Capítulo 13

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Foi uma noite difícil para Carlos César. Além de tentar entender o porquê de sua esposa ter ido procurar um outro homem, pesava em seus pensamentos os motivos para não ter tomado nenhuma atitude em relação a mensagem que havia flagrado no celular de Soraya. Havia tantas possibilidades de quem poderia ser o amante do emoji... um professor, um personal da academia. Mas algo o fazia sentir que o "Ricardão" só podia ser Eduardo. Lembrou-se de como o homem havia se aproximado de sua família, oferecendo negócios e mentoria. Como pode ter sido tão estupido, era óbvio que tinha uma segunda intenção ali. Revirou-se na cama por mais vezes, olhou para o lado e a esposa dormia tranquilamente. Sentiu raiva e ao mesmo tempo vontade de chorar. Será que aquilo era uma punição por ter traído Soraya com Mônica por tantos meses?! Só podia ser. E o pior, havia contado a Eduardo sobre o caso. Ficou ainda mais nervoso. E quando sua cabeça esquentava, não conseguia decidir por qual caminho seguir. Quem geralmente o salvava nessas horas era Soraya. Sempre tão inteligente, o guiava para o caminho certo. Começou a traçar um plano: ia levar cedo e a primeira coisa que faria seria procurar o marido de Simone. Depois de fazê-lo entender que Soraya era sua e nada mudaria, iria procurar Mônica e diria que os encontros no motel Lago do Amor não poderiam mais ocorrer. Pronto, assim, poderia enfim conversar com sua esposa e dizer que já havia pensado e resolvido tudo. Seguiram em frente e tudo voltaria a ser como sempre foi.

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A manhã de segunda chegou animada para Soraya. Às 8h já estava na ONG para a sua primeira aula de teatro. O cronograma do dia seguiu como o planejado, e as 11h, quando se despediu do último aluno, viu Simone parada na porta do teatro. Não pode deixar de abrir um largo sorriso.

— Oi, olha você aqui — Caminhou animadamente até a morena.

— Estou aqui há um tempo, na verdade.

Soraya a encarou, desconfiada.

— E o que você viu?

— Uma professora linda e muito dedicada. Tirei algumas fotos da sua aula, espero que não se importe.

— Se eu puder vê-las, não vou.

A morena encostou a porta atrás de si, aproximando-se perigosamente e cochichou no ouvido da outra mulher.

— Só se você me dar um beijo.

A loira sentiu seu corpo inteiro arrepiar só com a aproximação da boca de Simone com sua pele.

— Agora? — Era mais uma afirmação em voz alta do que de fato uma pergunta.

— Por que não?!

Enlaçou o pescoço de Simone, e assim, cheia de manha, beijou primeiro as bochechas da outra mulher que fechou os olhos em resposta, descendo para os lábios, começando um beijo envolvente. Suas línguas travavam um ritmo calmo, gostoso demais para que se importassem com o que acontecia ao redor.

Enquanto isso, Mônica passava despreocupada pelo corredor que dava aos camarins do teatro quando notou as luzes acesas. Revirou os olhos, Soraya sempre tão distraída. Sempre esquecia de algo, agora deu para deixar as luzes ligadas. Será que ela queria falir a ONG com a conta de energia? Já estava de saco cheio de ter que dividir o mesmo espaço com a outra. Na verdade, sabia que o que mais a machucava era ter que dividir o mesmo homem.

— Se ela não fosse tão boazinha, com aquela carinha e voz de mocinha da roça — Murmurou, adentrando o lugar, indo em direção da coxia.

Ia resmungar mais, afinal falar de sua ex amiga trapaceira e invejosa era o seu hobby favorito, mas ouviu uma conversa e achou melhor ficar calada para entender quem é que estava com Soraya ali. Deu mais alguns passos literalmente nas pontas do pé para não ser flagrada, ficando atrás de uma das cortinas, camuflada para quem quisesse vê-la, mas conseguindo enxergar o que se desenrolava no ambiente.

As coisas que perdemos nas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora