Peixes do sonho e uma criatura horrenda

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  Por um bom tempo permaneci à beira do lago subterrâneo perdida em pensamentos que iam desde a criatura misteriosa até as pessoas que um dia considerei como amigas. Como estariam as coisas lá em cima? Será que Maria e Caio estavam bem? E o pequeno Vini, o pobrezinho já estaria ciente da morte do pai? Pensar nisso fez meu peito doer, uma criança não deveria passar por esse tipo de coisa. Mas eu sabia que a vida era injusta às vezes.

  Respirando fundo descansei o corpo no chão frio enquanto olhava para o negrume do teto, sentia saudades da luz e o calor do sol, as vozes animadas do comércio, as cores, os cheiros, a vida que eu levava antes.

Não fique pensando nisso...

Contive as lágrimas que ameaçavam cair segurando firme o colar que ainda pendia no meu pescoço, desde o primeiro dia que fui jogada nesse lugar não vi mais a luz que me guiou através das inúmeras passagens, talvez tudo não tivesse passado de um sonho, e com sorte eu ainda estaria presa em um, só esperando o momento certo de acordar.

Você sabe que isso é real...

Levei minha mão até o braço machucado sentindo ele doer.

Eu sei...

Antes que o sentimento desolador de desespero tomasse conta de mim me sentei enxugando os olhos com o dorso da minha mão boa, de nada adiantaria chorar, ao invés disso me coloquei de pé disposta a continuar minha exploração, porém, ao dar o primeiro passo escorreguei em uma pedra caindo com tudo nas águas congelantes do lago.

—Ah!Que frio!

Me arrastei de volta à margem espremendo o vestido encharcado.

Pelo menos posso dizer que ninguém viu isso...

—Eu não teria tanta certeza.

Dei um pulo ao escutar uma voz não muito distante.

—A quanto tempo está aí?!

Não tinha ouvido seus passos muito menos sentido sua presença.

—Tempo o bastante para ver esse vexame.

—"Vexame" — tentei imitar sua voz — Para alguém que passou tanto tempo aqui embaixo me surpreende que saiba usar esse tipo de palavra.

—Não sou nenhum ignorante, obviamente sei do que falo.

—Se você diz... — passei a mão pelo rosto afastando os fios grudados na minha testa — Aliás, consegue mesmo ver no escuro?

—Só percebeu agora? — ele parecia surpreso — Desatenta.

—Ei!Diferente de um certo alguém eu não tenho nenhuma capacidade mirabolante, então não venha implicar comigo por eu tropeçar no escuro.

De-sa-ten-ta.

Respirei fundo.

—Afinal, o que faz aqui?Imaginei que teria ido para algum outro lugar ficar irritado depois da última conversa.

—Não lhe devo explicações.

É claro que não... — revirei os olhos.

—Além de desatenta ainda é petulante, eu poderia matá-la por isso.

—Por tropeçar?

—Revirar os olhos!

—Hmn, devo me considerar com sorte então?

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Onde histórias criam vida. Descubra agora