6. Amanda

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Eu havia conversado muito com a psicóloga e com a minha família sobre postar ou não sobre o que estava acontecendo, em respeito aos meus fãs eu decidi postar. Eu já estava sumida desde as viagens e já estavam completando três meses e meio que eu não dava as caras. Sentei na cama e comecei a escrever.

CARTA ABERTA À QUEM EU AMO

Certamente esse é o texto mais difícil que já escrevi na minha vida. Há dias venho tentando tomar coragem para escrever essas linhas e, agora que consegui, escrevo chorando. Há algum tempo eu descobri a depressão, em um transtorno generalizado juntamente à ansiedade. Tenho enfrentado o tratamento - que não é fácil e, tentado ser mais resiliente a maior parte do tempo. Eu não sei dizer ao certo o que gera gatilhos em cada pessoa, mas em mim o que mais dói é o fato de ser tão odiada quando eu só desejo seguir em frente sem ferir ninguém. Só eu sei o quanto me dói tanto tudo isso, mas eu sei, que no fundo eu não quero desistir de mim.
Só quem já passou por isso sabe, que a gente só quer sumir, acabar logo com isso, parar de chorar, sentir paz e aliviar nossa dor. Eu emagreci 18 kgs nos últimos três meses, por que não bastava estar emocionalmente afastada da Amanda que eu sempre fui, a auto estima também foi pelo ralo.
Eu não escrevo isso para que as pessoas tenham pena de mim, eu escrevo, por que falar de depressão, por mais que tenha evoluído, ainda é um tabu. Para a maioria, motivo de autopiedade. Hoje, talvez, eu entenda melhor algumas coisas, ou não. Simples, é confuso! É um processo de aprender a se amar e procurar alegria nas pequenas coisas. É encontrar pequenas razões para levantar da cama todos os dias. Mas em outros, é apenas nos odiar por ser quem somos.
Nem tudo são lágrimas, eu não sou um poço de tristeza como esse texto fez parecer, na verdade eu costumo ser mais feliz do que triste. Mas, eu tenho aprendido que existem dias mais difíceis, e nesses dias, vamos precisar de muita ajuda e muita compreensão. Eu tenho tentado, com a ajuda da minha família e amigos, e na medida da minha capacidade emocional, seguir em frente. Mas é difícil, principalmente quando as pessoas fazem questão de remexer dores tão profundas e recentes na gente. Sempre que eu abro as minhas redes, as palavras de ódio estão lá, apenas me esperando para tentar minar e destruir alguma parte de mim. E isso dói. É uma tristeza infinita que eu nunca havia sentido antes. A vida nas redes sociais é uma ilusão, por isso tenho me mantido afastada daqui. Eu peço apenas que vocês se ajudem, e sejam mais empáticos com os outros. A gente nunca sabe o que o outro está passando e, pequenas palavras tem grandes poderes, levem isso no coração antes de tomar qualquer atitude. Eu vou tentar me reconstruir, e com a compreensão de vocês manter a privacidade que o momento exige.
Aos meus fãs e amigos, amo vocês. Até breve ❤️

Eu terminei de escrever e postei o texto em formato de fotos, num carrossel. Logo depois a enxurrada de comentários e mensagens chegando era surreal. Eu desliguei meu celular, não era o momento de responder agora.

Eu já tinha passado pela pior fase do tratamento que era a adaptação aos remédios. Estava pensando em voltar pro Rio, mas a minha mãe estava irredutível quanto à isso.

Sai pra malhar com meu irmão quando ele chegou da faculdade, depois fomos jantar em família em um restaurante italiano que amávamos. Quando cheguei em casa tomei um banho e fui me deitar, eu estava exausta.

Eu acordei com alguém fazendo carinho da minha cabeça, eu sabia quem era apenas pelo perfume, mas me permiti ficar ali longos minutos apenas sentindo o afago antes de abrir os olhos, e ele estava lá.

- Oi. - eu falei.

- Oi pequena. - ele falou.

Ele se deitou junto à mim e começou a me pedir intermináveis desculpas enquanto caia num choro profundo.

- Eu não tenho que te desculpar Antônio, eu só tenho que te agradecer por sempre ter cuidado de mim. - falei.

Passamos horas conversando, até que caímos no sono. Acordei no outro dia com café da manhã na cama e o Antônio dedicou seu dia a fazer todas as atividades que eu fazia diariamente.

Quando eu ia comer, ele sempre queria que eu comesse mais um pouco, eu sabia o quanto eu estava magra, mas eu ainda levaria um tempo até conseguir recuperar meu peso e boa forma.

O Antônio já estava na casa dos meus pais há dez dias e ele e a minha mãe me mimavam tanto que eu tenho certeza que ficaria mal acostumada. Eu dormia recebendo carinho, acordava sendo mimada e recebia muitos beijos e abraços dos dois.

Eu havia pegado meu celular apenas para responder algumas poucas pessoas, não me sentia bem para responder todo mundo. O Antônio então resolveu responder algumas mensagens e e-mails e ele passava o dia com meu celular, bom, eu não me importava, não queria ter acesso à algumas coisas.

Recebi muitas flores e presentes, principalmente dos meus amigos. Eu agradeci cada um, me sentir amada era um degrauzinho importante que eu subia pra vencer essa batalha.

Quando já faziam trinta dias que o Antônio estava aqui, e eu já estava bem melhor e havia recuperado algum peso, propus que voltássemos pro Rio. Eu sabia que ele estava abrindo mão da vida dele pra estar aqui, e não achava justo.

Ele concordou, mas apenas sob a condição que eu fosse morar com ele até estar bem, caso contrário ele ficaria na Bahia comigo o tempo que fosse preciso. Acabei concordando. Eu não queria atrapalhar a vida de ninguém, e quem sabe com alguns dias eu conseguisse convencê-lo que eu era plenamente capaz de voltar para o meu apartamento sozinha.

DocShoe - I FollowOnde histórias criam vida. Descubra agora