10
A grama seca arranhava minha pele conforme eu deixava meus joelhos tocarem o chão.
Sim, é ela...
As lágrimas caiam em abundância enquanto eu admirava a lua brilhar alto no céu junto de várias estrelas. Aquela imagem ficaria marcada para sempre na minha memória assim como o sentimento inexplicável que inundava meu peito.
—Eu saí... — meu sorriso era de orelha a orelha — Eu consegui sair do poço!
Como uma criança ri e pulei de um lado para o outro ignorando as dores no meu corpo. Eu estava feliz, a sensação de liberdade incendiando minhas veias era maravilhosa.
—Viva!Viva!
—NÃO!NÃO É POSSÍVEL!
Ainda em êxtase pela tão desejada conquista de estar novamente em liberdade, dei um pulo ao ouvir aqueles berros.
—NÃO!NÃO!
Tentei procurar o responsável, no entanto, a escuridão da noite só me permitia ver uma silhueta debruçada sobre a relva lamentando profundamente por alguma coisa. Foi então que percebi que aquela voz era a mesma da misteriosa criatura que habitava o poço.
Ele também escapou...
Minha cabeça dizia para sair dali, dar as costas aos mistérios que rondavam aquela figura e viver minha liberdade, porém, contradizendo a mim mesma, deixei que meus pés me levassem até onde ele estava tornando os lamentos ainda mais altos.
—É você...não é? — perguntei mantendo uma certa distância — Nós conseguimos...saímos daquele...
—Inferno?! — a voz completou com um grunhido pouco antes de uma risada amarga surgir — Não!Você escapou!Mas eu continuo preso!Maldição!MALDIÇÃO!
Eu não fazia ideia do que ele queria dizer com aquilo mas me cortava a alma ver alguém em um estado tão lastimável.
—Tente ver o lado positivo...
Mais uma vez a risada.
—Lado positivo?!Não brinque comigo!Não há lado positivo!Eu ainda estou preso há um INFERNO!
Sem que eu esperasse sua silhueta saltou na minha direção em um ímpeto de raiva me fazendo dar um passo para trás e cair com tudo na grama.
—VÁ EMBORA!SUMA DAQUI!
Ignorando a dor me coloquei de pé. A noite estava fria e os ventos calmos, trazendo o aroma agreste das árvores e das flores do campo.
—E por acaso isso vai sumir com seus problemas?!E não pense que gritar comigo me assustou!
Encarei sua silhueta com determinação, por mais que minha cabeça continuasse insistindo para ir embora eu não conseguia deixar para trás o tão incômodo aperto no peito. Ele havia me salvado. E eu jamais esqueceria isso.
—Lá embaixo eu disse que não me arrependi das escolhas que fiz, mesmo que tenha sido condenada por elas! — cerrei os punhos enquanto berrava com convicção as palavras que me vinham à mente — Então eu só vou embora se eu quiser ir!E definitivamente eu não estou a fim de fazer isso agora!
Até porque eu encontrei um novo objetivo...
Senti algo tocar minha testa pouco antes de uma fraca chuva lavar meu rosto.
Ajudar quem me ajudou.
O som das gotas caindo preenchiam meus ouvidos. Eu continuava de pé, encarando a misteriosa figura em meio a grama enquanto o cheiro da chuva invadiu meu nariz. Pouco depois os lamentos cessaram e uma alta silhueta se colocou de pé bem à minha frente onde um belo par de olhos prateados cintilavam na escuridão.
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Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)
Fantasía"O monstro do poço" foi assim que Sophie o conheceu através das terríveis histórias que passaram de geração em geração, um lembrete a quem fosse esperto o suficiente para ouvir e acatar as ordens de quem detinha o poder, no entanto, quando ela mesma...