A estranha loja

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Andando na carroça era difícil ter a real dimensão do quão grande e bonito aquele reino conseguia ser, mas conforme avançamos pelas ruas, coisas fantásticas surgiam a cada esquina enchendo nossos olhos.

—Veja Eylef!

Gigantescas bolhas flutuavam sobre as fontes d'água subindo em direção ao céu. Cobalto saltava de um lado para o outro estourando enquanto eu observava os círculos translúcidos refletindo as cores do arco-íris.

—Se continuar assim por mais tempo vai ficar com torcicolo.

—Não tem problema — fiz uma pausa — Elas são lindas, não acha?

—Não, não acho.

Eylef passou por mim e mesmo dizendo que não se importava vi quando ele desviou das bolhas tomando o máximo de cuidado para não estourar nenhuma.

A quem você quer enganar?

Sorrindo, corri atrás dele com o cachorro azul no meu encalço.

Passamos por várias praças, fontes e memoriais com estátuas de mármore onde uma pessoa metade mulher e metade peixe erguia um tridente em direção ao céu. Olhei curiosa para a imagem me lembrando de ter visto algo parecido no reino de Outono.

—O que vamos fazer agora? — Desviei os olhos da estátua para a raposa — Daila nos disse para encontrar um sábio, mas não achamos ninguém assim.

Eylef parou ao lado de uma fonte. A água cristalina subia em direção ao céu respingando em nós três.

—Provavelmente a rocha de mais cedo seja a resposta.

—A rocha?

—Sim.

O encarei com desdém.

—O sábio é uma pedra?

Dessa vez foram os olhos de prata que se voltaram para mim.

—Depois de tudo o que viu ainda acha esse tipo de coisa impossível?

Ele tem razão...

—De qualquer forma, isso não nos ajuda muito.

Eylef se afastou um pouco, uma das mãos sob o queixo enquanto contemplava o céu.

—O coração do oceano se encontra no coração do rei...

O ouvi sussurrar.

Com os pés cansados, sentei na beira da fonte me refrescando com a brisa gelada.

—Quer dizer que temos que ir até o oceano e pegar o coração de um rei? — senti meu estômago embrulhar — Já aviso que não vou compactuar com nada desse tipo...

—É uma metáfora, a runa deve estar com alguém da realeza.

—Isso não é nenhuma novidade, algo tão poderoso não estaria em qualquer lugar, apesar de que... bom, como vamos conseguir pegar uma runa se está sendo guardada por um rei?

—O primeiro passo já temos.

Eylef olhou para mim por mais tempo que o normal.

—O que foi? — levantei — Não está querendo dizer que...

—Já temos os convites, agora só precisamos encontrar a runa.

Me dando as costas Eylef começou a ir em direção a praça enquanto eu o encarava de longe.

Fácil?!

O cachorro azul esfregou o focinho na minha mão, como se dissesse para seguir a raposa.

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Onde histórias criam vida. Descubra agora