Capítulo 14

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Simone

O som do carro baixinho tocava mais uma das tantas músicas melosas ouvidas desde que voltara da fazenda. Não lembrava se era porque começara a gostar ou porque a outra mulher influenciou de alguma forma. Olhava para o lado e não acreditava que ela, a personificação de todo o seu desejo e... paixão? Se questionou, sentindo uma fisgada no peito quando começou a refletir sobre o furacão Soraya. Sim, porque desde que posara o olho na mulher, sua vida virou de cabeça para baixo. Não que antes era muito organizada, mas ela gostava do seu caos particular e totalmente controlado por si. O que tinha agora não era mais particular e não era ela quem comandava, era alguém de um metro e meio, doce demais, apaixonante demais. Em menos de cinco segundos usou adjetivos que só uma pessoa apaixonada usaria e ela não era esse tipo de gente.

Estavam indo para um outro apartamento porque Soraya insistiu que no loft não pisaria mais, e como foi a morena quem vacilou, achou melhor não discutir. Em time que está vencendo, não se mexe. Olhou para o lado, com a mão descansada sobre a coxa desnuda da loira, sorriu a observando. Encontrou uma Soraya compenetrada, observando a estrada que passava, estavam no meio de uma das tantas rodovias de São Paulo, sem vida, sem paisagens, e mesmo assim, a outra mulher parecia apreciar e nutrir uma expectativa por continuar olhando, como se algo de bom fosse aparecer a qualquer momento. E Simone sabia que não ia. Sentiu outro fisgar e achou melhor não pensar em mais nada, já estava fazendo conexões com coisas profundas demais.

Foi quando o celular das duas tocou, ao mesmo tempo, anunciando a tempestade que estava por vir.

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Carlos César girava a aliança sem parar sentado na beirada da cama do motel. Todas as vezes que ia encontrar com Mônica, costumava tirar o pequeno círculo de ouro como sinal de respeito à esposa. Naquela tarde, ela permaneceria ali. Agora, simbolizava o ponto final que colocaria naquele caso. Mesmo depois de ter sido corneado, estava disposto a perdoá-la e a seguir com o casamento. Afinal, Soraya não era uma esposa ruim. Era mansa, tranquila... Fora essa dor de cabeça, nunca havia lhe causado nenhum contratempo, pelo contrário, sempre foi fácil de manipular. Era um bom casamento, sabia disso, e para completar, ela ainda era bonita, mais do que a média. Seus amigos o invejavam, diziam que se ele a perdesse, não daria essa sorte de novo. E ele tinha medo, não só do julgamento, mas da velhice sozinho. De nunca mais encontrar ninguém aguentasse seus caprichos, que fizesse suas vontades.

Foi quando a porta se abriu e o ar foi invadido pelo perfume doce da mulher com quem ele se deliciava todas as quartas e quintas durante o horário de seu almoço.

— Não entendi porque hoje você quis me ver em outro horário e nesse motel horrendo — Observou a decoração que consistia em uma foto de cavalos estampada na parede, uma pequena mesa de madeira, com a cama redonda ao meio com almofadas amarelas. A suíte chamava-se "quarto country", e para completar o clichê, o nome do motel era Lago do Amor. Sentia-se brega e totalmente fora de seu ambiente natural desde que colocou o endereço no aplicativo que a levou até ali.

— Precisava que fosse em um lugar menos tentador — Afastou-se incisivamente da mulher que já estava em seu colo, agarrada em seu pescoço — Calma, Mo. — Eu... — Fechou os olhos, ia ter que ser forte — Empurrou-a pra valer.

— O que é isso? — A morena se assustou, agora em pé, com os olhos arregalados — Ta doido?

— Não. É que... — Estava sem jeito, como ia falar que não ia mais fazer o que já faziam e gostavam tanto?! — Precisamos conversar muito sério.

— Você não pode falar sério enquanto eu te faço um carinho? — Respondeu manhosa, tentando se aproximar mais uma vez.

— Não, e você vai ficar bem longe. Longe o suficiente para eu não cair em tentação.

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⏰ Última atualização: Oct 18 ⏰

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