Capítulo 09

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— Lívia, eu não sei... Não está muito vulgar?

— Soraya? Qualquer coisa que você coloque neste corpo fica um escândalo — Riu descontraída, enquanto observava a amiga se contorcer na frente de um espelho, em todos os ângulos possíveis para ver se a peça de banho ficaria realmente boa.

— Ai Lívia, credo.

— Amiga, ei, isso foi um elogio. Você é linda, seu corpo é lindo e não tem nada de vulgar aí. Aliás, você não disse que queria apimentar o seu casamento? O biquíni vai deixar o Carlos louco.

Não era bem ele quem ela queria atingir, pensou enquanto colocava a peça de volta junto com as outras.

— Tudo bem, eu vou levar. Mas o maiô azul não ficaria melhor?

— Soraya, se eu não te conhecesse, ia até dizer que você é libriana, que indecisão. Olha, você já viu mais de dez biquínis e maiôs.

— Eu quero o perfeito, Lívia. Não quero um que fique meio bom, meio bonito. E olha, eu fui mãe, meu corpo não é mais o mesmo, não sei se deveria usar biquínis. Aliás, eu deveria mesmo ir para este sítio?

— A Nana já tem 6 anos, So. Pelo amor de Deus, vai se privar por que? Além disso, você disse que queria algo bonito, que o seu marido fosse gostar. Só relaxa e leva esse mesmo e se sentir vergonha, coloca uma canga.

As duas riram.

— Eu sou ma boba, não sou?

— Você é, e é insegura também. Mas está tudo bem, o importante é que você me tem aqui para te ajudar. Aliás, você não me contou que sítio é esse? Amigos novos, dona Soraya? Trocaram a gente?

— Longa história, Li. Longa história... — Seguiram para o caixa para pagar pelo biquíni novo.

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Sábado de manhã, o sol estalava e a temperatura amena entregava que o fim de semana seria de muito calor.

— Tudo pronto? — Carlos César fechou o porta malas e seguiu para o banco do motorista.

— Sim, sim, sim — Nana vibrava com a viagem como qualquer criança de sua idade faria ao saber que ia para um lugar com piscinas, cachoeiras e até um parquinho.

— Amor? — Carlos César a chamou e Soraya tentou disfarçar o nervosismo.

— Cadê a sua empolgação? Poxa, vamos para um lugar lindo, com pessoas interessantes e você não deu uma única demonstração de empolgação.

— Mas eu estou muito animada — Levantou as mãos e deu um gritinho de "Uhuul".

— É assim que eu gosto, minha garota — Selou os lábios no dela e seguiram viagem.

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Eduardo dirigia tranquilamente enquanto, tamborilando os dedos no volante enquanto assobiava uma canção qualquer que tocava de pano de fundo. Já Simone era impaciência em pessoa.

— Você não acha que devíamos ter pego um carro maior? Assim ia todo mundo junto.

— Simone? Eles irem já não basta? Caramba, quando você quer uma coisa nada basta.

— Eu não disse que não bastava — Revirou os olhos.

— Só queria ter certeza de que eles realmente vão.

— Vão, o Cezinha confirmou.

— Cezinha? — Simone gargalhou

— É o nome dele.

— Não, o nome dele é Carlos César. Cê tá interessado nesse cara, Eduardo? — O sorriso debochado permanecia em seus lábios.

— Ah Simone, eu nem vou te responder. Que pergunta burra. Eu não sou viado não, porra.

Gargalhou mais uma vez.

— Mas quem disse isso? Pode ser um interesse de amizade, não pode?

— Olha, nem quero entrar neste assunto. O cara é gente boa, pô. Aliás, ele e a mulher.

— Ele te falou algo sobre o casamento? — A morena se endireitou no banco, atenda a fofoca que viria.

— Você gosta né, Simone?! Bom... Ele falou que era um casamento normal, ela é muito "recatada", não gosta muito de arriscar em novas experiências...

— Só isso? — Respondeu, já entediada.

— Não... mas não sei se você vai reagir bem à próxima informação.

— Por que?

— Porque você é MALUCA, Simone. Eu não sei o que você pode fazer com...

— Fala logo, Eduardo. Se você não me contar, eu vou saber de outra forma, você sabe.

— Que se foda. Então, ele tem uma amante, uma tal de Monica.

— A MONIC...

— Sim, a da ONG — Ele a interrompeu — Elas eram amigas na faculdade, Carlos namorava a tal Monica, mas parece que a tal Soraya tem essa coisa de encantar as pessoas porque ele ficou completamente maluco e adivinha? Deixou a Monica para ficar com a sua amada.

Simone apertou o barco com toda a sua força. Sabia que aquela raiva toda não era atoa.

— Tem mais?

— Óbvio. A Mônica pareceu perdoar, seguiram amigas, inclusive trabalham juntas, mas ela em qualquer oportunidade dava um jeito de chegar no cara. Sabe como é né? A carne é fraca, ele caiu e agora os encontros passaram a ser semanais.

— Mas que filho da puta — Simone riu — E a coitada da So toda preocupada com esse sacana. Se antes eu a queria, agora eu quero mais ainda. Reparação histórica, vamos fazer desse homem o mais corno da história.

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Soraya estava exausta com toda a tensão da semana. Além de Simone, os conflitos com Monica ficavam mais sérios a cada dia e qualquer coisa que fazia para melhorar, piorava ainda mais. Assim, não demorou muito para pegar no sono, ignorando completamente a paisagem e a conversa entre o marido e a filha. Dormiu o caminho todo.

— Acorda, bela adormecida

A voz sussurrada em seu ouvido era tão familiar que Soraya sentiu seu corpo estremecer.

— Simone? — Espreguiçou-se enquanto tentava recuperar a consciência.

— Eu mesma. Seu marido e a princesinha foram conhecer a casa com o Edu, fiquei aqui para te acordar e fazer um tour mais especial.

— E eu mereço tanto?

— Nenhuma recusa? — Simone estreitou os olhos e a loira riu.

— Você não é tão péssima como eu achei que era. Até que ai dentro — Tocou o peito da mulher — bate um coração. Ele com certeza é peludo e muito mal às vezes, mas... Você é interessante, Simone Tebet. Me instiga de um jeito que... eu não sei explicar. Então, acho que podemos ser amigas.

A morena faz uma careta

— Amigas? Bom, eu esperava um amantes, amigas com direitos.

— Simone...

— Tudo bem, tudo bem. Me contento com isso. É um ótimo começo. Agora vem, quero te mostrar tudo o que esse lugar tem — Estendeu a mão para Soraya, que a segurou e se deixou levar. 

As coisas que perdemos nas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora