia na barra de notificações. Não, não ia nem visualizar. Quem é que aquela fulana pensava que era? Não podia tratar as pessoas como se fossem descartáveis e depois mandar uma mensagem como se nada tivesse acontecido. Mas e se a mensagem fosse convincente? Ponderou. Dar uma olhada não a mataria e nem significava que precisaria de fato responder. Abriu. Simone estava online. Além de ser sem noção, era viciada em redes sociais, Deus do céu, onde foi que se meteu? E pior, por vontade própria.

Leu e releu a mensagem mais de uma vez. Queria ser madura o suficiente para ignorar, bloquear Simone e seguir a vida. Mas ela não era, só conseguiria dormir, comer, cuidar da filha e viver após resolver aquela situação. Quem sabe assim Simone saísse de uma vez por todas de sua vida.

"Mas é muito cara de pau mesmo. A propósito, detesto essa música". Mentiu, adorava aquela e todas as músicas sertanejas que estavam em alta naquele verão. Enviou. Cadê o alívio desejado? Então começou a digitar de novo:

"E sobre a sua pergunta: não, nem fodendo, nunca mais, jamais. Nem em outra vida".

"Então você acredita em outras vidas?" — O balãozinho subiu e Soraya não acreditou na rapidez da resposta. 

Levantou, deu uma volta na sala vazia e voltou a se sentar. O que digitaria agora? Não queria começar uma conversa com a mulher que havia a deixado sozinha em um loft.

"Por que exatamente você quer saber se eu acredito ou não?"

"Por que você foge das minhas perguntas? Eu quero te conhecer."

"Para que? Nós não vamos ser amigas, Simone". 

"Definitivamente amizade não é a principal coisa que eu quero de você."

A loira leu a mensagem e no mesmo instante lembrou das mãos de Simone passeando pelo seu corpo, da sensação de sentir o toque suave da mais velha. Engoliu em seco, pensou mais uma vez em bloqueá-la, fez todo o caminho para tal função, mas voltou para a conversa. Seria a última resposta, ela prometera para si mesma. 

"Eu acredito sim, acredito em muitas coisas. Uma delas é que você é uma grande filha da puta e que eu fui muito idiota de ter caído no seu papinho. Me diz, quem você vai levar para o seu loft hoje? Seu marido sabe desses seus encontros? Que casamento triste o de vocês.

Simone sorriu no momento em que leu a última mensagem. Imaginou a cara da mais nova contrariada, digitando o pequeno texto com uma raiva absurda.

"Achei que não falássemos de nossos maridos. De qualquer forma, não me importo com o que ele pensa, nem com o que ele faz. Nosso casamento não é igual ao teu. Aliás, como foi com o seu marido? Queria me desculpar por não ter te acordado. Se te causei algum problema, por favor, peço que me deixe reparar. E você tem razão, eu fui uma grandíssima filha da puta, mas estou aqui, disposta a te mostrar que me arrependi. Fiquei assustada com o que rolou com a gente. Você também sentiu? Sentiu como nossas bocas e corpos se encaixaram perfeitamente? Por favor, não me diga que estou ficando louca porque desde cedo só consigo pensar em você e nas sensações que você me causou. Sobre receber outras mulheres, acho que depois de ontem, depois de você, nunca mais vou conseguir levar qualquer outra ali. Sua presença é marcante demais, Soraya. Ficou impregnada não somente no lugar, mas em mim".

As coisas que perdemos nas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora