Feiticeira

83 18 3
                                    

4

  Voltei para casa com um misto de sentimentos martelando no meu peito, ainda lá no fundo me sentia mal, no entanto, imaginar que eu estaria trabalhando ao lado do Rafael animava um pouco as coisas. Desde que éramos pequenos brincávamos juntos, se não fosse por Carla e sua facilidade em se enturmar eu não teria feito nenhum amigo, afinal de contas eu era apenas uma órfã desconhecida que, por um acaso, havia chegado naquela cidade nos braços de uma mulher que muitos consideravam estranha. Com a cabeça nas nuvens cheguei em frente de casa sem me dar conta; na abóbada celeste o sol já estava se pondo quando cai na cama apagando em um sono sem sonhos.

   No dia seguinte acordei antes do galo cantar, sabia que os comerciantes madrugavam e não queria chegar atrasada no meu primeiro dia de trabalho, com o corpo ainda sonolento sai em direção as ruas ainda silenciosas até chegar a banca do sr. Abadia onde Rafael e outros dois rapazes organizavam uma caixa de maçãs.

—Espero não estar atrasada — disse fazendo com que Rafael olhasse na minha direção.

—Bom dia Sophie!Imagina, nós chegamos agora também.

Seu sorriso meigo fez minhas bochechas esquentarem, por sorte não estava claro o suficiente para que alguém pudesse ter notado.

—Eu posso ajudar com alguma coisa?

—Essas caixas são pesadas demais, pode deixar que o Lúcio e eu carregamos, mas tem algumas hortaliças lá no fundo que acho que você dá conta.

—Certo.

  Passamos um tempo organizando tudo até que o movimento começasse, depois de alguns minutos várias pessoas já estavam em frente a banca, algumas com cestos de vime nas mãos, outras com sacolas de pano.

—Bom dia, as frutas estão frescas?

—Sim senhora, foram colhidas e entregues ontem a noite.

  De canto de olho observei Rafael atender aos clientes que, na maioria das vezes, procuravam falar diretamente com ele, e eu entendia bem o motivo, seu charme era irresistível.

—Com licença mocinha, por acaso poderia separar alguns tomates para mim?

—É claro, gostaria de escolher enquanto eu encho sua cesta?

—Claro.

  O dia foi corrido, pessoas iam e vinham a todo instante, principalmente a tarde próximo ao horário de almoço, só consegui uma pausa quando Rafael e os outros puxaram uma cortina sobre a banca, era a nossa vez de fazer uma pausa.

—Aqui Sophie.

  Olhei para um pedaço de torta que Rafael me estendeu.

—Uau, obrigada!

—Acho que você vai gostar, é feita com mirtilos.

—Mirtilos?

—Sim.

  O vi apontar para umas bolinhas roxas que estavam em uma das caixas na banca.

—Ah!Aquilo, eu sempre me esqueço do nome.

—Vamos, experimente e me diga o que acha.

—Tudo bem.

  Sob o olhar atento dele dei uma boa mordida no pedaço de torta sentindo o sabor doce explodir na minha boca junto de uma acidez provavelmente responsável pelos mirtilos.

—Então?

—Eu adorei!Tem um gosto diferente.

—Fico feliz!

Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)Onde histórias criam vida. Descubra agora