Minir e Dimir

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Assim como ele havia dito, não tive ajuda alguma para conseguir mais comida, no entanto, mesmo depois de enroscar o graveto em meio aos galhos e quase arrebentar as tiras consegui pegar frutas o suficiente. Nunca havia experimentado ou sequer visto algo do tipo, a casca amarela era lisa como a de mangas, no entanto, a textura da polpa branca lembrava a melancias enquanto o sabor era idêntico ao de laranjas. Doce, cítricas e refrescantes. Comi até sentir a barriga doer, guardei o restante para mais tarde e me deitei em meio às raízes de uma árvore bem próxima à caverna escura. O dia estava quente, mas a sombra conseguia deixar o clima fresco enquanto uma brisa morna acariciava meu rosto.

—Gostaria de mais uma? — ofereci uma fruta maior que a minha mão — Você também deve estar com muita fome.

Isso se ele é capaz de sentir fome...

Imaginei quantos anos deveria ter ficado sem comer, preso naqueles túneis escuros e, principalmente, como ainda poderia estar vivo.

Não é humano.

Depois de um tempo com o braço estendido guardei a iguaria junto das outras me concentrando nos mosaicos de luz que brilhavam em meio às folhas.

Simples e lindo...

Pensei sentindo meus olhos pesarem quando uma voz quebrou o silêncio.

—Sua inteligência é tão discutível que comeu frutas na qual não conhece, quem lhe garante que não são venenosas e que morrerá em minutos?

—Se eu não comesse nada o destino seria o mesmo — bocejei — Se eu morrer pelo menos vou estar de barriga cheia — me virei acomodando a cabeça nas raízes — E se eu morrer você também vai junto porque comeu a mesma coisa.

—Não me compare a você, humana.

Sophie — outro bocejo — E você ainda não me disse seu nome.

—Não prometi nada.

—Nem discordou — fechei os olhos sentindo a preguiça me invadir — E quem cala consente...

—Não vou te dizer meu nome.

—Eu inventarei um então...

Não escutei sua voz depois disso, e para ser sincera eu nem me importava, meu ego já havia sido massageado quando provei que conseguiria pegar as frutas e meu estômago parou de roncar, saber seu nome não era o principal objetivo.

Ainda posso inventar um apelido só para não chamá-lo de criatura.

Criatura era estranho e ofensivo, parecia que eu estava me referindo a um animal e não a uma pessoa. Mesmo que ele não fosse uma pessoa humana, não queria me referir a ninguém assim.

—Vejamos... que tal Tim, Bob, Mayck...

Ouvi um baixo grunhido mas ignorei.

—Claus, Jorge, Jorginho...

—Basta!

Indiferente a sua reação virei para o lado contrário, o sono me consumia aos poucos.

—Que seja, eu penso em alguma coisa depois...

Deixei a brisa acariciar minha pele e meus cabelos enquanto ouvia o som de cigarras e pássaros, não pensei em criaturas de dentes afiados e perigosas, nem em qualquer coisa estranha que aquele novo mundo tinha a me mostrar, simplesmente deixei aquela sensação de paz e tranquilidade me embalaram. Estava quase cochilando quando ouvi, distante, quase como um sussurro a mesma voz amargurada chegar aos meus ouvidos.

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Onde histórias criam vida. Descubra agora