aline

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Eu sempre fui muito fanficqueira. Do nível de fanficar muito dentro da minha mente. Inclusive, nem sei por qual motivo não estou ganhando dinheiro aqui neste Wattpad vendendo fanfic. E nessa minha de sempre imaginar o que me esperar e passar dias com aquilo na cabeça, eu acabei fanficando que a minha colega de quarto na Cidade do Cabo seria uma mulher negra. Além disso, eu imaginei outras coisas.

Tudo isso aconteceu.

Quando eu cheguei ao prédio que eu ficaria, encontrei umas meninas no corredor e já perguntei logo de cara:

- Vocês são brasileiras? 

- Somos sim!

- Você é Denise? - disse Aline. - Eu sou Aline, sou sua companheira de quarto.

Dali pra baixo foi só ladeira a cima. Ninguém acreditava que nós só nos conhecemos lá na Cidade do Cabo. Com dois dias de convivência, eu já sabia de algumas coisas da vida dela e ela já sabia também muito sobre mim. Na verdade, na manhã seguinte a gente já estava no mercado fazendo compras pro nosso apartamento juntas, no injustiçado ShopRite.

A única coisa chata disso tudo é que eu estou escrevendo isso com pessoas ao meu lado e não posso chorar.

Tirávamos fotos uma das outras, ríamos, fomos felizes. Mas também dividimos lágrimas, medos, aflições, cremes, tudo. Mas, teve uma coisa que me deixou reflexiva depois. No dia que fomos ver os pinguins, eu não coloquei um lanchinho pra ela na bolsa. Puts, Aline cuidou tão bem de mim naquelas quatro semanas e eu não levei um lanche. Aquilo me doeu. Ela nem sabe disso, vai descobrir agora kkkk, mas eu fiquei pensando sobre quem cuida de quem cuida da gente.

A convivência com Aline me ensinou muitas coisas. Ela é muito assertiva. Sabe se comunicar bem. Sabe praticar a sororidade, livrou umas meninas alemãs de uns babacas na balada. Mas, também nos metemos em umas frias. Ficamos presas num táxi que nos cobrou mais do que devia e nos passaram a perna num mercado no centro. E mudando de assunto rápido: só comprem lembrancinhas, panos, tudo em Martins, um moçambicano que fica no mercado da Long Street.

Mas, voltando a Aline, eu precisei fazer um capítulo sobre ela porque ultimamente Deus vem me dizendo muitos nãos (ou espere mais um pouco, como aprendemos na igreja rs). Aline foi uma das poucas respostas positivas que eu tive de Deus em 2023. Ele me deu exatamente o que eu pedi. E, cara, tiveram coisas que eu só poderia viver com ela e que bom que eu vivi com ela.

Uma delas foi a nossa visita ao Gold Restaurant. Sim, um restaurante que é controlado por uma pessoa branca e que foi feito pra tirar dinheiro de turista. E eu bem fui lá, né, gastar os poucos rands que eu tinha. Bom, acontece que acabamos puxando papo com Chris, o garçom que nos atendeu, porque experimentamos um bolinho e era muito parecido com o nosso bolinho de chuva. Enquanto todo mundo ali estava fazendo outras coisas e vivendo outros momentos (e tudo bem por isso), eu e Aline estávamos emocionadas por comer algo em outro lado do mundo que era parecido com uma comida nossa. Nos emocionamos e Chris nos falou que iria trazer algo da cozinha só pra gente. Ele trouxe. Era um bolinho de abóbora frito. Como foi incrível me emocionar e ficar feliz com a minha colega de quarto comendo um doce. Só a gente sabe o quanto esses momentos abraçam toda a falta de referências que tivemos.

A verdade é que Aline me mostrou que, talvez, eu esteja orando errado. Mas, com toda certeza do mundo, ela me mostrou que Deus responde as minhas orações. Ele transformou tudo que eu pensei em uma pessoa. Aline é incrível. É jornalista, engraçada, de uma família de pessoas lindas e amorosas, faz um feijão preto só no alho e na cebola maravilhoso e também ama doramas. Ah, ela também é ótima descobrindo chocolates. Foi ela que achou um chocolatinho da Mondeléz que não é vendido no Brasil e que nos viciou. 

Nós fizemos passeios juntas, fretamos juntas kkkkk (eu sem sucesso algum), fomos a praia, nos sentamos numa tarde fria em Camps Bay pra tomarmos uns drinks, subimos afobadas a Table Mountain em um dia de sol e ficamos falando mal dos gringos fumantes e de uma carreata adolescente que estava a nossa frente, sentamos na porta de desconhecidos em Boo-kap, fizemos pose de pantera negra na Long March Freedom, sentamos nos bancos que os ratos passam no jardim do centro, fizemos compras no Canal Walk, vimos pinguins, comemos uns biscoitinhos deliciosos em Simon's Town, comemos comida de café da manhã no almoço, experimentamos comida ruim, descemos parte da estrada da Signal Hill andando e com medo de sermos assaltadas...

É muito bom ser feliz ao lado de pessoas que a gente sabe que são parecidas conosco. Foi muito bom viver e sentir Cidade do Cabo ao lado de Aline. Duas mulheres negras, cada uma com seus problemas, mas também com suas felicidades, vontades, sendo felizes. O que nós vivemos foi muito revolucionário porque fomos felizes. 

Que incrível foi viver na Adderley Street com Aline.

Aline, eu e você fomos muito felizes. Tô me segurando pra não chorar porque a revolução de felicidade que você fez na minha vida foi algo incrível, minha amiga. Muito obrigada por ter entrado na minha vida. Eu não fiz safári, eu não pulei de bungee jump e nem achei um marido rico. Mas, eu conheci você. Eu tive você.

Muito obrigada, minha amiga.

Muito obrigada, minha amiga

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Um Extraordinário ordinário: Meus Dias na África do SulOnde histórias criam vida. Descubra agora