Eudora

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 O suor frio escorria pelas minhas costas, queria gritar, me debater, mas era impossível, meu corpo não respondia. Na frente estava um homem, as costas largas viradas para mim enquanto observava alguma coisa adiante.

—Não queria que fosse desse jeito, mas é a sua função e você sabe disso, então obedeça a um último comando meu.

Senti um arrepio gélido subir pelo meu pescoço assim que ele se virou, o olhar vazio fixo em mim enquanto sua figura permanecia oculta nas sombras. Ao redor podia sentir uma forte onda de energia me chicoteando com força.

—Morra para que eu possa unificar Ywura!

Acordei em um salto com a respiração ofegante.

Foi um sonho...

Levei a mão ao peito como se ainda pudesse sentir o choque da energia vibrar pelo meu corpo. Parecia ter sido real, assustadoramente real.

—Moça!Moça!Você acordou!

Procurei ao redor até encontrar uma silhueta agachada, o dia não havia nascido mas já conseguia discernir o contorno dos móveis graças a fraca claridade.

—Como se sente?Precisa de alguma coisa?É só falar que eu pego!

—Eu estou bem — me sentei, cada músculo reclamando — Onde estamos?

—Em um casebre antigo...

Na penumbra observei a jovem se acomodar perto de mim, seus olhos emitiam um leve brilho azul.

—Ah sim, agora eu me lembro, e você?Como se sente?

—Viva, obrigada por ter me ajudado.

—Não foi nada...

—E seu ombro?Fiquei preocupada achando que não ia parar de sangrar...

Levei uma das mãos até o ferimento aberto, a aparência não era boa mas pelo menos a hemorragia foi estancada, eu podia cuidar do resto com algumas ervas.

—Vou ficar bem.

Um fraco sorriso moldou seus lábios.

—Aliás, me chamo Sophie.

—Eudora, pode me chamar de Eudora.

—É um nome muito bonito.

—O seu também, de onde eu venho Solfi, significa inteligência.

Acabei rindo.

—Conheço alguém que iria discordar.

Foi então que me dei conta, Eylef não estava ali.

Será que ele voltou durante a noite?Se machucou na cidade?Ou aqueles homens o pegaram?

Eudora, por acaso alguém apareceu enquanto eu dormia?

A vi se colocar de pé segurando um pedaço de madeira.

—Ninguém ousou colocar os pés aqui, mas não se preocupe, mesmo que alguém tivesse nos seguido eu iria defendê-la!

—Eu agradeço mas é que-

Antes que eu pudesse terminar ouvi a porta da frente abrir com um estrondo fazendo com que as paredes balançassem. Eudora colocou sua arma improvisada na frente do corpo e mesmo com as pernas bambas parecia pronta para atacar quando uma máscara surgiu.

Eylef!

Ele parecia cansado, as costas sempre retas estavam encurvadas enquanto o som de uma respiração ofegante ecoava pelo rosto da raposa. No beiral de madeira consegui ver os sulcos profundos que seus dedos fizeram, quase ao ponto de arrancar a porta das dobradiças.

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Onde histórias criam vida. Descubra agora