X - Borburinho Parte II

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Assim que a porta se abriu revelando quem habitava o quarto, um grande arrepio desceu pelas costas de Jane, fazendo-lhe arrepiar todos os pelos do braço. Aquilo... Aquilo era uma criança! Uma garotinha! Bem, ou pelo menos, era uma garotinha. Havia algo nela que deixava claro para Janie que de fato, não estava viva. Poderiam ser, talvez os olhos esverdeados – Eles brilhavam. E não era um brilho convencional, era diferente, como se eles entrassem dentro de sua alma. Mesmo com tal inocência da garotinha, dava para se perceber uma certa mágoa dentro de si, dentro de seus olhos...

— Desculpe te acordar, Sally, querida... – Sadie afagou a cabeça da garotinha, que deu um inocente bocejo.

— O tiu Splendy tá me chamando? – Questionou a menina, enquanto esfregava seus olhos verde esmeralda com um ar de sonolência.

— Na verdade sim, mas... A Janie aqui – Kagekao empurrou a jovem, que se segurava ao máximo para não tremer e dava um sorriso nervoso – Está brincando de esconde esconde com o tiu Splendy, e como você é a melhor jogadora, ela queria que você ensinasse pra ela.

Oh, aquelas palavras foram o bastante. Como se tomasse cafeína, a garotinha se animou, nem parecia mais estar com sono. Saltitando na ponta dos delicados pezinhos danificados por arranhões, a garotinha pegou na mão de Janie. Suas mãos eram extremamente geladas, assim como as de um cadáver, – Até dava a Janie a impressão de que ela era a única daquele lugar viva – percebia-se como as pequenas mãos da garota eram ásperas, estando remendadas com adesivos coloridos de bichinhos.

— Eu sei todos os pontos fracos do tiu Splendy! Você vai vencer o esconde escond... – A testa da garotinha começou a sangrar. Sally tentava olhar para o sangue escorrendo, com uma cara meio boba. A jovem ficou extremamente aterrorizada, tentando tirar a mão de Sally da sua, porém, a pequenina era mais forte do que parecia.

— Oh, não fique com medo disso. As vezes sangra... – Sadie se agachou e limpou a testa da garotinha com um paninho – É que... Antes de falecer ela foi acertada na testa.

— A-Aconteceu muita coisa com ela, n-né?

— Sim... Tente não tocar no assunto. Bem, vamos indo agora, Sally, você está responsável por não deixar que o tiu Splendy encontre a nossa amiguinha!

— Espera, mas, eu quero ver o Spl-

— Okay! – Com a mesma animação, Sally puxou Janie para seu quarto e bateu a porta. O que poderia dar errado?

"Tá, agora você vai lá." Dizia Offenderman para Toby, enquanto empurrava o jovem para o matagal. O garoto segurava em suas mãos seu precioso machado enquanto fazia cara de emburrado.

— V-Você n-nã-ão me d-diz o que fazer. Seu merda.

— Caramba, incrível como você não sabe falar direito, mas na hora de ofender você é simplesmente incrível, nossa, parabéns. – A criatura batia palmas com um óbvio ar de sarcasmo. – Agora vai logo lá. Finge que tá triste e que precisa de terapia. O que sinceramente não vai ser tão difícil com essa sua cara aí... Hehehe. – Toby o olhou com um certo desgosto. — Não me olhe assim e vai logo, pirralho-emo-nojento-seboso.

Contra sua própria vontade, Toby teve permissão de entrar naquela floresta particular. Alguns passos a frente apenas e já não se via mais Offenderman lá trás. Ouvia-se apenas o barulho do riacho, via-se apenas os troncos de árvore quando se aproximava bastante. Podia-se também sentir o aroma de mato molhado, era forte e de certa forma nostálgico. Não era a primeira vez do garoto andando por um local assim, conhecia bem aquela névoa pesada e não se assustava mais com os barulhos noturnos, pois, a final, não se tem medo de nada quando você é a ameaça noturna no meio da floresta.

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